Iggy Azalea - The New Classic
Apesar de estar há muito globalizado e bem longe de suas origens nos guetos americanos, ainda é meio normal encontrar certa desconfiança no mundo do hip-hop com rappers que fujam dos padrões preestabelecidos.
Iggy Azalea por exemplo, é uma louríssima jovem nascida na Austrália, que também trabalha como modelo. Ainda assim ela conseguiu vencer nos mercados mais importantes do planeta e provou que o talento consegue vencer barreiras de raça, gênero ou nacionalidade.
Azalea está com 23 anos e mora nos EUA desde os 16, onde certamente aprendeu bastante. "The New Classic" é um ótimo disco de rap, com boas pitadas de pop e dance music que mostra que as apostas que muitos depositaram nela se confirmaram.
É só lembrar em 2012 a XXL, a conceituada revista que cobre o mundo do rap - colocou a cantora em sua capa com as "promessas do ano", a primeira vez que não só uma mulher, como alguém não nascido nos EUA, conseguiu tal feito.
"The New Classic" mostra que todo o barulho foi justificado. Azalea demonstra ter um excelente flow e ótimo tino para escolher seus produtores e colaboradores.
Ainda que a crítica tenha recebido o disco com reservas - o site Metacritic, que compila as resenhas dos principais veículos, diz que na média ele é um disco nota 6 - o público se mostrou mais receptivo (ele entrou no top 5 dos EUA e Grã Bretanha), o que nos faz crer que ainda iremos ouvir falar bastante de Azalea nos próximos meses.
Ouça "Fancy (feat. Charli Xcx)" presente no álbum "The New Classic".
Damon Albarn - Everyday Robots
Descontando discos de distribuição ultra-limitada ou a "ópera chinesa" lançada no ano passado, esse é o primeiro álbum solo "de verdade" de Damon Albarn, o vocalista do Blur e o cérebro por trás dos Gorillaz e de projetos como The Good The Bad And The Queen.
Se por um lado já era de se esperar um trabalho de teor pessoal, algo que se confirma com uma audição do trabalho, ao mesmo tempo vale notar que o disco não chega com a ideia de se fazer uma síntese de todas as facetas do polivalente artista.
Sendo assim, não esperem encontrar muito do pop luminoso do Blur dos anos 90 ou faixas dançantes influenciadas pelo hip-hop, que aqui o papo é bem diferente. "Everyday Robots", tem sim boas melodias, mas elas quase sempre estão embaladas em arranjos acústicos e de enorme melancolia - pensem nos dois últimos álbuns do Blur. Em outras músicas há uma proeminência de instrumentos eletrônicos, que adornam faixas mais experimentais.
Apesar deste ser daqueles discos que precisam ser ouvidos com calma e por algumas vezes para que suas músicas se revelem, nem tudo aqui é complicado. "Mr. Tembo", escrita para um elefante órfão que Albarn conheceu em um zoológico na Tanzânia, é simplesmente adorável. Outro grande destaque vai para a participação do grande artista e produtor Brian Eno, que fez vocais e co-produziu duas faixas do trabalho.
Bastante elogiado pela crítica estrangeira, ""Everyday Robots" certamente será lembrado quando as listas de melhores discos de 2014 forem publicadas. Para quem busca algo que exija um pouco mais do ouvinte, ele é uma ótima pedida.
Ouça "Mr. Tembo" com Damon Albarn presente no álbum "Everyday Robots"
Pixies - Indie Cindy
Entre 1987 e 1989 os Pixies atingiram um nível de perfeição raramente suplantado nos anos seguintes por quem quer que seja. A própria banda parece ter notado que jamais iria repetir o alto nível alcançado pelo primeiro EP e os dois LPs lançados nesse período e se separou depois de lançar mais dois discos um pouco inferiores.
A força do material encontrado em "C'Mon Pilgrim", "Surfer Rosa" e "Doolittle" é tão grande, que desde 2004, quando a banda retornou, ela basicamente só fez shows onde 90% do repertório vinha desses discos.
Dessa forma, os fãs pareciam estar convencidos que jamais iriam ouvir um novo disco da banda, já que o líder Black Francis, não se sentia confiante o bastante para compor para a banda, ainda que no período ele tenha lançado quase uma dezena de álbuns solo - todos pouco ouvidos.
Mas não é que, dez anos depois do retorno e 23 desde "Trompe Le Monde", o derradeiro trabalho, a banda gravou um novo álbum? Na verdade "Indie Cindy" junta em um só pacote os três EPs lançados entre o fim do ano passado e o início de 2014. A ausência sentida aqui é a da baixista Kim Deal, que sempre foi parte fundamental da sonoridade da banda, seja como instrumentista, ou, especialmente, como cantora de apoio.
Também, é desnecessário dizer que o álbum não faz frente aos tais discos clássicos citados no início desta resenha, mas isso não significa que o álbum seja ruim.
Na verdade, se compararmos o disco com boa parte da atual safra de indie rock, os quase cinquentões dos Pixies ainda conseguem se destacar. Afinal a voz de Francis segue como uma das mais peculiares da história do rock e o guitarrista Joey Santiago também continua excelente
A longo prazo é bem capaz que esse "Indie Cindy" seja esquecido, mas agora, em maio de 2014, ele é um trabalho digno que merece no mínimo ser ouvido. Para quem não os conhece muito bem, a dica, como já está claro, é depois daqui percorrer a discografia da banda em ordem inversa. Aí sim será possível entender por que tanta gente boa - o caso de Nirvana, Radiohead e até David Bowie- demonstrou publicamente sua admiração pela banda.
Ouça "Snakes" com os Pixies, presente no álbum "Indie Cindy"