Por Leandro Saueia
Com mais de cinquenta anos nas costas é obviamente impossível resumir a história da música pop em apenas 100 canções. A nossa intenção com esse especial foi o de criar uma espécie de "curso instantâneo" para quem quer conhecer melhor o gênero e sua história (aos experts tentamos trazer novas histórias, abordagens e justificativas para a inclusão de cada música). Apesar do "rock" na chamada, o termo "pop" cai melhor já que a ideia aqui foi tentar mostrar as inúmeras ramificações pela qual o gênero passou (soul, rap, funk, disco, pós punk, progressivo, grunge, psicodélicos, bandas de garagem, reggae...) desde os anos 50. Assim a lista é abrangente o bastante para abraçar nomes famosos e outros nem tanto, bandas que gravaram uma grande música e desapareceram e outras que criaram tanta coisa marcante que foi difícil decidir qual canção deveria entrar no top 100.
Tentamos também ser objetivos na criação da lista evitando que o gosto pessoal interviesse no resultado (assim se você sentir falta de alguma banda ou artista, saiba que nós também deixamos inúmeros favoritos de fora). Ainda assim, quem souber ler nas entrelinhas vai ver que a relação tem na verdade bem mais que 100 canções.
Os 100 nomes são assim uma espécie de "consenso da crítica", com artistas e músicas que sempre figuram em eleições de "melhores de todos os tempos" (o site www.rocklist.net foi uma das maiores fontes). O nosso dedo entrou mais na hora dos critérios, sendo o principal deles o de evitar ao máximo a repetição de nomes, a não ser que ele fosse indispensável (os artistas com duas ou mais mudanças radicais de estilo em sua trajetória). Por esse mesmo motivo não incluímos canções das carreiras solo de ex-membros de bandas já incluídas (o que explica a ausência de John Lennon, Lou Reed e Iggy Pop, entre outros).
A inclusão das músicas baseou-se em diversos critérios para evitarmos uma listagem monótona. Por vezes escolhemos a música mais famosa, em outras a mais influente e em algumas situações a que acreditamos ser a melhor porta de entrada para o artista ou gênero.
Com todas as explicações dadas estamos abertos para críticas, dúvidas e sugestões. Mas, agora é hora de deixar de papo e irmos para: As 100 Músicas mais representativas da era do Rock!
Elvis Presley: "That's All Right"
Ou a pedra fundamental do rock 'n roll. A história de "That's All Right" já virou lenda. Conta-se que no intervalo de uma de suas primeiras gravações, em 5 de julho de 1954, Elvis começou a brincar com uma antiga canção country no que foi seguido pelo pessoal da banda. Sam Philips, o produtor e dono dos estúdios Sun, perguntou o que era aquilo e pediu para eles não pararem. Surgia ali o misto de country e blues que viraria o rock'n'roll e Philips provou que estava certo quando disse que se encontrasse um branco que cantasse como negro ficaria rico.
Little Richard: "Tutti Frutti"
Mais que uma música, um grito de guerra selvagem e primal. "Tutti Frutti" representa bem o que era Richard nos anos 50: o primeiro rock star sexualmente ambíguo, um homem que causava polêmica e escândalo e que com isso obviamente conquistava fãs. Poucos anos depois o cantor se convenceu que o rock era coisa do diabo e tornou-se pastor. Hoje ele encontra-se em paz consigo e sua obra e segue tocando seus velhos hits pelo mundo.
Se o rock dos anos 50 era rude e cru, Holly era o oposto disso. Buddy Holly preferia fazer canções mais melodiosas com raízes fortes no country e no pop das décadas anteriores.
Ele também foi o primeiro roqueiro com pinta de nerd, com seus óculos de lente grossa e cara de bom moço. Por isso pode-se falar que foi ele que abriu caminho para o surgimento do conceito de "pop/rock". Buddy Holly, com sua banda The Crickets, também criou o formato básico de uma banda de rock: duas guitarras, baixo e bateria.
Dentre as poucas gravações que deixou em vida, ""That'll Be The Day"" é uma das mais felizes, mas discoteca nenhuma está completa sem uma boa coletânea dele com outros sucessos como "Peggy Sue" e "Oh Boy!". Holly aparentava ter um futuro brilhante, mas tudo se interrompeu no dia 3 de fevereiro de 1959 quando ele perdeu sua vida no mesmo acidente aéreo que matou Ritchie Vallens. Paul McCartney, era tão fã, que anos mais tarde veio a comprar os direitos de suas canções.
Chuck Berry: "Johnny B. Goode"
Berry talvez só perca para Jimi Hendrix no quesito guitarrista mais influente do pós guerra. Seus riffs e trejeitos foram imitados, aumentados e, por vezes, até aperfeiçoados, mas jamais igualados.
Ele também se mostrou um dos melhores letristas do rock com suas histórias cheias de malandragem que atingiam o coração de teens ao redor do planeta.
É difícil selecionar só uma canção para representá-lo, mas "Johnny B. Goode" cumpre a tarefa, pois mais do que um grande hit ela se tornou um verdadeiro standard do rock, tendo sido interpretada desde então por um sem número de artistas e bandas, assim como várias outras de suas canções.
