E assim se passaram 50 anos desde que os Rolling Stones pisaram em um palco pela primeira vez. Não é à toa que a história da banda se confunde com a do rock, afinal é praticamente impossível encontrar algum artista que tenha surgido depois que não deva algo a eles, mesmo que muitas vezes eles nem percebam isso. Em resumo, os Rolling Stones foram pioneiros em tanta coisa que no final os títulos de cada um dos tópicos desse texto acabam aludindo a isso.
Hoje o Vagalume celebra esta data importante dando uma esmiuçada nessas cinco décadas da banda, lembrando as melhores histórias e dissecando os diversos momentos pelos quais eles passaram. Para a festa ficar completa é só colocar pra rolar a playlist mais que especial que preparamos para acompanhar a leitura. Bom Divertimento!
Os Primeiros Anos
Antes de formar uma das duplas mais lendárias de todos os tempos Mick Jagger e Keith Richards foram amigos de infância, isso no começo dos anos 50. O reencontro entre os antigos colegas de escola se deu já no final da década em uma daquelas histórias que mais parecem lenda. Segundo se conta, os dois se cruzaram em uma estação de trem. Jagger carregava nos braços uma série de álbuns de nomes do blues e rock'n'roll. Ao ver seu antigo amigo com aqueles álbuns de Muddy Waters e Chuck Berry, Keith logo foi lá puxar papo e a amizade foi retomada.
Com o amigo Dick Taylor, os três formaram o embrião do que se tornaria a maior banda de rock'n'roll do planeta. A outra peça fundamental dessa história juntou-se logo depois ao trio. Brian Jones era um garoto que tocava guitarra slide como poucos e tinha um enorme conhecimento sobre a história do blues. Com apenas 19 anos Brian era o típico garoto problemático e que parecia atraía problema - para não falar que a essa altura, ele já era pai de dois filhos com mães diferentes. A música assim lhe parecia ser não só sua única saída como também uma bela válvula de escape.
O outro nome fundamental nesse começo é o do pianista Ian Stewart. Foi ele quem arrumou o primeiro espaço para o grupo ainda sem nome começar a ensaiar. Entre começos falsos e trocas de integrantes, a banda começou a se estabilizar com Jagger, Richards, Jones, Stewart e mais Dick Taylor e o baterista Tony Chapman.
Foi Chapman quem batizou a banda. Segundo Keith, ele teria ligado para a o jornal Jazz News para divulgar o grupo. Quando o jornalista perguntou o nome da banda, Tony teria visto um LP de Muddy Waters ali por perto e viu que uma das músicas se chamava "Rolling Stone". As pedras estavam prontas para começar rolar.
Curiosamente essa foi uma das únicas contribuições que Chapman legou ao grupo. Talvez ele tenha tocado no primeiro show que os Stones fizeram - no dia 12 de julho de 1962. Mas existem dúvidas. Já que tem gente que garante que naquele fatídico dia quem estava nas baquetas era o futuro baterista dos Kinks Mick Ivory - algo que ele nega.
O grupo seguiu fazendo shows pelos meses seguintes e logo atraiu a atenção dos fãs de blues em Londres. A formação que se tornaria clássica - com Bill Wyman no baixo e Charlie Watts na bateria - surge em janeiro de 1963 - o que serviu como desculpa para Richards justificar o retorno da banda apenas para o ano que vem. Para ele o grupo só se tornou os Rolling Stones com a entrada de Charlie.
Não demorou muito para eles começarem a chamar a atenção e logo um jovem de 19 anos chamado Andrew Loog Oldham já estava se oferecendo para ser o empresário e produtor do sexteto. Uma das primeiras atitudes que ele tomou foi pedir o afastamento do pianista Ian Stewart por não ser bonito o bastante. Ian aceitou seu destino com assustadora humildade e continuou a trabalhar nos bastidores para a banda até a sua morte em 1985, seja como diretor de turnês ou tocando seu piano em discos e shows.
Com o estouro dos Beatles, o mercado estava aquecido para novos grupos musicais. Andrew conseguiu um contrato para a banda com a Decca - a mesma que há pouco havia dito não para o quarteto de Liverpool e as coisas começaram a andar com enorme velocidade.
Os primeiros Discos
Em 7 de junho de 1963, os Rolling Stones lançaram seu primeiro compacto, uma versão de "Come On" de Chuck Berry que chegou no 21° lugar das paradas.
O segundo compacto se deu um pouco melhor. A história que se conta é a de que Jagger e Richards ou Oldham cruzaram com John Lennon e Paul McCartney na rua. Eles teriam pedido para os dois darem uma passada no estúdio onde acontecia uma sessão de gravação já que eles precisavam de material para mais um compacto.
A história que se conta é que os dois compuseram "I Wanna Be Your Man" ali mesmo no estúdio e a entregaram para o quinteto, que ficou admirado com o talento e a velocidade dos dois para compor.
Na verdade, a música já estava praticamente pronta e apenas alguns retoques foram dados ali naquele momento. O que interessa é que a versão do grupo chegou no 12° lugar das paradas.
Foi com seu terceiro single que os Stones finalmente começaram a fazer sucesso de verdade. A ótima versão deles para "Not Fade Away" de Buddy Holly chegou ao terceiro lugar da parada e também foi lançado nos EUA.
