Jimi Hendrix: "Purple Haze"
Existem guitarristas e existe Jimi Hendrix. Até hoje ninguém conseguiu fazer tanto pelo instrumento em tão pouco tempo, já que ele morreu com meros 27 anos em 1970, longe de ter atingido todo seu potencial. Jimi experimentou timbres, efeitos e tocava muito, quer dizer MUITO.
Hendrix tinha uma predileção pelas faixas longas e experimentais, que desafiassem os limites. Já seu empresário Chas Chandler, preferia que ele, e sua banda, o Experience, lançassem músicas mais concisas que pudessem tocar na rádio e chegar ao grande público.
"Purple Haze" acabou servindo às duas partes, já que poucas músicas tão inventivas e ousadas como essa chegaram às paradas desde então. Hendrix também quebrou barreiras raciais, já que ele nunca se preocupou em separar negros e brancos - fosse no palco, na platéia ou em sua música, que era livre para ir do funk, blues e soul até o folk, jazz, pop ou o rock psicodélico.
The Beach Boys: "Good Vibrations"
Depois de ouvir "Rubber Soul", Brian Wilson, o lider dos Beach Boys, decidiu que ele precisaria superar os Beatles para poder manter-se na vanguarda da cena pop.
O álbum "Pet Sounds" (1966) foi o resultado direto dessa competição e ele pôde se gabar de ter conseguido seu intento, já que o trabalho resultou em um dos melhores, se não o melhor, discos de rock da história, ainda que não tenha sido um grande sucesso comercial.
As ambições de Wilson atingiriam o ápice com "Good Vibrations", o compacto que tomou as paradas de assalto em 1966 e 1967. Gravado a um custo astronômico em diversos estúdios, a faixa seria a peça central do disco "Smile". Infelizmente tomado por uma paranoia gigantesca que debilitou de vez o já frágil Wilson, o trabalho acabou abortado antes de seu término e os Beach Boys nunca mais teriam o mesmo sucesso.
37 anos depois, Wilson resolveu enfrentar seu maior fantasma e em 2004 ele finalmente resolveu gravar e lançar "Smile" tal como ele imaginou nos anos 60. Público e críticos concordaram que a espera valeu a pena. Em 2011 uma versão "reconstruída" a partir das sessões originais dos anos 60 também foi finalmente lançada.
Jefferson Airplane: "White Rabbit"
A cidade americana de São Francisco foi o berço da psicodelia. De lá saíram inúmeras bandas afeitas a longas viagens instrumentais (que funcionavam bem para um público que geralmente estava alucinando após o consumo de LSD e outras drogas alucinógenas) e em criar uma música capaz de expandir os horizontes do ouvinte e do rock como um todo.
Em meio a nomes como The Grateful Dead, Moby Grape, Big Brother and the Holding Co. (que revelaria Janis Joplin) e Quicksilver Messenger Service, brilhava o Jefferson Airplane responsáveis por bons discos e também por essa música com seu ritmo oriental e a letra tão direta quanto se podia ser em 1967 ("uma pílula te deixa grande e outra pequeno, mas as que a suas mãe te dá não fazem nada"). A faixa chegou no top 10 americano e tornou o grupo um dos principais garotos propaganda da cena de Haight-Ashbury. "White Rabbit" foi eleita pela revista britânica Mojo a melhor canção já escrita sobre drogas.
The Doors: "Break On Through (To the Other Side)"
Assim como o Velvet Underground, os Doors tinham um fascínio pelo lado oculto da vida.
Mas se a banda de Lou Reed passou anos no ostracismo, o grupo liderado pelo vocalista Jim Morrison se tornou muito popular, tocando para garotinhas histéricas e se apresentando no Ed Sullivan Show.
Jim tinha um comportamento errático por conta do abuso de substâncias lícitas e ilícitas. Sendo assim a banda era capaz de gravar grandes músicas e discos de material inferior. Break On Through (To the Other Side) obviamente entra na primeira lista, com John Densmore tocando uma espécie de bossa-nova, preparando a chegada do órgão de Ray Manzareck e os clássicos versos de abertura de Morrison: "You know the day destroys the night...".