Ray Charles: "What'd i Say"
Antes havia o sagrado (a música Gospel) e o profano (o Blues). Ray Charles, que era cego desde a infância, numa tacada de gênio juntou as duas coisas em um só e criou o Rhythm 'n Blues que iria evoluir e se tornar nos anos seguintes a soul music. "What'd i Say", tinha 8 minutos originalmente e acabou dividida em duas partes no compacto. Outras duas versões foram feitas para agradar aos lojistas e pessoal de rádio. O resultado compensou, já que esse foi o primeiro disco do artista a vender 1 milhão de cópias.
Em 2004,a no em que morreu, a atribulada vida do músico virou o filme "Ray" que deu a Jammie Fox o Oscar de melhor ator por sua interpretação do artista.
The Shirelles: "Will You Still Love Me Tomorrow?"
Os grupos de garotas foram uma das manias no início dos anos 60 que até hoje rende frutos e filhotes. As Shirelles fizeram grande sucesso com essa canção de Carole King (que em 1971 a regravou em seu clássico disco "Tapestry"). Além da melodia e do arranjo cativantes, o que chamava a atenção era a letra da canção. Bastante ousada para a época, ela contava a história da garota que ouvia os maiores elogios do parceiro pela noite e depois se perguntava se "amanhã ele ainda a amaria".
Roy Orbison: "Crying"
Nos anos 50 Orbison gravou muito rockabilly para a Sun Records. Mas foi só quando passou a gravar baladas é que sua carreira engrenou. Suas canções eram deliciosos pequenos dramas que ganhavam muito com seus falsetes e seu poder interpretativo. Roy, que morreu em 1989, gravou outros clássicos do pop como "In Dreams" e "Oh Pretty Woman", mas "Crying" é mesmo sua obra prima, capaz de levar não só o personagem da canção, mas qualquer um, às lágrimas.
Entre o fim da primeira era do rock no final dos anos 50 e o estouro dos Beatles em 1963, eram os produtores as figuras mais poderosas do pop, muito mais do que os intérpretes. E nenhum produtor foi mais famoso e influente que Phil Spector.
Aqui podemos ouvir o estilo que caracterizava suas gravações conhecido como "parede de som".
O nome foi dado pelo fato dele sempre gravar com inúmeros instrumentistas (e instrumentos), o que resultava uma massa sonora de forte impacto, especialmente na época em que o mono reinava.
"Be My Baby", hit até hoje, foi um dos mais bem acabados exemplos de suas "sinfonias para os adolescentes" e serve para mostrar como todas as fases de uma música são importantes para um resultado satisfatório: a composição, a escolha certa do intérprete, estúdio e músicos, a produção adequada da performance e por fim, a mixagem.
The Kingsmen: "Louie Louie"
Há quem diga que rock não precisa de sofisticação e que por vezes é melhor que não tenha nenhuma mesmo. Para os defensores dessa tese isso nunca isso foi tão claro quanto nesse verdadeiro hino gravado e regravado à exaustão por inúmeros artistas das mais diversas envergaduras (Troggs, The Kinks, Iggy Pop...). Essa aqui é a versão mais clássica, gravada pelos Kingsmen, um quinteto de Portland que dali despontou para o anonimato.
Tudo bem, eles já tinham deixado sua marca na história com essa típica canção de execução facílima. Por isso mesmo ela é sempre uma das primeiras que várias bandas tocam quando estão começando.
The Beatles: "A Hard Day's Night"
Sintetizar a carreira dos Beatles em poucas canções é tarefa dura. "A Hard Day's Night" entra aqui pelo frescor que ainda exala, pelo seu acorde inicial de causar arrepios, e porque sempre vai estar ligada às cenas inicias do filme de mesmo nome, a melhor descrição do que foi a Beatlemania.
Nos anos (ou mesmo meses) seguintes, a banda seguiu evoluindo em uma proporção raramente vista, como veremos mais à frente.
The Kinks: "You Really Got Me
Os Kinks eram a banda de Ray Davies, um dos grandes cronistas da vida social inglesa e compositor de mão cheia. No decorrer dos anos 60 (e nas três décadas seguintes), ele também criou óperas rock, baladas antológicas e brigou muito com seu irmão mais novo Dave Davies.
Mais que isso, para muitos ele criou o heavy metal em 1964, ao lançar esses três minutos de energia em estado bruto. Segundo a lenda quem toca o solo é Jimmy Page que, antes de formar o Led Zeppelin era músico de estúdio - mas o guitarrista até hoje não confirma e nem desmente a história, propositadamente preferindo manter o mistério.
Sam Cooke: "A Change is Gonna Come
Para muitos, Rod Stewart por exemplo, Sam Cooke foi o maior cantor que já pisou nesse planeta. Cooke morreu assassinado em 11 de dezembro de 1964 em situação que nunca foi claramente esclarecida.
Poucos dias antes ele gravou este clássico, bastante influenciado pela música de protesto de Bob Dylan, que seria muito usada em manifestos pelos direitos civis da população negra norte-americana. "A Change..." marcava uma guinada na direção da carreira do artista (muitas vezes acusado de estar diluindo sua música para o público branco). Infelizmente ela acabou sendo seu epitáfio ao invés de um novo começo.
Righteous Brothers: "You've Lost That Lovin' Feelin'"
Uma das canções mais executadas da história, ou mesmo a mais tocada segundo algumas fontes, "You've lost..." é um épico de quatro minutos, (que no selo trazia uma duração de 3:05 para não assustar os radialistas) mais uma vez produzido por Phil Spector e interpretado por Bill Medley e seu barítono inigualável.
