Por Leandro Saueia
Vagalume - 30 de Abril 2008
A Virada Cultural chegou à sua quarta edição ainda mais ambiciosa. isso quer dizer, mais atrações, mais palcos, mais opções e, óbvio, menos tempo e pernas pra assistir tudo o que se quer. Como fizemos no ano passado tentamos acompanhar o maior número possível de shows. Agora você acompanha a equipe do Vagalume por (quase) tudo de bom que rolou nos dias 26 e 27 de abril.
Luiz Melodia
Como no ano passado a ideia de chamar músicos para tocar seus álbuns na ordem foi mantida (ainda que um ou outro artista não tenha seguido o roteiro esperado). O primeiro show marcante da noite aconteceu logo às 18 horas quando Luiz Melodia subiu ao palco do Teatro Municipal para cantar todas as faixas do fundamental "Pérola Negra" de 1973.
Melodia tocou todas as dez músicas do álbum acompanhado por um quarteto que reproduziu de forma bastante fiel os arranjos originais (a exceção foi "Forró de Janeiro" que ganhou um clima de reggae. Luiz começou mais comedido, mas logo soltou a voz.
Para o bis ele cantou músicas mais recentes como "Cuidando de Você" e curiosamente deixou de fora "Juventude Transviada", sue maior sucesso.
Fim de show e a vontade era a de pegar o fim da apresentação do Terço com sua formação clássica no Palco Rock. Não foi possível, mas deu pra ver um pouco do Terreno Baldio e seu rock progressivo inspirado em Gentle Giantartista### e Van der Graaf, que não é para todos ouvidos. Difícil saber o que a multidão de camisas pretas, quee stavam ali pelas bandas mais pesadas achou do som do grupo (cheio de passagens instrumentais e andamentos truncados), mas ao menos os cabelos brancos dos músicos foram respeitados (a banda surgiu em 1974 e se reagrupou há alguns anos).
Gal Costa
Às nove da noite Gal Costa subiu ao Palco Principal. Acompanhada apenas do violonista Luis Meira, a cantora estava bem-humorada e jogou para a plateia, cantando vários de seus muito sucessos acumulados em 40 anos de carreira. Entre os destaques "Divino Maravilhoso", "", "Vapor Barato e "Folhetim". Além de hits dos anos 80 como "Azul e "Festa do Interior. Para terminar dois afagos ao público paulistano: "Trem Das Onze" (com uma derrapadinha na letra: "não posso ficar nem mais um minuto SEM você") e uma "Sampa" tocada no improviso e com a ajuda do público.
Sá Rodrix E Guarabyra
É difícil explicar a emoção de ver ao vivo Sá Rodrix e Guarabyra tocando o disco "Passado, Presente e Futuro" de 1972. Primeiro porque é legal ver que hoje as músicas do trio podem ser aproveitadas pela nova geração sem aquele papo de "música de fogueira" que afastou muita gente do som deles e de tantos outros artistas talentosos.
Fora que num mundo onde palavras como folk, country rock ou alt-country são sinônimos de música instigante, essas canções, com 35 anos ou mais, hoje soam atuais. Vai ver que a hora de desbundar e cair na estrada novamente está chegando.
A apresentação do trio foi luxuosa, com direito a cordas e naipe de metais. Fora a chance de ouvir músicas que jamais haviam sido apresentadas ao vivo como "Zepelin" (que por via das dúvidas eles a tocaram duas vezes caso não haja mais outra oportunidade de tocá-la em shows). Mais do que tudo o show serviu para deixar clara a genialidade de Zé Rodrix, responsável por várias das composições e também pelos arranjos da época, muito bem reproduzidos pelos músicos atuais, e a falta que ele estava fazendo no nosso cenário.
Paul Di'Anno e Som Nosso de Cada dia
Com a madrugada a toda e as energias indo embora o negócio era circular um pouco. No palco rock o eterno ex-vocalista do Iron Maiden, Paul Di'Anno fazia a alegria dos metaleiros com hits de sua antiga banda e algumas de sua carreira solo. Foi provavelmente o show mais selvagem de todo o evento, com gente tentando invadir a área de imprensa e até o palco. Di'Anno em nada se parece com o cara que víamos nos discos e vídeos nos anos 80: está gordo e com um cavanhaque gigante. Mas continua simpático e com a voz ainda aceitável. De qualquer forma o Iron Maiden por aqui é uma religião. Assim, mesmo a ovelha que deixou o rebanho (ou foi forçada a deixar) é tratada como divindade.