Os excessos custaram a vida de Jim que morreu em 1971 aos 27 anos. Os três sobreviventes tentaram continuar mas desistiram após gravarem dois discos que, até hoje, quase ninguém ouviu. O legado por sua vez só aumentou seja na influência direta exercida em bandas como The Cult ou Echo and the Bunnymen na década de 80 ou com os jovens fãs que os conheceram através do filme biográfico dirigido por Oliver Stone em 1991.
Procol Harum: "A Whiter Shade of Pale"
Eis aqui um caso clássico de banda que tem sua carreira plenamente justificada apenas por uma canção. "A Whiter Shade of Pale" tomou conta do planeta em 1967 com sua letra enigmática, a interpretação de Gary Broker e, especialmente, o solo de órgão descendente direto de Bach.
Esses elementos tornaram a música uma das mais tocadas não só da época como da história.
Depois desse grande sucesso, eles nunca mais gravaram nada tão grandioso. Ainda assim, o Procol Harum lançou discos que passaram despercebidos pelo grande público, mas que são bastante estimados pelos fãs de rock progressivo.
Aretha Franklin: "Respect"
Otis Redding, que compôs e gravou essa música primeiro, após ouvir essa versão disse que Aretha Franklin tinha lhe roubado a sua canção. Aretha pode ser considerada a maior cantora da história da música pop. Até hoje milhares de aspirantes tentam chegar no seu nível de interpretação e alcance vocal em vão.
Na voz da cantora, "Respect" se tornou um hino feminista e também dos direitos civis. Ela ainda demonstra bem seus dotes e o de todos que a circundavam (o time de ouro da gravadora Atlantic como os produtores Jerry Wexler, Tom Dowd e Arif Mardin e os músicos da Muscle Shoes band).
Fãs de cantoras como Mariah Carrey ou Whitney Houston ganharão muito em conhecer os trabalhos da cantora gravados entre 1967 e 1973.
Otis Redding: "(Sittin' On) The Dock Of The Bay"
Representante maior do soul da gravadora Stax, bem mais cru e pesado que o da Motown, na metade dos anos 60 Otis Redding estava pronto para se tornar uma mega-estrela.
Sua participação no Festival de Monterey deixou todos presentes de boca aberta e o sonhado crossover (quando um artista consegue transpor o seu nicho de mercado) acenava.
Tudo isso acabou em 9 de dezembro de 1967 quando Otis morreu em um acidente aéreo logo após o término da gravação desta música.
"(Sittin' On) The Dock Of The Bay" saiu poucos dias depois e atingiu o primeiro posto da parada americana. Assim, como anos antes acontecera com Sam Cooke, o que era pra ser o início de uma nova fase tornou-se o epitáfio de uma das maiores vozes da música norte-americana.
Passada a onda psicodélica, os Beatles voltaram a um som mais básico mas nem por isso menos rico.
"Hey Jude escrita por Paul McCartney para o filho de John, Julian Lennon, foi não só o primeiro lançamento da Apple, o selo da banda, como o compacto mais vendido da carreira do quarteto, mesmo com a música tendo mais de 7 minutos.
O compacto (que também tinha "Revolution) marcou o início da fase final da banda, onde as músicas eram escritas em separado e os estilos dos compositores ficava mais proeminente: Lennon cada vez mais raivoso e politizado e McCartney mais introspectivo, esperançoso e baladeiro.
George Harrison corria por fora, mas já contribuía, em menor escala, com grandes canções para o repertório do grupo - vide "Something", que hoje só perde para "Yesterday" entre as canções mais regravadas deles.
The Zombies: "Time Of The Season"
Os Zombies surgiram na primeira metade dos anos 60 fazendo um som que mesclava Beatles com as viagens do órgão de Rod Argent.
Em 1967 eles gravaram seu segundo, e derradeiro álbum "Odessey and Oracle" - hoje presença obrigatória nas listas de grandes discos já feitos - e logo depois se separaram, cansados da falta de maior sucesso.