Diz a lenda que Bobby Hatfield, o parceiro de Medley na dupla, se incomodou ao ver que sua participação na música era mínima e perguntou para Spector o que iria então fazer enquanto Bill cantava. O produtor teria respondido: "Você vai direto até a p# do banco."
The Rolling Stones: "(I Can't Get No) Satisfaction"
Existem músicas e existem hinos, canções que marcam toda uma geração e continuam fazendo sentido para aqueles que chegam depois. Assim é ""(I Can't Get No) Satisfaction", uma música que pode-se ouvir sem parar e mesmo assim não ficar cansado dela. Além de ter se tornado talvez o maior clássico do rock, a faixa serviu para mostrar que o quinteto inglês não era mais uma entre as tantas bandas britânicas que estavam conseguindo emplacar nos Estados Unidos na cola dos Beatles.
Ao contrário de muitos grupos, os Stones tinham um som e temática próprios, além de talento e arrogância em quantidades suficientes para lhes garantir um lugar ao sol mesmo quando a chamada invasão inglesa atingiu seu ponto de saturação.
Os Byrds foram a banda americana que mais revoluções causou no panorama pop de sua época. Esse foi o primeiro compacto deles e ajudou a misturar dois mundos que vivam separados: o da música folk, reduto de universitários politizados e sem muita paciência para as frivolidades do pop e o mundo do rock, representado principalmente pelos Beatles, então em seu auge comercial.
"Mr. Tambourine Man", levou o grupo, e, por tabela, Bob Dylan, o autor da canção, ao primeiro lugar da parada americana e daria início a uma carreira repleta de grandes momentos como veremos mais abaixo.
The Miracles: "The Tracks Of My Tears"
Se até Bob Dylan disse que Smokey Robinson era o maior compositor vivo, quem somos nós para discordar? Ao lado dos Miracles, Robinson ajudou a espalhar pelo mundo o "som da Motown", a saber, uma música que era, acima de tudo negra, ams também doce e rica em melodia, em contraste com o som mais rude e cru que sempre foi o preferido pelos fãs e músicos mais tradicionais da black music.
Com essa fórmula, a Motown tomou conta dos anos 60 com a sua conhecida ?linha de montagem? (a gravadora ficava em Detroit a terra das montadoras de veículos).
Tudo ali era estudado: o figurino, a postura do artista e qual o compositor certo para cada cantor ou grupo. Todos eles eram acompanhados pela banda da casa, os brilhantes Funk Brothers.
Robinson escapava um pouco desse esquema porque sabia cantar como poucos, compor como outros menos ainda e também era o vice-presidente da companhia. "The Tracks Of My Tears" é o seu ápice como artista. Em cima da melodia perfeita, Robinson conta brilhantemente a história do rapaz triste que se esconde por trás de uma máscara de felicidade.
Bob Dylan: "Like A Rolling Stone"
"Existem artistas que falam por sua geração". Foi assim que o ator Jack Nicholson apresentou Bob Dylan no Live Aid de 1985. Entrar no mundo de Dylan pode ser difícil: as letras são gigantescas, a voz anasalada não ajuda e até para quem fala inglês muito bem pode ser difícil de captar todas as imagens de suas letras. Mas quando você entra nesse planeta dificilmente sai.
Essa canção é uma excelente porta de entrada para esse mundo: seja pela linha de órgão criada no improviso por Al Kooper, pela melodia forte que não cansa, apesar dos mais de seis minutos e pela interpretação carregada do cantor falando da madame que vira mendiga.
Dylan gravou vários discos e músicas fundamentais antes e depois desse compacto de julho de 1965, mas aqui mais do que uma simples canção a gente fala de um acontecimento que marcaria a história da arte no século 20. A revista Rolling Stone a elegeu a melhor música da história do rock e a inglesa Uncut a considerou o maior acontecimento da cultura pop dos últimos 50 anos.
The Beach Boys: "California Girls
Os Beach Boys foram das poucas bandas americanas a fazer frente aos Beatles na década de 60. As composições de Brian Wilson no começo falavam de surf, garotas e carrões em um momento em que, pensava-se, a vida seria sempre um mar de rosas. Em 1965 Brian sofreu um colapso mental e parou com os shows para se dedicar ao trabalho em estúdio.
A decisão foi acertada, já que "California Girls" mostrava que ele só evoluía como compositor e produtor. Duas curiosidades: a introdução da canção é considerada por Brian o melhor trecho de música escrito por ele e em 1985 David Lee Roth, o vocalista do Van Halen, gravou uma versão da música com bastante sucesso, que contava com a participação do próprio Brian Wilson nos vocais de apoio.
The Temptations: "My Girl"
Além de cantor e vice-presidente da empresa, Smokey Robinson era um dos principais compositores da gravadora Motown. Ninguém tirou mais proveito de suas canções que os Temptations, o grupo de música negra mais popular dos EUA nos anos 60.
Dentre os inúmeros hits que o grupo teve, "My Girl" brilha de forma mais intensa. Eis aqui uma canção capaz de cativar sucessivas gerações de ouvintes graças à combinação perfeita de letra e melodia.
Na segunda metade dos anos 60 os Temptations mudaram radicalmente. A banda passou a gravar discos de "soul psicodélico" com o produtor Norman Whitfield em outra fase rica e que rendeu outros ótimos sucessos como "Papa Was A Rolling Stone".