Antes do sono tomar conta de vez pudemos conferir uma rara apresentação do Som Nosso de Cada Dia, tocando o clássico do progressivo nacional Snegs (1974). O genial (e genioso) multi-instrumentista Manito com uma capa prateada e o baixista Pedro Baldanza da formação original tocaram com outros cinco músicos que se esforçaram bastante para que tudo soasse como na época.
Claro que o som da banda é um tanto datado e os problemas técnicos (não se sabe se reais ou frutos da paranoia do Manito) atrapalharam um pouco. Mas nem toda música precisa ser exatamente atemporal e saber curtir coisas presas a um certo período de tempo/espaço também é um exercício fundamental.
Já para a plateia, claramente em êxtase, isso nem importava. Cada solo de Moog era aplaudido veementemente e gritos como "esse é o verdadeiro rock progressivo" podiam ser ouvidos.
Cachorro Grande
Depois de algumas horas de sono (necessárias e responsáveis pela não cobertura de alguns shows que muito prometiam como o de Pepeu Gomes relembrando seus anos de rock instrumental e a sensação teen Mallu Magalhães) era a hora de continuar a maratona.
Com o sol brilhando e a cabeça quente, encarar o Cachorro Grande ao lado de umas cervejas soava como uma boa pedida. A banda fez o de sempre, mas cabe lembrar que a plateia influencia, e muito, no desempenho de quem está no palco. Óbvio que uma multidão de adolescentes doidos pra pular e um exército de garotinhas berrando o nome da banda ajudaram para que o show saísse cru e (ainda mais) suado.
Orquestra Imperial
Logo depois era a hora de conferir a tão falada Orquestra Imperial. Formada meio de brincadeira por músicos da nova geração carioca, entre eles Rodrigo Amarante, Talma de Freitas e Kassin (aqui substituído pelo onipresente Dadi), para tocar marchinhas e sambas clássicos, a Orquestra Imperial cresceu (de tamanho e importância) e partiu para voos maiores.
Os bailes feitos pela turma no Rio são sempre bem falados, com a plateia fantasiada, confete, serpentina e participações especiais (a ideia é a de que qualquer um pode ser membro em determinada ocasião). Na Virada o show pareceu funcionar mais para quem já conhecia as músicas (incluindo as divertidas Ereção e Artista é O Caralho) do que para o povão. Resumindo: tente assisti-los em uma outra oportunidade e em condições mais favoráveis (já que os problemas de som também fizeram o clima esfriar, mesmo que rendendo boas piadas dos integrantes).
Lobão e Simoninha
A tarde ia acabando mas ainda deu pra assistir trechos de Lobão que fez show baseado no Acústico MTV, com uma banda mais enxuta e muitas canções raras, como "Robô" de seu primeiro disco, além dos eternos hits "Me Chama", "Noite e Dia" e "Vida Louca Vida") e de Simoninha (ao lado de seu irmão Max de Castro) em tocante homenagem ao seu pai Wilson Simonal.
Vale dizer que 2008 deve mesmo ser o ano em que o velho Simonal finalmente vai ser "absolvido" após anos de esquecimento e ostracismo que ajudaram, e muito, a causar sua morte precoce. Além do belo trabalho feito pelos seus filhos, vem aí "Ninguém Sabe o Duro Que Dei", documentário dirigido pelo Casseta Claudio Manuel com estreia prevista para o segundo semestre.
Ultraje a Rigor
Fechando o palco rock o Ultraje a Rigor fez o seu show de sempre, ou seja, não tocou o disco "Nós Vamos Invadir Sua Praia" na íntegra e na ordem, como a programação dizia. Para compensar mandaram Pelado, Sexo (com brincadeira em cima do MC Créu), Filha da Puta, Nada a Declarar e várias outras.
Isso quer dizer que "apenas" oito das onze músicas do clássico disco foram tocadas. Acrescidos de vocalista, tecladista e de Manito (ele mesmo, que já tinha tocado antes com o Som Nosso de cada Dia) o grupo carregou no peso e até a área de imprensa ficou intransitável. Descontando as desnecessárias covers de Ramones e Black Sabbath e a jam interminável que precedeu Marylou na volta para o bis, a banda encerrou muito bem a maratona.