Mais importante a imagem do grupo começou a tomar forma. Em contraponto ao ar de bom moço que os Beatles exalavam, os Stones se vestiam de forma desgrenhada e eram vistos como mais rebeldes.
O primeiro álbum do grupo chamado simplesmente "The Rolling Stones". Saiu em 1964, trazendo basicamente versões de blues e rock 'n roll e R&B. O álbum é fundamental para se entender o rock e o melhor dessa primeira fase do grupo. O disco também trazia a primeira composição Jagger/Richards, a bela balada "Tell Me (You're Coming Back)". O disco fez muito sucesso e ficou por 12 semanas em primeiro lugar.
Foi também em 1964 que eles finalmente chegaram no topo das paradas de singles com "It's All Over Now".
O grupo seguiu nesse passo lançando mais álbuns com covers até 1965. A essas alturas eles também já estavam populares na América, onde se tornaram um dos principais grupos da chamada "Invasão Britânica".
As primeiras composições
Andrew Oldham já havia percebido desde o início que havia muito dinheiro para se fazer com a renda de direitos autorais. Não a toa ele sempre estimulou Jagger e Richards a compor. Se as primeiras tentativas foram incipientes (as canções geralmente acabavam nos álbuns ou gravadas por outros artistas) aos poucos eles foram pegando jeito para a coisa.
O resultado disso foi uma imediata mudança na balança do quinteto com a gradual perda de posição de Brian jones, que antes era visto como o líder do grupo.
A primeira composição de Jagger e Richards considerada boa o bastante para sair como lado A de um compacto foi "The Last Time", ainda hoje uma das grandes canções da banda com seu ritmo forte e refrão memorável. Melhor ainda foi ver que a canção chegou ao número 1, provando que o caminho era mesmo esse.
O compacto seguinte de qualquer forma extrapolou toda e qualquer expectativa que se poderia ter para com a banda. Keith Richards diz ter composto o riff de "(I Can't Get No) Satisfaction" um pouco antes de cair no sono em um quarto de hotel. Desse acidente feliz nasceu aquele que talvez seja o maior clássico do rock e a banda nunca mais precisou ir atrás de covers para preencher seus álbuns ou singles.
Os primeiros problemas com a lei
Os anos 60 trouxeram novos parâmetros para a juventude ocidental. O período de escassez vividos no pós-guerra iam ficando para trás e iniciava-se um período de prosperidade. A isso some-se o surgimento da pílula anticoncepcional e o clima de inquietação política, tem-se uma receita para o florescimento das mais diversas e inovadoras formas de arte, entre essas o rock 'n' roll, que passava por um momento de grande e rápida evolução. Os Stones naturalmente estavam no centro disso.
Nesse cenário as descobertas pessoais obviamente também são importantes e fundamentais e não há como escapar das drogas, ainda mais em uma época em que pouco se sabia sobre elas.
Também é desnecessário falar que as gerações anteriores não viam tudo isso com bons olhos. O papo de "foi pra ver o surgimento disso que eu quase morri na guerra?" era bastante comum e era esperado que logo algumas vítimas seriam escolhidas para servir de exemplo.
Como os Beatles eram queridos por todos os setores da sociedade britânica - até condecorados pela rainha eles já haviam sido - era mais do que esperado que a bucha iria estourar pro lado dos Stones. E ela estourou em 1967, quando o jornal News Of The World (aquele mesmo que foi fechado ano passado) publicou uma sérei de reportagens sobre a ligação dos pop stars com as drogas. Quem conseguiu as notícias foi um repórter infiltrado. Foi ele também que deu a dica para a polícia de que uma "festinha" iria rolar na casa de Keith. No dia 12 de fevereiro a polícia, junto com a imprensa, baixou na casa do guitarrista. Ainda que ninguém tenha sido preso Jagger, Richards e o amigo Robert Fraser foram autuados por posse de narcóticos e tiveram que se apresentar perante a corte.
Em maio foi a vez de Brian Jones ser autuado. Em julho acontece o julgamento de Jagger e Richards. O cantor pega três meses de cadeia e Keith um ano. Os dois passam a noite na cadeia e são liberados no dia seguinte. É quando o The Times publica um feroz editorial mostrando que os músicos estavam sendo usados como bodes espiatórios e que se eles fossem pessoas anônimas nunca seriam tratados assim. No final, as penas foram substituídas por multas e tudo se resolveu. Jones mais tarde precisou pagar fiança de mil libras e pegou uma condicional de três anos.
Nesse cenário não é e se admirar que a música tenha ficado para segundo plano. Ao contrário dos álbuns dos Beatles lançados nessa época, os discos dos Stones soam confusos, frutos de um grupo que não sabe exatamente bem para onde ir, o que não significa que a produção dessa época seja descartável. Longe disso, afinal discos como "Between The Buttons" e "Their Satanic's Majesties Request" estão cheios de bons momentos e mesmo com tudo isso eles fizeram singles memoráveis como "Let's Spend The Night Together"/"Ruby Tuesday" e "She's A Rainbow".
A primeira revolução
Era claro que mudanças eram necessárias e elas vieram aos montes entre o fim de 67 e o decorrer de 68. A primeira delas foi a saída de Andrew Oldham do comando da banda. Em seu lugar entrou Allen Klein algo de que eles se arrependeriam profundamente anos mais tarde.
