Antes de mais nada é preciso dizer que Rufus Wainwright é como aquela água tônica que você precisa se acostumar para apreciar ou, como disse um crítico inglês sobre o complicadíssimo filme russo Solaris: certas obras demandam um pouco mais de nossa dedicação e paciência, mas ao final, a recompensa é boa o bastante para você concluir que deveria fazer isso mais vezes.
Não que Rufus Wainwright seja tão hermético assim, suas canções tem influências de boa parte do melhor pop já feito, mas é preciso se acostumar com a voz de timbre operístico, as melodias não tão imediatas, as influências de jazz e da música americana pré rock'n'roll e de cabaré. Rufus também é abertamente gay e adora brincar com isso, muitas vezes assumindo uma persona quase caricata - o que diverte e afasta gente quase que na mesma proporção.
Isso talvez explique o Via Funchal semi-lotado, ainda mais quando se divulgou que seus shows seriam apresentados sem banda de apoio (engraçado era ver a fila enorme de fãs do RBD já acampados para o show que ia rolar no dia seguinte ? ele não fez nenhuma piada sobre isso, infelizmente).
Martha Wainwright
Definitivamente a família Wainwright é das mais talentosas da história da música. O pai de Rufus, Loudon Wainwright III, chegou a ser anunciado como um "novo" Bob Dylan nos anos 70. Não chegou a tanto, mas ele conseguiu certo sucesso de público e crítica em seus mais de 30 anos de carreira. Sua mãe Kate McGarrigle desde os anos 70 tem dupla com Anna, a tia dele, e também são muito respeitadas dentro da música de raíz americana (apesar de todos serem canadenses). Aos interessados vale conhecer ao menos o disco de estréia da dupla, o homônimo Kate & Anna McGarrigle.
Por último temos Martha Wainwright a irmã caçula que também tomou o avião para o Brasil (ao lado da mãe e de seu marido Brad Albett) para abrir os shows do mano mais famoso.
O segundo disco de Martha acabou de sair, mas já estava dando sopa na rede há alguns dias. A crítica é só elogios e ela tem tudo pra fazer sucesso. Assim como a música do irmão o som não é tão imediato e a influência de cantoras ditas "excêntricas" como Kate Bush e principalmente Mary Margaret O'Hara podem ser sentidas. Isso em disco e com banda. Em São Paulo acompanhada por seu violão (com ocasionais intervenções ao piano de Kate e do contra-baixo acústico de Albetta), a música de Martha é mais simples, o que deve ter feito muita gente pensar que era ela apenas mais uma entre tantas cantoras e compositoras (ainda que com uma voz bem mais abençoada que a da concorrência).
A estrela
Terminado o aperitivo, o prato principal da noite abriu o concerto com Grey Gardens (do segundo disco, Poses). Nas quase duas horas seguintes, Wainwright mostrou um pouco do que andou fazendo nos últimos dez anos (apenas o disco Want One não foi lembrado). As canções com maior apelo pop formaram o grosso do repertório, como as ótimas California, Sanssouci e The Art Teacher.
O aceno ao Brasil veio com algumas músicas mais animadas (ou "carnavalescas" em suas palavras) e quando mamãe Kate voltou ao palco para cantar (em português razoável) "Manhã de Carnaval" de uíz Bonfá,
Mas a noite era mesmo de Rufus que contou histórias, pediu pra ser chamado de Estella de Um Bonde chamado desejo (e que nós na platéia éramos todos Marlon Brando) e levou a platéia na mão mesmo quando esqueceu algumas letras ou acordes.
O cantor aproveitou para mostrar algumas canções que estava compondo (As duas: Who Are You NY e Zebulon ainda precisam ser mais buriladas, mas mostram que ele continua em boa rota) e emocionou ao cantar no bis Over the Rainbow (presente no recente disco em tributo a Judy Garland) e Hallelujah (que está na trilha de Shrek). Ali ele e sua irmã fizeram justiça à composição de Leonard Cohen (que também deve tocar no Brasil esse ano) e principalmente à versão definitiva de Jeff Buckley.
Foolish Love de 1998 encerrou o show. "Egocêntrico que sou após uma música de Judy Garland e outra de Leonard Cohen eu só poderia encerrar com uma canção minha" brincou antes de deixar o palco pela última vez.
