Com quase trinta anos de carreira, o Metallica cumpriu todo o ritual de grande banda. Eles começaram no underground ajudando a dar forma a um novo estilo de música, o Thrash metal, uma variação mais pesada e violenta do Heavy metal tradicional por agregar influências do punk e hardcore e foram ampliando cada vez mais seu público a ponto de terem se tornado uma das maiores grupos do planeta (e só não se tornaram a maior porque o início dos anos 90 tinha um número considerável de "maiores bandas do momento" - U2, R.E.M, Guns 'n Roses, Nirvana...).
Também como todo grupo com carreira longa eles passaram por momentos de glória e tristeza, seja no âmbito artístico ou pessoal. O fato deles terem sobrevivido a tudo isso e ainda seguirem na estrada cumprindo uma agenda de shows que banda nenhuma da estatura deles, tirando o AC/DC faz mais e de quebra lançando seu melhor disco em mais de 15 anos é sinal da força e determinação de James Hetfield (voz e guitarra base), Lars Ulrich (bateria), Kirk Hammet (guitarra) e também do novato baixista Robert Trujillo.
No momento em que o grupo se prepara para voltar pela terceira vez ao país, aproveitamos a ocasião para prestarmos nossa homenagem aquela que se não é a melhor (o que é questão de gosto), é seguramente maior banda de metal do mundo, dissecando sua discografia e também antecipando o que os fãs podem esperar dos shows brasileiros.
Kill 'Em All - 1983
Já sem a guitarra de Dave Mustaine, que logo sairia para formar o Megadeth, e foi substituído por Kirk Hammet, a estreia do Metallica é um dos discos fundamentais do Thrash. Apesar de mal gravado, ou talvez por isso mesmo, ele influenciou e segue influenciando inúmeras bandas de som pesado por todo o planeta. Desse disco saíram alguns clássicos que ainda hoje são presença garantida nos shows do quarteto como The Four Horsemen, Jump In The Fire e especialmente Seek And Destroy.
2. The Four Horsemen
3. Motorbreath
4. Jump In The Fire
5. Anesthesia (Pulling Teeth)
6. Whiplash
7. Phantom Lord
8. No Remorse
9. Seek And Destroy
10. Metal Militia
Ride the Lightning - 1984
O primeiro disco com o novo guitarrista Kirk Hammet é basicamente a sequência do trabalho anterior. Mas algumas mudanças já se faziam notar. A maior delas era a balada Fade To Black, hoje queridíssima pelos fãs, mas que na época causou estranheza, afinal não se esperava que bandas de metal radical gravassem uma música lenta, mesmo que fosse uma balada pra lá de mórbida como essa. A instrumental The Call of Ktulu com seus quase nove minutos também apontam os caminhos futuros de músicas longas cheias de pequenas partes.
Descontando esses dois desvios, o resto do disco trazia mais alguns futuros clássicos do metal como Fight Fire With Fire, Creeping Death e For Whom The Bell Tolls com seu riff marcial também apresentando uma característica que marcaria o som da banda nos anos futuros.
1. Fight Fire With Fire
2. Ride The Lightning
3. For Whom The Bell Tolls
4. Fade To Black
5. Trapped Under Ice
6. Escape
7. Creeping Death
8. The Call of Ktulu
Master of Puppets - 1986
Considerada a obra-prima da banda, aqui tudo o que se insinuava nos trabalhos anteriores ganhou forma e foco. As canções ficaram mais longas (nenhuma tem menos de cinco minutos) e cada vez mais trabalhadas, as letras passaram a tratar mais de temas políticos e cotidianos e tecinicamente a banda ia chegando ao seu ápice. Ou seja, era questão de tempo até que o grupo passasse para o próximo nível, ou seja, deixar o nicho de metal para atingir uma plateia mais ampla.
Entre os clássicos do álbum estão além da faixa título - outra que é obrigatória até hoje nos shows - as pauladas Battery, essa com o velho clichê do início melódico antes da porrada começar, e , Inc.