The Who: "Substitute"
O The Who surgiu no início dos anos 60 e logo se tornou a principal banda Mod da Inglaterra (uma tribo que gostava de soul music, boas roupas, lambretas e de arrumar briga com os suburbanos rockers). Antes de descobrir a ópera rock, Pete Towshend, o guitarrista e autor de 98% das músicas, era o rei dos compactos.
Quase todos os singles que ele compôs para a banda nos anos 60 são antológicos.
Na verdade, pelo menos "I Can See For Miles" e "My Generation deveriam também estar aqui (além, é claro, de "Won't Get Fooled Again" sobre a qual já já falamos mais). Mas, como o espaço é curto, ficamos com esse perfeito exemplo do chamado pop perfeito: uma canção curta, simples e capaz de levar o ouvinte para um outro estado de espírito assim que seus acordes começam a soar.
Ike and Tina Turner: "River Deep, Mountain High"
O último grande momento de Phil Spector também marca o fim de uma era. Dessa vez ele contratou Tina Turner a peso de ouro (Ike Turner, o marido, parceiro musical e espancador de esposa, ficou só olhando) e por meses trabalhou no que seria a sua maior criação.
Em partes ele conseguiu seu feito, pois poucas músicas na história do pop são tão celebradas quanto "River Deep, Mountain High". O problema é que, apesar de ter atingido a terceira posição na parada britânica, o disco foi um gigantesco fracasso na América.
Terminava ali a era dos produtores e Phil nunca mais se recuperaria apesar de ter trabalhado nos anos 70 com John Lennon e George Harrison. Já Paul McCartney nunca perdoou o arranjo sentimental feito por ele para "The Long And Winding Road" no disco "Let it Be" dos Beatles.
Ike and Tina Turner seguiram fazendo nos anos 60 e começo dos 70 um dos melhores shows que já se teve notícia. Um dia Tina se cansou dos abusos do marido e fugiu de seu algoz só com a roupa do corpo. Após anos difíceis ela conseguiu se reerguer para se tornar uma das maiores estrelas pop dos anos 80. Já Spector em 2009 acabou condenado a 19 anos de cadeia pelo assassinato da atriz Lana Clarkson.
The Byrds: "Eight Miles High"
Ao contrário do que se pensa, essa não é uma música sobre drogas. Mas fica difícil acreditar na história de que ela só fala sobre a primeira turnê dos Byrds pela Inglaterra. Tanto que a música na época foi banida em boa parte das rádios americanas.
Se a letra em tese não fazia nenhuma alusão ao LSD, a música realmente parecia ter sido feita após uma grande viagem, especialmente por conta dos solos de guitarra de Roger McGuinn, inspirados diretamente na música do saxofonista John Coltrane.
"Eight Miles High", considerado o primeiro single psicodélico, influenciaria boa parte da música que foi ouvida no mundo nos anos seguintes e segue moderna e instigante.
The Beatles: "Strawberry Fields Forever"
Cansados das fãs barulhentas e de todo o caos que os circundava, os Beatles decidiram parar de tocar ao vivo e se concentrar apenas nas sessões de gravação.
A partir dali a banda iria se dedicar a compor e a experimentar drogas e novas técnicas de estúdio. "Strawberry Fields Forever" mostra esse novo lado deles.
Numa composição onde John Lennon relembra sua infância - Strawberry Fields era um orfanato onde ele brincava - ouvimos uma melodia que soa ao mesmo tempo familiar e estranha. O mais engraçado é saber que o compacto (que também tinha "Penny Lane" do outro lado) hoje considerado um dos cinco ou dez fundamentais do rock, foi o primeiro do grupo em muito tempo a não atingir o primeiro lugar na parada britânica.
The Kinks: "Waterloo Sunset
Essa balada melancólica é uma das músicas mais queridas dos ingleses, que sempre a colocam nas primeiras posições quando fazem suas listas de "melhores compactos da história".
Essa ode ao jeito inglês de se viver mostra o porquê da banda de Ray Davies fazer parte do "quarteto fantástico" inglês com os Beatles, Rolling Stones e The Who.
Velvet Underground: "Venus In Furs"
Em 1967 o mundo parecia ter entrado numa vibe coletiva de paz, amor e flores no cabelo. Obviamente algumas pessoas não foram tomadas pelo espírito hippie, como por exemplo esses Nova Nova-iorquinos que preferiam cantar sobre traficantes, heroína, paranoia ou, como nessa canção, sadomasoquismo.
Tudo regado a muita dissonância, barulhos diversos e, sim, até boas melodias pop.
O primeiro disco do Velvet Underground não vendeu nada em sua época, mas, como costuma ser dito, quem o comprou montou uma banda. O grupo de Lou Reed (e John Cale que saiu depois do segundo LP para se tornar artista solo e produtor) foi pra lá de visionário, já que o glam rock, o punk, o pós punk e os estilos dali derivados, jamais teriam existido sem o quarteto.
Ainda assim, na época com poucas vendas a banda sucumbiu em 1970 depois do lançamento de seu quarto trabalho. Felizmente eles tiveram a sorte de ter David Bowie entre os seus fãs. Assim que ele estourou, no início dos anos 70, uma das primeiras coisas que fez foi tirar Lou Reed do limbo em que ele se encontrava. Bowie acabou produzindo "Transformer" (1972), o álbum mais popular do músico morto em 2013.