No todo Rufus Wainwright segurou bem a onda de um show sem acompanhamento, mas não dá pra negar, que a vontade de vê-lo com uma grande banda ou mesmo uma orquestra só aumentou. Fica a torcida.
Não que Rufus Wainwright seja tão hermético assim, suas canções tem influências de boa parte do melhor pop já feito, mas é preciso se acostumar com a voz de timbre operístico, as melodias não tão imediatas, as influências de jazz e da música americana pré rock'n'roll e de cabaré. Rufus também é abertamente gay e adora brincar com isso, muitas vezes assumindo uma persona quase caricata - o que diverte e afasta gente quase que na mesma proporção.
Isso talvez explique o Via Funchal semi-lotado, ainda mais quando se divulgou que seus shows seriam apresentados sem banda de apoio (engraçado era ver a fila enorme de fãs do RBD já acampados para o show que ia rolar no dia seguinte ? ele não fez nenhuma piada sobre isso, infelizmente).
Martha Wainwright
Definitivamente a família Wainwright é das mais talentosas da história da música. O pai de Rufus, Loudon Wainwright III, chegou a ser anunciado como um "novo" Bob Dylan nos anos 70. Não chegou a tanto, mas ele conseguiu certo sucesso de público e crítica em seus mais de 30 anos de carreira. Sua mãe Kate McGarrigle desde os anos 70 tem dupla com Anna, a tia dele, e também são muito respeitadas dentro da música de raíz americana (apesar de todos serem canadenses). Aos interessados vale conhecer ao menos o disco de estréia da dupla, o homônimo Kate & Anna McGarrigle.
Por último temos Martha Wainwright a irmã caçula que também tomou o avião para o Brasil (ao lado da mãe e de seu marido Brad Albett) para abrir os shows do mano mais famoso.
O segundo disco de Martha acabou de sair, mas já estava dando sopa na rede há alguns dias. A crítica é só elogios e ela tem tudo pra fazer sucesso. Assim como a música do irmão o som não é tão imediato e a influência de cantoras ditas "excêntricas" como Kate Bush e principalmente Mary Margaret O'Hara podem ser sentidas. Isso em disco e com banda. Em São Paulo acompanhada por seu violão (com ocasionais intervenções ao piano de Kate e do contra-baixo acústico de Albetta), a música de Martha é mais simples, o que deve ter feito muita gente pensar que era ela apenas mais uma entre tantas cantoras e compositoras (ainda que com uma voz bem mais abençoada que a da concorrência).
A estrela
Terminado o aperitivo, o prato principal da noite abriu o concerto com Grey Gardens (do segundo disco, Poses). Nas quase duas horas seguintes, Wainwright mostrou um pouco do que andou fazendo nos últimos dez anos (apenas o disco Want One não foi lembrado). As canções com maior apelo pop formaram o grosso do repertório, como as ótimas California, Sanssouci e The Art Teacher.
O aceno ao Brasil veio com algumas músicas mais animadas (ou "carnavalescas" em suas palavras) e quando mamãe Kate voltou ao palco para cantar (em português razoável) "Manhã de Carnaval" de uíz Bonfá,
Mas a noite era mesmo de Rufus que contou histórias, pediu pra ser chamado de Estella de Um Bonde chamado desejo (e que nós na platéia éramos todos Marlon Brando) e levou a platéia na mão mesmo quando esqueceu algumas letras ou acordes.
O cantor aproveitou para mostrar algumas canções que estava compondo (As duas: Who Are You NY e Zebulon ainda precisam ser mais buriladas, mas mostram que ele continua em boa rota) e emocionou ao cantar no bis Over the Rainbow (presente no recente disco em tributo a Judy Garland) e Hallelujah (que está na trilha de Shrek). Ali ele e sua irmã fizeram justiça à composição de Leonard Cohen (que também deve tocar no Brasil esse ano) e principalmente à versão definitiva de Jeff Buckley.
Foolish Love de 1998 encerrou o show. "Egocêntrico que sou após uma música de Judy Garland e outra de Leonard Cohen eu só poderia encerrar com uma canção minha" brincou antes de deixar o palco pela última vez.
No todo Rufus Wainwright segurou bem a onda de um show sem acompanhamento, mas não dá pra negar, que a vontade de vê-lo com uma grande banda ou mesmo uma orquestra só aumentou. Fica a torcida.