No campo musical a chegada do produtor Jimmy Miller ajudou a colocar a banda novamente nos eixos. Tinha início o período que seriam lembrados como os "anos de ouro" da banda. A primeira amostra desses "novos Stones" chegou com o compacto "Jumpin' Jack Flash", uma daquelas porradas até hoje insuperáveis.
Logo depois foi a vez do álbum "Beggars Banquet", também perfeito em sua mistura de rock'n'roll, blues, soul, country e... batucada. Sim, "Sympathy For The Devil" tem influência direta do samba que Jagger e Richards conheceram por aqui quando passaram o carnaval no Rio de Janeiro. A viagem foi ainda mais importante. Foi aqui que ele conheceu a afinação em Sol Maior que desde então ele passou a usar em shows e gravações.
Tudo parecia bem né? Infelizmente não para Brian Jones que se afundava mais e mais nas drogas. Dono de um ego fragilizado, o guitarrista teve dificuldades em ver a banda que ele ajudara a criar ser tomada de suas mãos. Ele nunca aceitou muito a mudança estilística do grupo - que para ele deveria ter seguido no blues e R&B de raiz - isso apesar dele ter se tornado o, nas palavras de Jagger - "colorista dos Stones". Afinal os toques de cítara, melotron, flauta e demais instrumentos exóticos que pipocavam nas músicas feitas entre 66 e 67 eram todas obras dele.
Mas em 1968 Jones era só uma pálida sombra de quem já fora. Quase catatônico, ele raramente aparecia nas gravações e para completar ele teve que ver sua namorada de dois anos - Anita Pallenberg - trocá-lo por Keith.
O ano de 1968 seguiu repleto de acidentes de trânsito e prisões por porte de drogas. Em maio de 1969, ele foi finalmente expulso da banda que ele mesmo tinha fundado.
A primeira baixa
Para substituir Jones entra o guitarrista Mick Taylor, que mal participa das sessões do álbum "Let it Bleed" - outro grande clássico da banda. No dia 03 de julho de 1969, Jones é encontrado morto em sua piscina. Além de inaugurar o macabro "clube dos 27", o músico também seria uma das primeiras vítimas das teorias da conspiração, já que muitos defendem que Brian teria sido na verdade assassinado por um funcionário que trabalhava na reforma de sua casa e não vítima de morte acidental.
Dois dias depois, os Rolling Stones voltaram a se apresentar ao vivo. No Hyde Park, leram um poema em homenagem ao antigo companheiro e o show foi dedicado à sua memória.
No final do ano o grupo resolve dar um show gratuito na Califórnia, no que seria uma espécie de "Woodstock da costa Leste".
Infelizmente o dia teve tudo menos paz e amor. Brigas constantes - boa parte delas causadas pelos "Hell's Angels" que estavam fazendo a "segurança" do local, muitas overdoses, um clima total de insegurança e, o pior de tudo, um assassinato flagrado pelas câmeras que filmavam o show para um documentário (as cenas estão no fundamental "Gimme Shelter" - um dos grandes filmes de rock já feitos). Os anos 60 definitivamente haviam acabado.
A primeira e única "Maior Banda de Rock de Todos Os Tempos"
Os anos 70 começam bem para os Stones. Com um novo contrato - com a Atlantic - e livres de seu empresário Allen Klein (que desde que começara a empresariar os Beatles não estava mais tão preocupado assim com eles) o grupo andava a passos largos. O fim do quarteto de Liverpool também ajudou a torná-los a "maior banda do mundo", ainda que a concorrência com o Who e especialmente o Led Zepellin fosse acirrada.
Foi nesse clima que o grupo criou "Sticky Fingers", aquele que talvez seja seu melhor disco. Tudo ia bem até eles receberem a notícia de seu contador de que o fisco estava tomando quase todos os rendimentos da banda, e que se eles não deixassem a Inglaterra o quanto antes acabariam sem nada.
Eles então se mudam para a França onde se dedicam a gravar o álbum "Exile On Main Street" e criar confusão. As histórias desse período são fascinantes e envolvem traficantes, sessões de gravação nos piores horários - a casa de Keith estava servindo de estúdio - um casamento pra lá de tumultuado - entre Jagger e a socialite Bianca Perez. Para saber mais vale ler o livro "Uma Temporada No Inferno Com os Rolling Stones", que já teve seus direitos comprados para o cinema.
A primeira entressafra
Imagine que você está na banda mais popular do mundo. Todo mundo te paparica e dá o que você quer e na quantidade que quiser. Era nesse mundo de faz de conta que os Stones viviam. Com os excessos vieram a acomodação. Ela começa talvez em 1974 - para alguns antes até - quando a banda começa a fazer canções que já parecem criadas para alimentar o mito ("It's Only Rock 'n Roll (But I Like It)", "Dancing With Mr. D") e quando seus integrantes passam a se comportar como fossem mesmo membros de alguma realeza.
Os problemas cada vez maiores de Richards com as drogas não ajudam em nada e a saída de Mick Taylor - descontente com as políticas da banda onde as músicas eram sempre creditadas a Jagger/Richards mesmo que os outros integrantes também tenham contribuído para o resultado final.
As gravações do álbum seguinte acabam então se tornando sessões de testes para o novo guitarrista. Quem levou a barbada foi Ron Wood, que tocava com os Faces de Rod Stewart e acabara de ver sua banda se separar.
O disco resultante desse processo não muito comum de se ver foi "Black and Blue", que mesmo irregular tem algumas faixas antológicas - sendo "Memory Motel" a maior delas.