Leia aqui a segunda parte desse especial
Com mais de cinquenta anos nas costas é obviamente impossível resumir a história da música pop em apenas 100 canções. A nossa intenção com esse especial foi o de criar uma espécie de "curso instantâneo" para quem quer conhecer melhor o gênero e sua história (aos experts tentamos trazer novas histórias, abordagens e justificativas para a inclusão de cada música). Apesar do "rock" na chamada, o termo "pop" cai melhor já que a ideia aqui foi tentar mostrar as inúmeras ramificações pela qual o gênero passou (soul, rap, funk, disco, pós punk, progressivo, grunge, psicodélicos, bandas de garagem, reggae...) desde os anos 50. Assim a lista é abrangente o bastante para abraçar nomes famosos e outros nem tanto, bandas que gravaram uma grande música e desapareceram e outras que criaram tanta coisa marcante que foi difícil decidir qual canção deveria entrar no top 100.
Tentamos também ser objetivos na criação da lista evitando que o gosto pessoal interviesse no resultado (assim se você sentir falta de alguma banda ou artista, saiba que nós também deixamos inúmeros favoritos de fora). Ainda assim, quem souber ler nas entrelinhas vai ver que a relação tem na verdade bem mais que 100 canções.
Os 100 nomes são assim uma espécie de "consenso da crítica", com artistas e músicas que sempre figuram em eleições de "melhores de todos os tempos" (o site www.rocklist.net foi uma das maiores fontes). O nosso dedo entrou mais na hora dos critérios, sendo o principal deles o de evitar ao máximo a repetição de nomes, a não ser que ele fosse indispensável (os artistas com duas ou mais mudanças radicais de estilo em sua trajetória). Por esse mesmo motivo não incluímos canções das carreiras solo de ex-membros de bandas já incluídas (o que explica a ausência de John Lennon, Lou Reed e Iggy Pop, entre outros).
A inclusão das músicas baseou-se em diversos critérios para evitarmos uma listagem monótona. Por vezes escolhemos a música mais famosa, em outras a mais influente e em algumas situações a que acreditamos ser a melhor porta de entrada para o artista ou gênero.
Com todas as explicações dadas estamos abertos para críticas, dúvidas e sugestões. Mas, agora é hora de deixar de papo e irmos para: As 100 Músicas mais representativas da era do Rock!
Elvis Presley: "That's All Right"
Ou a pedra fundamental do rock 'n roll. A história de "That's All Right" já virou lenda. Conta-se que no intervalo de uma de suas primeiras gravações, em 5 de julho de 1954, Elvis começou a brincar com uma antiga canção country no que foi seguido pelo pessoal da banda. Sam Philips, o produtor e dono dos estúdios Sun, perguntou o que era aquilo e pediu para eles não pararem. Surgia ali o misto de country e blues que viraria o rock'n'roll e Philips provou que estava certo quando disse que se encontrasse um branco que cantasse como negro ficaria rico.
Little Richard: "Tutti Frutti"
Mais que uma música, um grito de guerra selvagem e primal. "Tutti Frutti" representa bem o que era Richard nos anos 50: o primeiro rock star sexualmente ambíguo, um homem que causava polêmica e escândalo e que com isso obviamente conquistava fãs. Poucos anos depois o cantor se convenceu que o rock era coisa do diabo e tornou-se pastor. Hoje ele encontra-se em paz consigo e sua obra e segue tocando seus velhos hits pelo mundo.
Divulgação
Buddy Holly: "That'll Be The Day"Se o rock dos anos 50 era rude e cru, Holly era o oposto disso. Buddy Holly preferia fazer canções mais melodiosas com raízes fortes no country e no pop das décadas anteriores.
Ele também foi o primeiro roqueiro com pinta de nerd, com seus óculos de lente grossa e cara de bom moço. Por isso pode-se falar que foi ele que abriu caminho para o surgimento do conceito de "pop/rock". Buddy Holly, com sua banda The Crickets, também criou o formato básico de uma banda de rock: duas guitarras, baixo e bateria.
Dentre as poucas gravações que deixou em vida, ""That'll Be The Day"" é uma das mais felizes, mas discoteca nenhuma está completa sem uma boa coletânea dele com outros sucessos como "Peggy Sue" e "Oh Boy!". Holly aparentava ter um futuro brilhante, mas tudo se interrompeu no dia 3 de fevereiro de 1959 quando ele perdeu sua vida no mesmo acidente aéreo que matou Ritchie Vallens. Paul McCartney, era tão fã, que anos mais tarde veio a comprar os direitos de suas canções.
Chuck Berry: "Johnny B. Goode"
Berry talvez só perca para Jimi Hendrix no quesito guitarrista mais influente do pós guerra. Seus riffs e trejeitos foram imitados, aumentados e, por vezes, até aperfeiçoados, mas jamais igualados.
Ele também se mostrou um dos melhores letristas do rock com suas histórias cheias de malandragem que atingiam o coração de teens ao redor do planeta.
É difícil selecionar só uma canção para representá-lo, mas "Johnny B. Goode" cumpre a tarefa, pois mais do que um grande hit ela se tornou um verdadeiro standard do rock, tendo sido interpretada desde então por um sem número de artistas e bandas, assim como várias outras de suas canções.