O disco só saiu porque o influente músico e produtor Al Kooper implorou para a gravadora. O resultado? "Time Of The Season", uma das faixas do disco, saiu em compacto e chegou ao número 1 da parada americana além de ter se tornado uma das músicas tema de 1968.
Mesmo com todo esse sucesso o grupo decidiu não retornar e até hoje fãs se perguntam o que mais eles poderiam ter criado com um pouco mais de tempo... e sorte.
Marvin Gaye: "I Heard It Through The Grapevine"
Marvin Gaye foi mais um nome que fez história dentro da Motown. No começo ele gravava o soul típico da gravadora e também standards do cancioneiro americano. "I Heard It Through The Grapevine" contou com a produção moderna de Norman Whitfield e além de ter marcado um novo ponto de partida para o artista se tornou o compacto mais vendido da história do selo.
Interessante é saber que a canção a princípio tinha sido colocada dentro de um álbum de Marvin apenas para preencher espaço até ser descoberta por um radialista de Chicago. Outra: antes de ganhar sua versão definitiva, a música foi gravada com sucesso por Gladys Knight que a levou para o segundo lugar da parada americana.
Creedence Clearwater Revival: "Fortunate Son"
O Creedence, era liderado por John Fogerty e buscou levar o rock de volta às suas origens numa época em que ele cada vez mais se sofisticava - o final dos anos 60/início dos 70.
A música deles era crua, mas tinha grande apelo e, assim como nos anos 50, tinha no compacto seu grande veículo de expressão.
A receita tornou a banda uma das mais importantes e lucrativas de sua era. Fogerty lançava música atrás de música (só em 1969 foram 3 Lps) e elas sem erro iam parar nos postos mais altos da parada.
Entre suas criações mais antológicas estão "Proud Mary, "Have You Ever Seen The Rain?" e muitas outras que até hojem fazem sucesso em rodas de violão, barzinhos e rádios de classic rock. Entre todas essas, "Fortunate Son" foi a grande obra-prima. Um raivoso manifesto contra a guerra do Vietnã que em sua letra lembrava que muitos iam para o front de batalha por não terem as "costas quentes".
Elvis Presley: "Suspicious Minds"
Nos anos 60 Elvis, o outrora "rei do rock", perdeu terreno para os artistas da Invasão britânica e para outros gêneros que tomaram forma na década (como o soul dos selos Motown e Stax e o folk de protesto).
Presley seguia o conselho do Coronel Parker, seu empresário, que dizia que rock era coisa passageira e sugeriu que ele se concentrasse no cinema.
Por isso, ele nunca mais havia pisado em um palco desde o fim da década de 50 e seus discos eram quase sem exceção as trilhas-sonoras de seus filmes para lá de duvidosos.
Em 1968 ele resolveu voltar a ser o Rei. Gravou um especial para TV que ficou conhecido como "O show da volta" e retornou à Memphis para fazer um disco "de verdade".
Lá, ele registrou um punhado de canções repletas de soul, country e blues que acabaram em discos clássicos como "From Elvis in Memphis" e em compactos, o caso de "Suspicious Minds". Foi essa música que o colocou, de forma merecida, novamente no primeiro lugar da parada americana.
The Band : "The Night They Drove Old Dixie Down"
Diz-se que o The Band foi a melhor banda de rock... do século XIX. Esse grupo, que tinha quatro canadenses e um americano na formação, realmente parecia viver em outra era e, por mais estranho que pareça, é isso que ainda hoje os torna tão atemporais e frescos.
Antes de virarem "A Banda" os membros do grupo haviam, entre outras coisas, acompanhado Bob Dylan em sua polêmica turnê de 66 - aquela em que ele abandonou a gaita e violão, partiu para o rock'n'roll e ganhou em troca uma chuva de vaias por onde passou.
Também ao lado de Dylan eles gravaram em 1967 as célebres "Basement Tapes", uma série de gravações caseiras repletas de folk, blues, humor e rusticidade. Isso quando o resto da realeza do rock abraçava o psicodelismo, que era futurista e colorido por definição.