A turnê do álbum, que quase passou pelo Brasil, por sua vez não foi das melhores e deu origem a "Love You Live", tido como um dos piores discos ao vivo já feitos.
O primeiro retorno às glórias passadas
Estamos em 1977 e o clima não estava bom para os "dinossauros". Uma nova geração de jovens não se via representada pelos roqueiros milionários e acomodados que tomavam conta das paradas. Surgia então o punk com a clara missão de levar o rock de volta para as ruas.
No campo dos Stones, o clima também ia de mal a pior, com Richards cada vez pior em seu vício com heroína. O clima pesou mesmo quando ele se viu acusado de tráfico de drogas no Canadá, já que carregava uma quantidade além do limite máximo para ser enquadrado como usuário.
O ano de 1977 torna-se o mais negro da história da banda, mas como sempre acontece com eles, no final havia uma luz. Keith acabou inocentado. Tudo graças ao depoimento de uma menina cega que disse que o guitarrista era uma boa pessoa e a havia ajudado. O juíz então pediu que os Stones fizessem três shows em benefício dos cegos e a engrenagem voltou a funcionar.
Em 1978 eles lançam "Some Girls", um disco raivoso e urgente e o melhor que eles fizeram depois do período dourado de 1969-1972.
A primeira mega-banda de estádio
O começo dos anos 80 mostra os Rolling Stones gozando da posição de deuses inatacáveis do rock.
O lado ruim disso é que a partir daqui os álbuns da banda passam a se tornar mera desculpa para engrenar mais uma turnê ao redor dos maiores estádios do mundo com ingressos caríssimos.
Pior ainda foram os anos em que nem essas turnês foram feitas para justificá-los.
Claro que existem lampejos de genialidade na produção da banda nesse período. O álbum "Tatoo You" juntado a partir de sobras de estúdio e canções inacabadas que estavam nos arquivos, é digno de figurar em qualquer boa discoteca e foi dali que saiu "Start Me Up", o último clássico indisputável da banda.
Os anos 80 se mostram complicados. Jagger e Richards brigam sem parar e tudo se complica ainda mais quando Mick resolve gravar um disco solo em 1985 - algo inadimissível para Keith.
Os dois passam então a trocar farpas pela imprensa e os dois discos que lançam nesse período ("Undercover" de 1983 e "Dirty Work" de 1986) são tidos como os piores já feitos por eles.
Em 1988 Keith lança seu disco solo (o bom "Talk Is Cheap") e os roqueiros começam a imaginar um mundo onde os Rolling Stones não mais existem.
Os primeiros vovôs do rock
A idade sempre foi uma questão chave no rock. Primeiro por ser uma forma de arte relativamente nova e segundo por ela estar ligada ao conceito de juventude. Como os roqueiros dos anos 50 logo caíram no circuito de shows de revival, coube ao pessoal dos anos 60 tentar ver até onde era possível ir tocando rock. Por motivos óbvios, foram os Rolling Stones os primeiros a se apresentar como ratos de laboratório para esse experimento.
Em 1989, Jagger e Richards colocaram suas desavenças de lado. Primeiro eles gravaram o álbum "Steel Wheels" (simpático e nada mais) e embarcaram naquela que seria a mais ambiciosa e lucrativa turnê já feita.
Em todas as paradas da tour, a questão da idade sempre voltava a persegui-los. O curioso é ver que Jagger na época estava com 46 anos (Madonna hoje está com 56 para se ter uma ideia).
Desde então de tempos em tempos o grupo volta a gravar e/ou excursionar. Foi assim em 1994/1995 com a "Voodoo Lounge Tour" - que finalmente os trouxe ao Brasil, em 1998 com a "Bridges To Babylon" (que também passou por aqui) e a "Licks Tour" feita para celebrar as primeiras quatro décadas do agora quarteto (o baixista Bill Wyman abandonou o barco em 1992).
A última vez em que eles estiveram juntos foi para a gravação do álbum "A Bigger Bang" - o melhor deles em muito tempo, que também rendeu uma enorme turnê. Em 2006, eles tocaram na Praia de Copacabana para mais de 1.5 milhão de pessoas.
Depois disso apenas o silêncio. Keith quase morreu ao sofrer um traumatismo craniano ao cair de uma árvore, mas conseguiu se recuperar e ainda escrever suas memórias. O livro "Vida", além de divertidíssimo, mostra como funciona a engrenagem da banda, especialmente no que diz respeito à sua complicada relação com Jagger. Ali ficamos sabendo que eles quase nunca se veem a não ser que estejam em estúdio ou em cima de um palco e que certas feridas jamais foram curadas (algo que vem desde os anos 60, quando Jagger lhe tomou a namorada Marianne Faithful).
Mas aparentemente o que irritou mesmo Jagger foi Keith ter dito que uma celebrada parte da anatomia do cantor não era lá muito avantajada. Pelo menos foi essa a razão dada para a demora do grupo para voltar a se reunir.
A situação atual da banda parece mais promissora. O problema é saber se agora em que estão se aproximando dos 70 anos eles teriam pique para rodar o planeta. Fontes dizem que Richards talvez já não consiga, por mais que ele negue. O mais provável é que eles façam grandes temporadas em algumas cidade chave do planeta. Dessa forma os fãs é que iriam até eles e não o contrário.