Infelizmente o que era pra ser o início de uma nova fase acabou virando uma tragédia, quando o ônibus que levava o grupo derrapou na estrada arremessando o baixista Cliff Burton pela janela. O veículo caiu em cima do músico matando-o instantaneamente.
O Metallica continuou, mas definitivamente nunca mais seria o mesmo.
1. Battery
2. Master Of Puppets
3. The Thing That Should Not Be
4. Welcome Home (Sanitarium)
5. Disposable Heroes
6. Leper Messiah
7. Orion
8. Damage, Inc
...And Justice for All - 1988
O primeiro disco com o novo baixista Jason Newsted marca um recomeço e também um fim.
Em "...And Justice" a banda leva ao limite a fórrmula das canções longas cheias de passagens, que logo a banda descartaria. Lançado ainda na época do vinil, apesar de só ter nove faixas ele era um álbum duplo e mesmo sendo um trabalho de difícil assimilação (lembre-se que isso foi antes do grunge, numa época em que até o sucesso do Guns 'n Roses era considerado algo "radical" e mesmo impensável) levou o quarteto ao top 10 da Billboard para horror dos fãs mais xiitas que viam nisso um claro sinal de que sua banda estava "se vendendo".
Imaginem então o que esses fãs sentiram ao ver a sua banda do coração não só gravando um clipe (sim, houve um tempo em que até isso era visto com olhos tortos) como se tornando estrelas da MTV?
O clipe em questão era o da semi-balada One, mais uma das faixas eternas da banda e vale lembrar que o vídeo era muito bom, intercalando cenas da banda com trechos do angustiante filme pacifista "Johnny Vai à Guerra" do diretor Dalton Trumbo.
Além de One, "...And Justice" tem outras canções entre as favoritas dos fãs e da banda como
, Harvester of Sorrow e a própria faixa-título.
1. Blackened
2. ...And Justice For All
3. Eye Of The Beholder
4. One
5. The Shortest Straw
6. Harvester of Sorrow
7. The Frayed Ends Of Sanity
8. To Live Is To Die
9. Dyers Eve
Metallica - 1991
Uma nova década pedia um novo Metallica e foi isso o que o grupo fez. Para remodelar a banda foi chamado o produtor Bob Rock, mais acostumado a trabalhar com bandas populares. As faixas continuaram pesadas, com as famosas baladas melancólicas fazendo contra-pontos, mas ficaram mais diretas e certeiras e a dupla Hetfield/Ulrich demonstrava um talento até então não visto para criarem faixas mais pop, daquelas que podiam tocar no rádio e de tarde na MTV.
Tinha como dar errado? Claro que não, o que ficou claro quando o "Álbum Preto" foi lançado e faixa após faixa dele se tornava hit (Enter Sandman, The Unforgiven, Nothing Else Matters, Sad But True...). Só nos Estados Unidos foram 15 milhões de cópias vendidas, com mais outras 25 milhões ao redor do mundo que tornaram o Metallica não só uma das maiores bandas do planeta, como também uma das com maior credibilidade (algo importante na época, já que no início dos anos 90 termos como "autenticidade", "inovação" e "atitude" estavam na ordem do dia, vide o sucesso de R.E.M, Nirvana e também do U2, outro grande nome dos anos 80 que se reinventou para a nova década.
Após o lançamento, o grupo se lançou numa maratona de shows inacreditável de três anos e quase 300 shows. Dois deles rolaram no Brasil, em maio de 1993. Foi a segunda visita da banda ao país que já tinha feito shows em São Paulo e Rio de Janeiro em outubro de 1989.