Vagalume - 30 de Abril 2008
A Virada Cultural chegou à sua quarta edição ainda mais ambiciosa. isso quer dizer, mais atrações, mais palcos, mais opções e, óbvio, menos tempo e pernas pra assistir tudo o que se quer. Como fizemos no ano passado tentamos acompanhar o maior número possível de shows. Agora você acompanha a equipe do Vagalume por (quase) tudo de bom que rolou nos dias 26 e 27 de abril.
Luiz Melodia
Como no ano passado a ideia de chamar músicos para tocar seus álbuns na ordem foi mantida (ainda que um ou outro artista não tenha seguido o roteiro esperado). O primeiro show marcante da noite aconteceu logo às 18 horas quando Luiz Melodia subiu ao palco do Teatro Municipal para cantar todas as faixas do fundamental "Pérola Negra" de 1973.
Melodia tocou todas as dez músicas do álbum acompanhado por um quarteto que reproduziu de forma bastante fiel os arranjos originais (a exceção foi "Forró de Janeiro" que ganhou um clima de reggae. Luiz começou mais comedido, mas logo soltou a voz.
Para o bis ele cantou músicas mais recentes como "Cuidando de Você" e curiosamente deixou de fora "Juventude Transviada", sue maior sucesso.
Fim de show e a vontade era a de pegar o fim da apresentação do Terço com sua formação clássica no Palco Rock. Não foi possível, mas deu pra ver um pouco do Terreno Baldio e seu rock progressivo inspirado em Gentle Giantartista### e Van der Graaf, que não é para todos ouvidos. Difícil saber o que a multidão de camisas pretas, quee stavam ali pelas bandas mais pesadas achou do som do grupo (cheio de passagens instrumentais e andamentos truncados), mas ao menos os cabelos brancos dos músicos foram respeitados (a banda surgiu em 1974 e se reagrupou há alguns anos).
Gal Costa
Às nove da noite Gal Costa subiu ao Palco Principal. Acompanhada apenas do violonista Luis Meira, a cantora estava bem-humorada e jogou para a plateia, cantando vários de seus muito sucessos acumulados em 40 anos de carreira. Entre os destaques "Divino Maravilhoso", "", "Vapor Barato e "Folhetim". Além de hits dos anos 80 como "Azul e "Festa do Interior. Para terminar dois afagos ao público paulistano: "Trem Das Onze" (com uma derrapadinha na letra: "não posso ficar nem mais um minuto SEM você") e uma "Sampa" tocada no improviso e com a ajuda do público.
Sá Rodrix E Guarabyra
É difícil explicar a emoção de ver ao vivo Sá Rodrix e Guarabyra tocando o disco "Passado, Presente e Futuro" de 1972. Primeiro porque é legal ver que hoje as músicas do trio podem ser aproveitadas pela nova geração sem aquele papo de "música de fogueira" que afastou muita gente do som deles e de tantos outros artistas talentosos.
Fora que num mundo onde palavras como folk, country rock ou alt-country são sinônimos de música instigante, essas canções, com 35 anos ou mais, hoje soam atuais. Vai ver que a hora de desbundar e cair na estrada novamente está chegando.
A apresentação do trio foi luxuosa, com direito a cordas e naipe de metais. Fora a chance de ouvir músicas que jamais haviam sido apresentadas ao vivo como "Zepelin" (que por via das dúvidas eles a tocaram duas vezes caso não haja mais outra oportunidade de tocá-la em shows). Mais do que tudo o show serviu para deixar clara a genialidade de Zé Rodrix, responsável por várias das composições e também pelos arranjos da época, muito bem reproduzidos pelos músicos atuais, e a falta que ele estava fazendo no nosso cenário.
Paul Di'Anno e Som Nosso de Cada dia
Com a madrugada a toda e as energias indo embora o negócio era circular um pouco. No palco rock o eterno ex-vocalista do Iron Maiden, Paul Di'Anno fazia a alegria dos metaleiros com hits de sua antiga banda e algumas de sua carreira solo. Foi provavelmente o show mais selvagem de todo o evento, com gente tentando invadir a área de imprensa e até o palco. Di'Anno em nada se parece com o cara que víamos nos discos e vídeos nos anos 80: está gordo e com um cavanhaque gigante. Mas continua simpático e com a voz ainda aceitável. De qualquer forma o Iron Maiden por aqui é uma religião. Assim, mesmo a ovelha que deixou o rebanho (ou foi forçada a deixar) é tratada como divindade.