Mas isso tudo é só especulação. O que importa é que os Rolling Stones fizeram 50 anos e eles ainda são, e sempre serão, A MAIOR BANDA DE ROCK'N'ROLL DO MUNDO.
Hoje o Vagalume celebra esta data importante dando uma esmiuçada nessas cinco décadas da banda, lembrando as melhores histórias e dissecando os diversos momentos pelos quais eles passaram. Para a festa ficar completa é só colocar pra rolar a playlist mais que especial que preparamos para acompanhar a leitura. Bom Divertimento!
Os Primeiros Anos
Antes de formar uma das duplas mais lendárias de todos os tempos Mick Jagger e Keith Richards foram amigos de infância, isso no começo dos anos 50. O reencontro entre os antigos colegas de escola se deu já no final da década em uma daquelas histórias que mais parecem lenda. Segundo se conta, os dois se cruzaram em uma estação de trem. Jagger carregava nos braços uma série de álbuns de nomes do blues e rock'n'roll. Ao ver seu antigo amigo com aqueles álbuns de Muddy Waters e Chuck Berry, Keith logo foi lá puxar papo e a amizade foi retomada.
Com o amigo Dick Taylor, os três formaram o embrião do que se tornaria a maior banda de rock'n'roll do planeta. A outra peça fundamental dessa história juntou-se logo depois ao trio. Brian Jones era um garoto que tocava guitarra slide como poucos e tinha um enorme conhecimento sobre a história do blues. Com apenas 19 anos Brian era o típico garoto problemático e que parecia atraía problema - para não falar que a essa altura, ele já era pai de dois filhos com mães diferentes. A música assim lhe parecia ser não só sua única saída como também uma bela válvula de escape.
O outro nome fundamental nesse começo é o do pianista Ian Stewart. Foi ele quem arrumou o primeiro espaço para o grupo ainda sem nome começar a ensaiar. Entre começos falsos e trocas de integrantes, a banda começou a se estabilizar com Jagger, Richards, Jones, Stewart e mais Dick Taylor e o baterista Tony Chapman.
Foi Chapman quem batizou a banda. Segundo Keith, ele teria ligado para a o jornal Jazz News para divulgar o grupo. Quando o jornalista perguntou o nome da banda, Tony teria visto um LP de Muddy Waters ali por perto e viu que uma das músicas se chamava "Rolling Stone". As pedras estavam prontas para começar rolar.
Curiosamente essa foi uma das únicas contribuições que Chapman legou ao grupo. Talvez ele tenha tocado no primeiro show que os Stones fizeram - no dia 12 de julho de 1962. Mas existem dúvidas. Já que tem gente que garante que naquele fatídico dia quem estava nas baquetas era o futuro baterista dos Kinks Mick Ivory - algo que ele nega.
O grupo seguiu fazendo shows pelos meses seguintes e logo atraiu a atenção dos fãs de blues em Londres. A formação que se tornaria clássica - com Bill Wyman no baixo e Charlie Watts na bateria - surge em janeiro de 1963 - o que serviu como desculpa para Richards justificar o retorno da banda apenas para o ano que vem. Para ele o grupo só se tornou os Rolling Stones com a entrada de Charlie.
Não demorou muito para eles começarem a chamar a atenção e logo um jovem de 19 anos chamado Andrew Loog Oldham já estava se oferecendo para ser o empresário e produtor do sexteto. Uma das primeiras atitudes que ele tomou foi pedir o afastamento do pianista Ian Stewart por não ser bonito o bastante. Ian aceitou seu destino com assustadora humildade e continuou a trabalhar nos bastidores para a banda até a sua morte em 1985, seja como diretor de turnês ou tocando seu piano em discos e shows.
Com o estouro dos Beatles, o mercado estava aquecido para novos grupos musicais. Andrew conseguiu um contrato para a banda com a Decca - a mesma que há pouco havia dito não para o quarteto de Liverpool e as coisas começaram a andar com enorme velocidade.
Os primeiros Discos
Em 7 de junho de 1963, os Rolling Stones lançaram seu primeiro compacto, uma versão de "Come On" de Chuck Berry que chegou no 21° lugar das paradas.
O segundo compacto se deu um pouco melhor. A história que se conta é a de que Jagger e Richards ou Oldham cruzaram com John Lennon e Paul McCartney na rua. Eles teriam pedido para os dois darem uma passada no estúdio onde acontecia uma sessão de gravação já que eles precisavam de material para mais um compacto.
A história que se conta é que os dois compuseram "I Wanna Be Your Man" ali mesmo no estúdio e a entregaram para o quinteto, que ficou admirado com o talento e a velocidade dos dois para compor.
Na verdade, a música já estava praticamente pronta e apenas alguns retoques foram dados ali naquele momento. O que interessa é que a versão do grupo chegou no 12° lugar das paradas.
Foi com seu terceiro single que os Stones finalmente começaram a fazer sucesso de verdade. A ótima versão deles para "Not Fade Away" de Buddy Holly chegou ao terceiro lugar da parada e também foi lançado nos EUA.
Mais importante a imagem do grupo começou a tomar forma. Em contraponto ao ar de bom moço que os Beatles exalavam, os Stones se vestiam de forma desgrenhada e eram vistos como mais rebeldes.