2. Sad But True
3. Holier Than Thou
4. The Unforgiven
5. Wherever I May Roam
6. Don't Tread On Me
7. Through The Never
8. Nothing Else Matters
9. Of Wolf And Man
10. The God That Failed
11. My Friend Of Misery
12. The Struggle Within
Load - 1996
O problema de fazer música voltada para públicos, ou tribos, específicos é que esse mesmo público costuma ser bastante preciosista com seus artistas favoritos, não recebendo bem coisas como sucesso de massa. Ao mesmo tempo o público mainstream é volátil o bastante para de uma hora pra outra mudar completamente de gosto.
Foi isso o que aconteceu com esse, o disco mais "diferente" da banda, lançado cinco anos depois do "Black Album".
A surpresa já começava pela capa que estampava um novo logotipo (alguém imagina o AC/DC, KISS ou Iron Maiden trocando de logomarca?) e ao se colocar o cd pra tocar o que se ouviu foi um som mais melódico, ainda que definitivamente pesado. Claro que faixas como Hero Of The Day e Until it Sleeps tocaram bastante e a banda tinha um perfil grande o bastante para vender cinco milhões de cópias. Mas com tudo isso esse se tornou o disco esquecido do Metallica. Daqueles raramente lembrados seja pelos seus integrantes, imprensa ou fãs.
2. 2x4
3. The House Jack Built
4. Until It Sleeps
5. King Nothing
6. Hero Of The Day
7. Bleeding Me
8. Cure
9. Poor Twisted Me
10. Wasting My Hate
11. Mama Said
12. Thorn Within
13. Ronnie
14. The Outlaw Torn
ReLoad - 1997
Na época Lars Ulrich disse que esse álbum tinha sido inspirado no U2 que lançou rapidamente o sucessor de Achtung Baby. Como o nome já diz, essa é uma espécie de parte 2 de Load, e segue na mesma trilha de seu disco irmão com músicas menos violentas, o que não significa necessariamente falta de peso.
Entre os destaques desse disco também pouco valorizado estão Fuel e The Memory Remains com participação arrepiante de Marianne Faithful, uma das grandes artistas da história do rock e daquelas pessoas que já viu o inferno várias vezes e sobreviveu.
2. The Memory Remains
3. Devil's Dance
4. The Unforgiven Ii
5. Better Than You
6. Slither
7. Carpe Diem Baby
8. Bad Seed
9. Where The Wild Things Are
10. Prince Charming
11. Low Man's Lyric
12. Attitude
13. Fixxxer
Garage Inc. - 1998
Nos anos 80 os fãs do metal suavam para conseguir os discos do Metallica, que só começaram a sair por aqui oficialmente por volta de 1987. Quando os álbuns todos eram conseguidos, era a hora de ir atrás dos compactos com músicas inéditas. Dentre esses nenhum era mais desejado que o The $5.98 E.P.: Garage Days Re-Revisited, que trazia a banda tocando covers de bandas da New Wave of British heavy metal e de hardcore do início dos anos 80 como os Misfits.
Lançado em 1988, esse foi o primeira participação de Jason Newsted em disco com a banda.
Pouco mais de uma década depois, o grupo resolveu não só relançar o disquinho como atualizá-lo.
Às cinco faixas originais, foram acrescidas mais covers lançadas em lados B de compactos e outras versões foram gravadas especialmente para o projeto.
O espírito seguiu o mesmo do EP dos anos 80, com várias canções de bandas obscuras do início daquela década (todas dando graças aos céus pelos mais que benvindos direitos autorais), mas também ampliando o espectro para homenagear grandes pioneiros da música pesada (Black Sabbath, Blue Öyster Cult e mesmo o Quenn), grupos setentistas como o Thin Lizzy, os autores do hit do disco Whiskey In The Jar e o Lynyrd Skynyrd e também bandas como o Motörhead (com quatro músicas regravadas).
Um trabalho divertido, honesto e sincero esse é um disco que todo fã da banda trata, ou deveria tratar, com carinho.