Ray Charles: "What'd i Say"
Antes havia o sagrado (a música Gospel) e o profano (o Blues). Ray Charles, que era cego desde a infância, numa tacada de gênio juntou as duas coisas em um só e criou o Rhythm 'n Blues que iria evoluir e se tornar nos anos seguintes a soul music. "What'd i Say", tinha 8 minutos originalmente e acabou dividida em duas partes no compacto. Outras duas versões foram feitas para agradar aos lojistas e pessoal de rádio. O resultado compensou, já que esse foi o primeiro disco do artista a vender 1 milhão de cópias.
Em 2004,a no em que morreu, a atribulada vida do músico virou o filme "Ray" que deu a Jammie Fox o Oscar de melhor ator por sua interpretação do artista.
The Shirelles: "Will You Still Love Me Tomorrow?"
Os grupos de garotas foram uma das manias no início dos anos 60 que até hoje rende frutos e filhotes. As Shirelles fizeram grande sucesso com essa canção de Carole King (que em 1971 a regravou em seu clássico disco "Tapestry"). Além da melodia e do arranjo cativantes, o que chamava a atenção era a letra da canção. Bastante ousada para a época, ela contava a história da garota que ouvia os maiores elogios do parceiro pela noite e depois se perguntava se "amanhã ele ainda a amaria".
Roy Orbison: "Crying"
Nos anos 50 Orbison gravou muito rockabilly para a Sun Records. Mas foi só quando passou a gravar baladas é que sua carreira engrenou. Suas canções eram deliciosos pequenos dramas que ganhavam muito com seus falsetes e seu poder interpretativo. Roy, que morreu em 1989, gravou outros clássicos do pop como "In Dreams" e "Oh Pretty Woman", mas "Crying" é mesmo sua obra prima, capaz de levar não só o personagem da canção, mas qualquer um, às lágrimas.
Divulgação
The Ronettes: "Be My Baby"Entre o fim da primeira era do rock no final dos anos 50 e o estouro dos Beatles em 1963, eram os produtores as figuras mais poderosas do pop, muito mais do que os intérpretes. E nenhum produtor foi mais famoso e influente que Phil Spector.
Aqui podemos ouvir o estilo que caracterizava suas gravações conhecido como "parede de som".
O nome foi dado pelo fato dele sempre gravar com inúmeros instrumentistas (e instrumentos), o que resultava uma massa sonora de forte impacto, especialmente na época em que o mono reinava.
"Be My Baby", hit até hoje, foi um dos mais bem acabados exemplos de suas "sinfonias para os adolescentes" e serve para mostrar como todas as fases de uma música são importantes para um resultado satisfatório: a composição, a escolha certa do intérprete, estúdio e músicos, a produção adequada da performance e por fim, a mixagem.
The Kingsmen: "Louie Louie"
Há quem diga que rock não precisa de sofisticação e que por vezes é melhor que não tenha nenhuma mesmo. Para os defensores dessa tese isso nunca isso foi tão claro quanto nesse verdadeiro hino gravado e regravado à exaustão por inúmeros artistas das mais diversas envergaduras (Troggs, The Kinks, Iggy Pop...). Essa aqui é a versão mais clássica, gravada pelos Kingsmen, um quinteto de Portland que dali despontou para o anonimato.
Tudo bem, eles já tinham deixado sua marca na história com essa típica canção de execução facílima. Por isso mesmo ela é sempre uma das primeiras que várias bandas tocam quando estão começando.
The Beatles: "A Hard Day's Night"
Sintetizar a carreira dos Beatles em poucas canções é tarefa dura. "A Hard Day's Night" entra aqui pelo frescor que ainda exala, pelo seu acorde inicial de causar arrepios, e porque sempre vai estar ligada às cenas inicias do filme de mesmo nome, a melhor descrição do que foi a Beatlemania.
Nos anos (ou mesmo meses) seguintes, a banda seguiu evoluindo em uma proporção raramente vista, como veremos mais à frente.
The Kinks: "You Really Got Me
Os Kinks eram a banda de Ray Davies, um dos grandes cronistas da vida social inglesa e compositor de mão cheia. No decorrer dos anos 60 (e nas três décadas seguintes), ele também criou óperas rock, baladas antológicas e brigou muito com seu irmão mais novo Dave Davies.
Mais que isso, para muitos ele criou o heavy metal em 1964, ao lançar esses três minutos de energia em estado bruto. Segundo a lenda quem toca o solo é Jimmy Page que, antes de formar o Led Zeppelin era músico de estúdio - mas o guitarrista até hoje não confirma e nem desmente a história, propositadamente preferindo manter o mistério.
Sam Cooke: "A Change is Gonna Come
Para muitos, Rod Stewart por exemplo, Sam Cooke foi o maior cantor que já pisou nesse planeta. Cooke morreu assassinado em 11 de dezembro de 1964 em situação que nunca foi claramente esclarecida.
Poucos dias antes ele gravou este clássico, bastante influenciado pela música de protesto de Bob Dylan, que seria muito usada em manifestos pelos direitos civis da população negra norte-americana. "A Change..." marcava uma guinada na direção da carreira do artista (muitas vezes acusado de estar diluindo sua música para o público branco). Infelizmente ela acabou sendo seu epitáfio ao invés de um novo começo.
Righteous Brothers: "You've Lost That Lovin' Feelin'"
Uma das canções mais executadas da história, ou mesmo a mais tocada segundo algumas fontes, "You've lost..." é um épico de quatro minutos, (que no selo trazia uma duração de 3:05 para não assustar os radialistas) mais uma vez produzido por Phil Spector e interpretado por Bill Medley e seu barítono inigualável.