O primeiro álbum do grupo chamado simplesmente "The Rolling Stones". Saiu em 1964, trazendo basicamente versões de blues e rock 'n roll e R&B. O álbum é fundamental para se entender o rock e o melhor dessa primeira fase do grupo. O disco também trazia a primeira composição Jagger/Richards, a bela balada "Tell Me (You're Coming Back)". O disco fez muito sucesso e ficou por 12 semanas em primeiro lugar.
Foi também em 1964 que eles finalmente chegaram no topo das paradas de singles com "It's All Over Now".
O grupo seguiu nesse passo lançando mais álbuns com covers até 1965. A essas alturas eles também já estavam populares na América, onde se tornaram um dos principais grupos da chamada "Invasão Britânica".
As primeiras composições
Andrew Oldham já havia percebido desde o início que havia muito dinheiro para se fazer com a renda de direitos autorais. Não a toa ele sempre estimulou Jagger e Richards a compor. Se as primeiras tentativas foram incipientes (as canções geralmente acabavam nos álbuns ou gravadas por outros artistas) aos poucos eles foram pegando jeito para a coisa.
O resultado disso foi uma imediata mudança na balança do quinteto com a gradual perda de posição de Brian jones, que antes era visto como o líder do grupo.
A primeira composição de Jagger e Richards considerada boa o bastante para sair como lado A de um compacto foi "The Last Time", ainda hoje uma das grandes canções da banda com seu ritmo forte e refrão memorável. Melhor ainda foi ver que a canção chegou ao número 1, provando que o caminho era mesmo esse.
O compacto seguinte de qualquer forma extrapolou toda e qualquer expectativa que se poderia ter para com a banda. Keith Richards diz ter composto o riff de "(I Can't Get No) Satisfaction" um pouco antes de cair no sono em um quarto de hotel. Desse acidente feliz nasceu aquele que talvez seja o maior clássico do rock e a banda nunca mais precisou ir atrás de covers para preencher seus álbuns ou singles.
Os primeiros problemas com a lei
Os anos 60 trouxeram novos parâmetros para a juventude ocidental. O período de escassez vividos no pós-guerra iam ficando para trás e iniciava-se um período de prosperidade. A isso some-se o surgimento da pílula anticoncepcional e o clima de inquietação política, tem-se uma receita para o florescimento das mais diversas e inovadoras formas de arte, entre essas o rock 'n' roll, que passava por um momento de grande e rápida evolução. Os Stones naturalmente estavam no centro disso.
Nesse cenário as descobertas pessoais obviamente também são importantes e fundamentais e não há como escapar das drogas, ainda mais em uma época em que pouco se sabia sobre elas.
Também é desnecessário falar que as gerações anteriores não viam tudo isso com bons olhos. O papo de "foi pra ver o surgimento disso que eu quase morri na guerra?" era bastante comum e era esperado que logo algumas vítimas seriam escolhidas para servir de exemplo.
Como os Beatles eram queridos por todos os setores da sociedade britânica - até condecorados pela rainha eles já haviam sido - era mais do que esperado que a bucha iria estourar pro lado dos Stones. E ela estourou em 1967, quando o jornal News Of The World (aquele mesmo que foi fechado ano passado) publicou uma sérei de reportagens sobre a ligação dos pop stars com as drogas. Quem conseguiu as notícias foi um repórter infiltrado. Foi ele também que deu a dica para a polícia de que uma "festinha" iria rolar na casa de Keith. No dia 12 de fevereiro a polícia, junto com a imprensa, baixou na casa do guitarrista. Ainda que ninguém tenha sido preso Jagger, Richards e o amigo Robert Fraser foram autuados por posse de narcóticos e tiveram que se apresentar perante a corte.
Em maio foi a vez de Brian Jones ser autuado. Em julho acontece o julgamento de Jagger e Richards. O cantor pega três meses de cadeia e Keith um ano. Os dois passam a noite na cadeia e são liberados no dia seguinte. É quando o The Times publica um feroz editorial mostrando que os músicos estavam sendo usados como bodes espiatórios e que se eles fossem pessoas anônimas nunca seriam tratados assim. No final, as penas foram substituídas por multas e tudo se resolveu. Jones mais tarde precisou pagar fiança de mil libras e pegou uma condicional de três anos.
Nesse cenário não é e se admirar que a música tenha ficado para segundo plano. Ao contrário dos álbuns dos Beatles lançados nessa época, os discos dos Stones soam confusos, frutos de um grupo que não sabe exatamente bem para onde ir, o que não significa que a produção dessa época seja descartável. Longe disso, afinal discos como "Between The Buttons" e "Their Satanic's Majesties Request" estão cheios de bons momentos e mesmo com tudo isso eles fizeram singles memoráveis como "Let's Spend The Night Together"/"Ruby Tuesday" e "She's A Rainbow".
A primeira revolução
Era claro que mudanças eram necessárias e elas vieram aos montes entre o fim de 67 e o decorrer de 68. A primeira delas foi a saída de Andrew Oldham do comando da banda. Em seu lugar entrou Allen Klein algo de que eles se arrependeriam profundamente anos mais tarde.
No campo musical a chegada do produtor Jimmy Miller ajudou a colocar a banda novamente nos eixos. Tinha início o período que seriam lembrados como os "anos de ouro" da banda. A primeira amostra desses "novos Stones" chegou com o compacto "Jumpin' Jack Flash", uma daquelas porradas até hoje insuperáveis.