Antes do sono tomar conta de vez pudemos conferir uma rara apresentação do Som Nosso de Cada Dia, tocando o clássico do progressivo nacional Snegs (1974). O genial (e genioso) multi-instrumentista Manito com uma capa prateada e o baixista Pedro Baldanza da formação original tocaram com outros cinco músicos que se esforçaram bastante para que tudo soasse como na época.
Claro que o som da banda é um tanto datado e os problemas técnicos (não se sabe se reais ou frutos da paranoia do Manito) atrapalharam um pouco. Mas nem toda música precisa ser exatamente atemporal e saber curtir coisas presas a um certo período de tempo/espaço também é um exercício fundamental.
Já para a plateia, claramente em êxtase, isso nem importava. Cada solo de Moog era aplaudido veementemente e gritos como "esse é o verdadeiro rock progressivo" podiam ser ouvidos.
Cachorro Grande
Depois de algumas horas de sono (necessárias e responsáveis pela não cobertura de alguns shows que muito prometiam como o de Pepeu Gomes relembrando seus anos de rock instrumental e a sensação teen Mallu Magalhães) era a hora de continuar a maratona.
Com o sol brilhando e a cabeça quente, encarar o Cachorro Grande ao lado de umas cervejas soava como uma boa pedida. A banda fez o de sempre, mas cabe lembrar que a plateia influencia, e muito, no desempenho de quem está no palco. Óbvio que uma multidão de adolescentes doidos pra pular e um exército de garotinhas berrando o nome da banda ajudaram para que o show saísse cru e (ainda mais) suado.
Orquestra Imperial
Logo depois era a hora de conferir a tão falada Orquestra Imperial. Formada meio de brincadeira por músicos da nova geração carioca, entre eles Rodrigo Amarante, Talma de Freitas e Kassin (aqui substituído pelo onipresente Dadi), para tocar marchinhas e sambas clássicos, a Orquestra Imperial cresceu (de tamanho e importância) e partiu para voos maiores.
Os bailes feitos pela turma no Rio são sempre bem falados, com a plateia fantasiada, confete, serpentina e participações especiais (a ideia é a de que qualquer um pode ser membro em determinada ocasião). Na Virada o show pareceu funcionar mais para quem já conhecia as músicas (incluindo as divertidas Ereção e Artista é O Caralho) do que para o povão. Resumindo: tente assisti-los em uma outra oportunidade e em condições mais favoráveis (já que os problemas de som também fizeram o clima esfriar, mesmo que rendendo boas piadas dos integrantes).
Lobão e Simoninha
A tarde ia acabando mas ainda deu pra assistir trechos de Lobão que fez show baseado no Acústico MTV, com uma banda mais enxuta e muitas canções raras, como "Robô" de seu primeiro disco, além dos eternos hits "Me Chama", "Noite e Dia" e "Vida Louca Vida") e de Simoninha (ao lado de seu irmão Max de Castro) em tocante homenagem ao seu pai Wilson Simonal.
Vale dizer que 2008 deve mesmo ser o ano em que o velho Simonal finalmente vai ser "absolvido" após anos de esquecimento e ostracismo que ajudaram, e muito, a causar sua morte precoce. Além do belo trabalho feito pelos seus filhos, vem aí "Ninguém Sabe o Duro Que Dei", documentário dirigido pelo Casseta Claudio Manuel com estreia prevista para o segundo semestre.
Ultraje a Rigor
Fechando o palco rock o Ultraje a Rigor fez o seu show de sempre, ou seja, não tocou o disco "Nós Vamos Invadir Sua Praia" na íntegra e na ordem, como a programação dizia. Para compensar mandaram Pelado, Sexo (com brincadeira em cima do MC Créu), Filha da Puta, Nada a Declarar e várias outras.
Isso quer dizer que "apenas" oito das onze músicas do clássico disco foram tocadas. Acrescidos de vocalista, tecladista e de Manito (ele mesmo, que já tinha tocado antes com o Som Nosso de cada Dia) o grupo carregou no peso e até a área de imprensa ficou intransitável. Descontando as desnecessárias covers de Ramones e Black Sabbath e a jam interminável que precedeu Marylou na volta para o bis, a banda encerrou muito bem a maratona.