Diz a lenda que Bobby Hatfield, o parceiro de Medley na dupla, se incomodou ao ver que sua participação na música era mínima e perguntou para Spector o que iria então fazer enquanto Bill cantava. O produtor teria respondido: "Você vai direto até a p# do banco."
The Rolling Stones: "(I Can't Get No) Satisfaction"
Existem músicas e existem hinos, canções que marcam toda uma geração e continuam fazendo sentido para aqueles que chegam depois. Assim é ""(I Can't Get No) Satisfaction", uma música que pode-se ouvir sem parar e mesmo assim não ficar cansado dela. Além de ter se tornado talvez o maior clássico do rock, a faixa serviu para mostrar que o quinteto inglês não era mais uma entre as tantas bandas britânicas que estavam conseguindo emplacar nos Estados Unidos na cola dos Beatles.
Ao contrário de muitos grupos, os Stones tinham um som e temática próprios, além de talento e arrogância em quantidades suficientes para lhes garantir um lugar ao sol mesmo quando a chamada invasão inglesa atingiu seu ponto de saturação.
Divulgação
The Byrds: "Mr. Tambourine Man"Os Byrds foram a banda americana que mais revoluções causou no panorama pop de sua época. Esse foi o primeiro compacto deles e ajudou a misturar dois mundos que vivam separados: o da música folk, reduto de universitários politizados e sem muita paciência para as frivolidades do pop e o mundo do rock, representado principalmente pelos Beatles, então em seu auge comercial.
"Mr. Tambourine Man", levou o grupo, e, por tabela, Bob Dylan, o autor da canção, ao primeiro lugar da parada americana e daria início a uma carreira repleta de grandes momentos como veremos mais abaixo.
The Miracles: "The Tracks Of My Tears"
Se até Bob Dylan disse que Smokey Robinson era o maior compositor vivo, quem somos nós para discordar? Ao lado dos Miracles, Robinson ajudou a espalhar pelo mundo o "som da Motown", a saber, uma música que era, acima de tudo negra, ams também doce e rica em melodia, em contraste com o som mais rude e cru que sempre foi o preferido pelos fãs e músicos mais tradicionais da black music.
Com essa fórmula, a Motown tomou conta dos anos 60 com a sua conhecida ?linha de montagem? (a gravadora ficava em Detroit a terra das montadoras de veículos).
Tudo ali era estudado: o figurino, a postura do artista e qual o compositor certo para cada cantor ou grupo. Todos eles eram acompanhados pela banda da casa, os brilhantes Funk Brothers.
Robinson escapava um pouco desse esquema porque sabia cantar como poucos, compor como outros menos ainda e também era o vice-presidente da companhia. "The Tracks Of My Tears" é o seu ápice como artista. Em cima da melodia perfeita, Robinson conta brilhantemente a história do rapaz triste que se esconde por trás de uma máscara de felicidade.
Bob Dylan: "Like A Rolling Stone"
"Existem artistas que falam por sua geração". Foi assim que o ator Jack Nicholson apresentou Bob Dylan no Live Aid de 1985. Entrar no mundo de Dylan pode ser difícil: as letras são gigantescas, a voz anasalada não ajuda e até para quem fala inglês muito bem pode ser difícil de captar todas as imagens de suas letras. Mas quando você entra nesse planeta dificilmente sai.
Essa canção é uma excelente porta de entrada para esse mundo: seja pela linha de órgão criada no improviso por Al Kooper, pela melodia forte que não cansa, apesar dos mais de seis minutos e pela interpretação carregada do cantor falando da madame que vira mendiga.
Dylan gravou vários discos e músicas fundamentais antes e depois desse compacto de julho de 1965, mas aqui mais do que uma simples canção a gente fala de um acontecimento que marcaria a história da arte no século 20. A revista Rolling Stone a elegeu a melhor música da história do rock e a inglesa Uncut a considerou o maior acontecimento da cultura pop dos últimos 50 anos.
The Beach Boys: "California Girls
Os Beach Boys foram das poucas bandas americanas a fazer frente aos Beatles na década de 60. As composições de Brian Wilson no começo falavam de surf, garotas e carrões em um momento em que, pensava-se, a vida seria sempre um mar de rosas. Em 1965 Brian sofreu um colapso mental e parou com os shows para se dedicar ao trabalho em estúdio.
A decisão foi acertada, já que "California Girls" mostrava que ele só evoluía como compositor e produtor. Duas curiosidades: a introdução da canção é considerada por Brian o melhor trecho de música escrito por ele e em 1985 David Lee Roth, o vocalista do Van Halen, gravou uma versão da música com bastante sucesso, que contava com a participação do próprio Brian Wilson nos vocais de apoio.
The Temptations: "My Girl"
Além de cantor e vice-presidente da empresa, Smokey Robinson era um dos principais compositores da gravadora Motown. Ninguém tirou mais proveito de suas canções que os Temptations, o grupo de música negra mais popular dos EUA nos anos 60.
Dentre os inúmeros hits que o grupo teve, "My Girl" brilha de forma mais intensa. Eis aqui uma canção capaz de cativar sucessivas gerações de ouvintes graças à combinação perfeita de letra e melodia.
Na segunda metade dos anos 60 os Temptations mudaram radicalmente. A banda passou a gravar discos de "soul psicodélico" com o produtor Norman Whitfield em outra fase rica e que rendeu outros ótimos sucessos como "Papa Was A Rolling Stone".