Logo depois foi a vez do álbum "Beggars Banquet", também perfeito em sua mistura de rock'n'roll, blues, soul, country e... batucada. Sim, "Sympathy For The Devil" tem influência direta do samba que Jagger e Richards conheceram por aqui quando passaram o carnaval no Rio de Janeiro. A viagem foi ainda mais importante. Foi aqui que ele conheceu a afinação em Sol Maior que desde então ele passou a usar em shows e gravações.
Tudo parecia bem né? Infelizmente não para Brian Jones que se afundava mais e mais nas drogas. Dono de um ego fragilizado, o guitarrista teve dificuldades em ver a banda que ele ajudara a criar ser tomada de suas mãos. Ele nunca aceitou muito a mudança estilística do grupo - que para ele deveria ter seguido no blues e R&B de raiz - isso apesar dele ter se tornado o, nas palavras de Jagger - "colorista dos Stones". Afinal os toques de cítara, melotron, flauta e demais instrumentos exóticos que pipocavam nas músicas feitas entre 66 e 67 eram todas obras dele.
Mas em 1968 Jones era só uma pálida sombra de quem já fora. Quase catatônico, ele raramente aparecia nas gravações e para completar ele teve que ver sua namorada de dois anos - Anita Pallenberg - trocá-lo por Keith.
O ano de 1968 seguiu repleto de acidentes de trânsito e prisões por porte de drogas. Em maio de 1969, ele foi finalmente expulso da banda que ele mesmo tinha fundado.
A primeira baixa
Para substituir Jones entra o guitarrista Mick Taylor, que mal participa das sessões do álbum "Let it Bleed" - outro grande clássico da banda. No dia 03 de julho de 1969, Jones é encontrado morto em sua piscina. Além de inaugurar o macabro "clube dos 27", o músico também seria uma das primeiras vítimas das teorias da conspiração, já que muitos defendem que Brian teria sido na verdade assassinado por um funcionário que trabalhava na reforma de sua casa e não vítima de morte acidental.
Dois dias depois, os Rolling Stones voltaram a se apresentar ao vivo. No Hyde Park, leram um poema em homenagem ao antigo companheiro e o show foi dedicado à sua memória.
No final do ano o grupo resolve dar um show gratuito na Califórnia, no que seria uma espécie de "Woodstock da costa Leste".
Infelizmente o dia teve tudo menos paz e amor. Brigas constantes - boa parte delas causadas pelos "Hell's Angels" que estavam fazendo a "segurança" do local, muitas overdoses, um clima total de insegurança e, o pior de tudo, um assassinato flagrado pelas câmeras que filmavam o show para um documentário (as cenas estão no fundamental "Gimme Shelter" - um dos grandes filmes de rock já feitos). Os anos 60 definitivamente haviam acabado.
A primeira e única "Maior Banda de Rock de Todos Os Tempos"
Os anos 70 começam bem para os Stones. Com um novo contrato - com a Atlantic - e livres de seu empresário Allen Klein (que desde que começara a empresariar os Beatles não estava mais tão preocupado assim com eles) o grupo andava a passos largos. O fim do quarteto de Liverpool também ajudou a torná-los a "maior banda do mundo", ainda que a concorrência com o Who e especialmente o Led Zepellin fosse acirrada.
Foi nesse clima que o grupo criou "Sticky Fingers", aquele que talvez seja seu melhor disco. Tudo ia bem até eles receberem a notícia de seu contador de que o fisco estava tomando quase todos os rendimentos da banda, e que se eles não deixassem a Inglaterra o quanto antes acabariam sem nada.
Eles então se mudam para a França onde se dedicam a gravar o álbum "Exile On Main Street" e criar confusão. As histórias desse período são fascinantes e envolvem traficantes, sessões de gravação nos piores horários - a casa de Keith estava servindo de estúdio - um casamento pra lá de tumultuado - entre Jagger e a socialite Bianca Perez. Para saber mais vale ler o livro "Uma Temporada No Inferno Com os Rolling Stones", que já teve seus direitos comprados para o cinema.
A primeira entressafra
Imagine que você está na banda mais popular do mundo. Todo mundo te paparica e dá o que você quer e na quantidade que quiser. Era nesse mundo de faz de conta que os Stones viviam. Com os excessos vieram a acomodação. Ela começa talvez em 1974 - para alguns antes até - quando a banda começa a fazer canções que já parecem criadas para alimentar o mito ("It's Only Rock 'n Roll (But I Like It)", "Dancing With Mr. D") e quando seus integrantes passam a se comportar como fossem mesmo membros de alguma realeza.
Os problemas cada vez maiores de Richards com as drogas não ajudam em nada e a saída de Mick Taylor - descontente com as políticas da banda onde as músicas eram sempre creditadas a Jagger/Richards mesmo que os outros integrantes também tenham contribuído para o resultado final.
As gravações do álbum seguinte acabam então se tornando sessões de testes para o novo guitarrista. Quem levou a barbada foi Ron Wood, que tocava com os Faces de Rod Stewart e acabara de ver sua banda se separar.
O disco resultante desse processo não muito comum de se ver foi "Black and Blue", que mesmo irregular tem algumas faixas antológicas - sendo "Memory Motel" a maior delas.
A turnê do álbum, que quase passou pelo Brasil, por sua vez não foi das melhores e deu origem a "Love You Live", tido como um dos piores discos ao vivo já feitos.