Em 1968 eles chegaram ao primeiro álbum e criaram todo um movimento que pregava a "volta às raízes" e uma vida bucólica. O segundo disco foi ainda melhor e é dele que vem "The Night They Drove Old Dixie Down", canção de forte carga emocional que conta um episódio da guerra da Secessão do ponto de vista dos sulistas.
Led Zeppelin: "Whole Lotta Love
Passada a onda psicodélica, algumas bandas voltaram para o rock mais básico, enquanto outras preferiram seguir viajando.
Desse embate nasceriam dois dos estilos que definiram os anos 70: o rock progressivo e o hard rock/heavy metal.
O Led deu sequência às ideias do Cream de Eric Clapton e do Jimi Hendrix Experience: um som pesado e com forte influência do blues americano. A essa receita o líder e guitarrista Jimmy Page acrescentou umas pitadas de folk e música celta, um baterista monstruoso (John Bonham cuja morte em 1980, selou o fim da banda) e um baixista quietinho mas muito talentoso chamado John Paul Jones. Ah eles tinham também o vocalista e sex symbol Robert Plant com seu jeitão de hippie fã do "Senhor dos Anéis".
Some a isso um empresário brutamontes (que chegava a cobrar 90% da bilheteria dos shows) e o resultado não poderia ser diferente: O Led Zeppelin se tornou a maior banda dos anos 70, mesmo com a crítica toda caindo de pau (coisa difícil de se acreditar hoje em dia). Selecionar uma ou duas músicas para sintetizar o grupo é outra tarefa complicada.
"Stairway To Heaven (1971) talvez até fosse a escolha mais óbvia, mas é em "Whole Lotta Love", de dois anos antes, que se cristaliza o som da banda. Aqui temos o vocal gritado, o riff que todo guitarrista mais cedo ou mais tarde aprende a tocar e a parte final com o uso do Teremim selando a mistura de passado e futuro.
Detalhe: o Zeppelin tinha o "hábito" de roubar antigos blues e renomeá-los (sem dar crédito nenhum para os autores). Para muitos, essa música é somente uma versão turbinada de "You Need Love", um antigo blues gravado por Muddy Waters. A semelhança fez com que o compositor Willie Dixon ganhasse parceria na música, após processar o grupo.
Sly And The Family Stone: "I Want To Take You Higher"
Sly Stone foi pioneiro na integração entre música e músicos negros e brancos. Ao lado da Family Stone ele forjou um som único que misturava soul, funk, pop e rock em uma série de álbuns e compactos importantíssimos.
Entre suas músicas, a que ficou mais célebre é essa aqui, especialmente depois dela ter entrado no documentário sobre o festival de Woodstock lançado em 1970 - onde a banda fez, para muitos, o melhor show de todo o evento.
Stone fez muito pela música, mas poderia ter feito ainda mais se tivesse conseguido controlar seus vícios.
Ele pode até ter sobrevivido para contar a sua história, mas praticamente nada do artista genial de outrora parece ainda existir em seu corpo - há alguns anos ele disse que estava morando dentro de uma van porque não tinha onde ficar.
The Stooges: "1969
Ser adolescente nos EUA em 1969 não devia ser fácil. O fantasma da guerra do Vietnã rondando a casa, os Beatles se esfacelando e o pessoal se ligando que esse papo de paz e amor não ia mudar a ordem das coisas. Foi nesse clima que os Stooges surgiram para total incredulidade da comunidade rock.
Ali estavam 4 moleques que mais pareciam um bando de doentes mentais, loucos por drogas fazendo algo que alguns anos depois se chamaria punk rock.
O grupo original deixou apenas dois discos e um rastro de destruição, drogas, brigas e corações partidos no meio do caminho. Entre as suas canções, essa diz muito sobre as suas intenções: "É 1969, outro ano para os USA, outro ano para mim e você, outro ano sem nada pra fazer". Apesar de tamanho niilismo, eles acabaram fazendo bem mais que a maioria dos mortais.