2. It's Electric
3. Sabbra Cadabra
4. Turn The Page
5. Die, Die My Darling
6. Loverman
7. Mercyful Fate
8. Astronomy
9. Whiskey In The Jar
10. Tuesday's Gone
11. The More I See
12. Helpless
13. The Small Hours
14. The Wait
15. Crash Course In Brain Surgery
16. Last Caress / Green Hell
17. Am I Evil?
18. Blitzkrieg
19. Breadfan
20. The Prince
21. Stone Cold Crazy
22. So What
23. Killing Time
24. Overkill
25. Damage Case
26. Stone Dead Forever
27. Too Late Too Late
St. Anger - 2003
Entre o disco de covers e esse, o grupo lançou em 1999 S&M, seu primeiro álbum ao vivo de fato, se descontarmos a caixa Live Shit: Binge & Purge, que juntava 3 CDs e 3 VHSs - ou DVDs na nova versão - e que obviamente foi feito visando os fãs mais fiéis.
S&M trazia a inimaginável junção da banda com uma orquestra sinfônica e, ao contrário do esperado, funcionou melhor do que se imaginava. Esse foi o disco final gravado por Jason Newsted que decidiu abandonar a banda logo em seguida.
Quando em 2002 o trio restante se reuniu para finalmente gravar novas canções os problemas que sempre foram varridos pra baixo do tapete começaram a surgir: o alcoolismo de Hetfield, a falta de comunicação e espaço que levaram Newsted a pedir as contas e também o fato de que a banda e seus membros precisavam voltar a ser quem eram antes do mega-sucesso.
No estúdio o que mais se viu foram brigas, discussões, ameaças de abandono do navio e crises de choro. Tudo documentado por câmeras que ali filmavam um documentário sobre a banda.
"St. Anger" saiu pesado e raivoso como há muito a banda não se mostrava, mas isso não significa que o resultado foi do agrado dos fãs e mesmo da banda. Já o documentário "Some Kind of Monster" é uma pequena obra-prima e é obrigatório para qualquer um com interesse na banda, no rock ou em como esse mundo todo pode causar sérios danos psicológicos aos seus envolvidos (ainda que no final você ganhe muitos milhões de dólares).
2. St. Anger
3. Some Kind Of Monster
4. Dirty Window
5. Invisible Kid
6. My World
7. Shoot Me Again
8. Sweet Amber
9. The Unnamed Feeling
10. Purify
11. All Within My Hands
Death Magnetic - 2008
Ou o disco da redenção. Aqui fica claro que o projeto "St. Anger/Some Kind of Monster" serviu para a banda exorcizar seus demônios e finalmente colocarem tudo o que havia entre eles na mesa. O passo seguinte era finalmente se reconectar com eles mesmos e seus fãs e entregar um disco digno do nome Metallica.
Death Magnetic é exatamente isso. Com o novo sangue trazido pelo baixista Robert Trujillo (ex-Suicidal Tendencies) o grupo resolveu retornar aos anos de ouro da banda, fazendo um disco de Thrash pra nenhum fã dos álbuns dos anos 80 do grupo reclamar.
Estavam de volta as faixas épicas, longas e os temas sombrios e novamente o quarteto se jogou na estrada com vontade.
Até agora já foram mais de 150 shows e a próxima parada como vocês já devem saber é o Brasil, nos dias 28 em Porto Alegre e 30 e 31 de janeiro em São Paulo.
A se julgar pelo repertório apresentado em Lima e Buenos Aires. os fãs brasileiros da banda podem esperar um show composto em 70% de clássicos, sucessos e músicas menos tocadas dos cinco primeiro discos, ao lado de algumas músicas mais recentes como Cyanide e That Was Just Your Life. Ou seja, uma noitada imperdível tanto para os fãs de carteirinha quanto para os admiradores mais casuais.
2. The End Of The Line
3. Broken, Beat & Scarred
4. The Day That Never Comes
5. All Nightmare Long
6. Cyanide
7. The Unforgiven Iii
8. The Judas Kiss
9. Suicide & Redemption
10. My Apocalypse