O primeiro retorno às glórias passadas
Estamos em 1977 e o clima não estava bom para os "dinossauros". Uma nova geração de jovens não se via representada pelos roqueiros milionários e acomodados que tomavam conta das paradas. Surgia então o punk com a clara missão de levar o rock de volta para as ruas.
No campo dos Stones, o clima também ia de mal a pior, com Richards cada vez pior em seu vício com heroína. O clima pesou mesmo quando ele se viu acusado de tráfico de drogas no Canadá, já que carregava uma quantidade além do limite máximo para ser enquadrado como usuário.
O ano de 1977 torna-se o mais negro da história da banda, mas como sempre acontece com eles, no final havia uma luz. Keith acabou inocentado. Tudo graças ao depoimento de uma menina cega que disse que o guitarrista era uma boa pessoa e a havia ajudado. O juíz então pediu que os Stones fizessem três shows em benefício dos cegos e a engrenagem voltou a funcionar.
Em 1978 eles lançam "Some Girls", um disco raivoso e urgente e o melhor que eles fizeram depois do período dourado de 1969-1972.
A primeira mega-banda de estádio
O começo dos anos 80 mostra os Rolling Stones gozando da posição de deuses inatacáveis do rock.
O lado ruim disso é que a partir daqui os álbuns da banda passam a se tornar mera desculpa para engrenar mais uma turnê ao redor dos maiores estádios do mundo com ingressos caríssimos.
Pior ainda foram os anos em que nem essas turnês foram feitas para justificá-los.
Claro que existem lampejos de genialidade na produção da banda nesse período. O álbum "Tatoo You" juntado a partir de sobras de estúdio e canções inacabadas que estavam nos arquivos, é digno de figurar em qualquer boa discoteca e foi dali que saiu "Start Me Up", o último clássico indisputável da banda.
Os anos 80 se mostram complicados. Jagger e Richards brigam sem parar e tudo se complica ainda mais quando Mick resolve gravar um disco solo em 1985 - algo inadimissível para Keith.
Os dois passam então a trocar farpas pela imprensa e os dois discos que lançam nesse período ("Undercover" de 1983 e "Dirty Work" de 1986) são tidos como os piores já feitos por eles.
Em 1988 Keith lança seu disco solo (o bom "Talk Is Cheap") e os roqueiros começam a imaginar um mundo onde os Rolling Stones não mais existem.
Os primeiros vovôs do rock
A idade sempre foi uma questão chave no rock. Primeiro por ser uma forma de arte relativamente nova e segundo por ela estar ligada ao conceito de juventude. Como os roqueiros dos anos 50 logo caíram no circuito de shows de revival, coube ao pessoal dos anos 60 tentar ver até onde era possível ir tocando rock. Por motivos óbvios, foram os Rolling Stones os primeiros a se apresentar como ratos de laboratório para esse experimento.
Em 1989, Jagger e Richards colocaram suas desavenças de lado. Primeiro eles gravaram o álbum "Steel Wheels" (simpático e nada mais) e embarcaram naquela que seria a mais ambiciosa e lucrativa turnê já feita.
Em todas as paradas da tour, a questão da idade sempre voltava a persegui-los. O curioso é ver que Jagger na época estava com 46 anos (Madonna hoje está com 56 para se ter uma ideia).
Desde então de tempos em tempos o grupo volta a gravar e/ou excursionar. Foi assim em 1994/1995 com a "Voodoo Lounge Tour" - que finalmente os trouxe ao Brasil, em 1998 com a "Bridges To Babylon" (que também passou por aqui) e a "Licks Tour" feita para celebrar as primeiras quatro décadas do agora quarteto (o baixista Bill Wyman abandonou o barco em 1992).
A última vez em que eles estiveram juntos foi para a gravação do álbum "A Bigger Bang" - o melhor deles em muito tempo, que também rendeu uma enorme turnê. Em 2006, eles tocaram na Praia de Copacabana para mais de 1.5 milhão de pessoas.
Depois disso apenas o silêncio. Keith quase morreu ao sofrer um traumatismo craniano ao cair de uma árvore, mas conseguiu se recuperar e ainda escrever suas memórias. O livro "Vida", além de divertidíssimo, mostra como funciona a engrenagem da banda, especialmente no que diz respeito à sua complicada relação com Jagger. Ali ficamos sabendo que eles quase nunca se veem a não ser que estejam em estúdio ou em cima de um palco e que certas feridas jamais foram curadas (algo que vem desde os anos 60, quando Jagger lhe tomou a namorada Marianne Faithful).
Mas aparentemente o que irritou mesmo Jagger foi Keith ter dito que uma celebrada parte da anatomia do cantor não era lá muito avantajada. Pelo menos foi essa a razão dada para a demora do grupo para voltar a se reunir.
A situação atual da banda parece mais promissora. O problema é saber se agora em que estão se aproximando dos 70 anos eles teriam pique para rodar o planeta. Fontes dizem que Richards talvez já não consiga, por mais que ele negue. O mais provável é que eles façam grandes temporadas em algumas cidade chave do planeta. Dessa forma os fãs é que iriam até eles e não o contrário.
Mas isso tudo é só especulação. O que importa é que os Rolling Stones fizeram 50 anos e eles ainda são, e sempre serão, A MAIOR BANDA DE ROCK'N'ROLL DO MUNDO.