The Who: "Substitute"
O The Who surgiu no início dos anos 60 e logo se tornou a principal banda Mod da Inglaterra (uma tribo que gostava de soul music, boas roupas, lambretas e de arrumar briga com os suburbanos rockers). Antes de descobrir a ópera rock, Pete Towshend, o guitarrista e autor de 98% das músicas, era o rei dos compactos.
Quase todos os singles que ele compôs para a banda nos anos 60 são antológicos.
Na verdade, pelo menos "I Can See For Miles" e "My Generation deveriam também estar aqui (além, é claro, de "Won't Get Fooled Again" sobre a qual já já falamos mais). Mas, como o espaço é curto, ficamos com esse perfeito exemplo do chamado pop perfeito: uma canção curta, simples e capaz de levar o ouvinte para um outro estado de espírito assim que seus acordes começam a soar.
Ike and Tina Turner: "River Deep, Mountain High"
O último grande momento de Phil Spector também marca o fim de uma era. Dessa vez ele contratou Tina Turner a peso de ouro (Ike Turner, o marido, parceiro musical e espancador de esposa, ficou só olhando) e por meses trabalhou no que seria a sua maior criação.
Em partes ele conseguiu seu feito, pois poucas músicas na história do pop são tão celebradas quanto "River Deep, Mountain High". O problema é que, apesar de ter atingido a terceira posição na parada britânica, o disco foi um gigantesco fracasso na América.
Terminava ali a era dos produtores e Phil nunca mais se recuperaria apesar de ter trabalhado nos anos 70 com John Lennon e George Harrison. Já Paul McCartney nunca perdoou o arranjo sentimental feito por ele para "The Long And Winding Road" no disco "Let it Be" dos Beatles.
Ike and Tina Turner seguiram fazendo nos anos 60 e começo dos 70 um dos melhores shows que já se teve notícia. Um dia Tina se cansou dos abusos do marido e fugiu de seu algoz só com a roupa do corpo. Após anos difíceis ela conseguiu se reerguer para se tornar uma das maiores estrelas pop dos anos 80. Já Spector em 2009 acabou condenado a 19 anos de cadeia pelo assassinato da atriz Lana Clarkson.
The Byrds: "Eight Miles High"
Ao contrário do que se pensa, essa não é uma música sobre drogas. Mas fica difícil acreditar na história de que ela só fala sobre a primeira turnê dos Byrds pela Inglaterra. Tanto que a música na época foi banida em boa parte das rádios americanas.
Se a letra em tese não fazia nenhuma alusão ao LSD, a música realmente parecia ter sido feita após uma grande viagem, especialmente por conta dos solos de guitarra de Roger McGuinn, inspirados diretamente na música do saxofonista John Coltrane.
"Eight Miles High", considerado o primeiro single psicodélico, influenciaria boa parte da música que foi ouvida no mundo nos anos seguintes e segue moderna e instigante.
The Beatles: "Strawberry Fields Forever"
Cansados das fãs barulhentas e de todo o caos que os circundava, os Beatles decidiram parar de tocar ao vivo e se concentrar apenas nas sessões de gravação.
A partir dali a banda iria se dedicar a compor e a experimentar drogas e novas técnicas de estúdio. "Strawberry Fields Forever" mostra esse novo lado deles.
Numa composição onde John Lennon relembra sua infância - Strawberry Fields era um orfanato onde ele brincava - ouvimos uma melodia que soa ao mesmo tempo familiar e estranha. O mais engraçado é saber que o compacto (que também tinha "Penny Lane" do outro lado) hoje considerado um dos cinco ou dez fundamentais do rock, foi o primeiro do grupo em muito tempo a não atingir o primeiro lugar na parada britânica.
The Kinks: "Waterloo Sunset
Essa balada melancólica é uma das músicas mais queridas dos ingleses, que sempre a colocam nas primeiras posições quando fazem suas listas de "melhores compactos da história".
Essa ode ao jeito inglês de se viver mostra o porquê da banda de Ray Davies fazer parte do "quarteto fantástico" inglês com os Beatles, Rolling Stones e The Who.
Velvet Underground: "Venus In Furs"
Em 1967 o mundo parecia ter entrado numa vibe coletiva de paz, amor e flores no cabelo. Obviamente algumas pessoas não foram tomadas pelo espírito hippie, como por exemplo esses Nova Nova-iorquinos que preferiam cantar sobre traficantes, heroína, paranoia ou, como nessa canção, sadomasoquismo.
Tudo regado a muita dissonância, barulhos diversos e, sim, até boas melodias pop.
O primeiro disco do Velvet Underground não vendeu nada em sua época, mas, como costuma ser dito, quem o comprou montou uma banda. O grupo de Lou Reed (e John Cale que saiu depois do segundo LP para se tornar artista solo e produtor) foi pra lá de visionário, já que o glam rock, o punk, o pós punk e os estilos dali derivados, jamais teriam existido sem o quarteto.
Ainda assim, na época com poucas vendas a banda sucumbiu em 1970 depois do lançamento de seu quarto trabalho. Felizmente eles tiveram a sorte de ter David Bowie entre os seus fãs. Assim que ele estourou, no início dos anos 70, uma das primeiras coisas que fez foi tirar Lou Reed do limbo em que ele se encontrava. Bowie acabou produzindo "Transformer" (1972), o álbum mais popular do músico morto em 2013.
Leia aqui a segunda parte desse especial