Com o fim da banda, apenas Iggy Pop conseguiu manter (aos trancos e barrancos) a sua carreira. Em 2005 ele reuniu os irmãos Asheton (Ron e Scott - guitarra e bateria), sobreviventes da formação original, e os colocou novamente na estrada com direito a passagem pelo Brasil e tudo.
David Bowie: "Changes"
Bowie foi o artista símbolo da década de 70. Entre suas inúmeras canções essa é a que melhor o sintetiza, principalmente pelo refrão: "Mudanças: vire-se e encare o desconhecido", já que foi isso que ele sempre fez por toda a sua carreira: arriscou-se em gêneros e personagens sem saber como sairia no final.
"Changes" está em um de seus melhores álbuns: "Hunky Dury" de 1971. Este foi o último disco lançado por ele antes de dominar a Inglaterra com o álbum "Ziggy Stardust", o grande responsável pelo estouro do glam rock.
Dali em diante Bowie esteve livre para atirar para todos os lados: voltou ao passado em um disco de covers, descobriu a música negra norte americana, abriu caminhos para a eletrônica e a world music e com "Let's Dance", de 1983 atingiu em cheio o mercado americano. Tudo isso até chegar ao personagem dos dias de hoje, o cara cool, em paz com seu passado e antenado nas bandas e tendências artísticas mais legais e inovadoras.
Nick Drake: "Northern sky"
Em seus poucos anos de vida Nick Drake não pôde desfrutar do sucesso, pois morreu com apenas 26 anos (não se sabe se por overdose acidental de antidepressivos ou suicídio mesmo) em 1974.
Seu legado resume-se a três discos e um punhado de canções inéditas que foram lançadas posteriormente que estão entre os melhores exemplos do folk britânico.
Com o passar dos anos, as suas delicadas composições foram atraindo um séquito cada vez maior de admiradores e influenciando muita gente no caminho (Renato Russo, que já havia gravado "Clothes of sand" dizia que iria fazer um disco inteiro com suas músicas).
A carreira de Drake se beneficiou de um fato interessante e que deveria sempre ser posto em prática. Mesmo que eles nunca vendessem muitas cópias, a gravadora Island manteve os discos do cantor permanentemente em catálogo. Dessa forma, o nome do cantor atravessou gerações sucessivas.
A linda "Northern sky" está presente em "Bryter Layter" (19720 o segundo disco e o mais indicado para se entrar em seu universo, pelos arranjos mais elaborados e por ser um trabalho mais para cima - até onde isso é possível- se comparados ao seu disco anterior ("Five Leaves Left" de 1969) e o posterior - o soturníssimo "Pink Moon" (1972).
Simon & Garfunkel: "Bridge Over Troubled Water"
A dupla Simon & Garfunkel, já vinha de uma série de bons e bem sucedidos discos. Em 1967 "Mrs. Robinson" havia entrado na trilha de "A Primeira Noite de um Homem", quando a dupla já era famosa no mundo todo.
No final da década 60 eles começaram a tomar rumos distintos e por isso o LP "Bridge Over Troubled Water" demorou dois anos para sair.
A demora compensou, já que quando foi para as lojas ele se tornou um dos discos mais vendidos da história, passando 10 semanas no topo das paradas americanas e vendendo mais de 13 milhões de cópias ao redor do globo.
A canção título se tornaria não só um hit, mas um monumento. Aquela música que transcende gêneros, barreiras e gerações, graças à interpretação emocionante dada por Art Garfunkel para a melodia e letra no melhor estilo "ofereço-te uma mão amiga" escritas por seu parceiro.
Pouco depois do lançamento do trabalho os dois se separaram. Paul Simon prosseguiu só em uma carreira de sucesso e vários momentos de brilhantismo. Art Garfunkel se deu menos bem como artista solo, mas se descobriu um tremendo ator.
James Brown: "Get Up (I Feel Like Being A) Sex Machine"
Até o surgimento de Michael Jackson, James Brown foi a maior estrela do mundo da música negra, graças às suas excelentes canções e suas performances explosivas.
Nos anos 60 Brown lançou vários hits que se tornaram clássicos das pistas de dança ("I Got You (I Feel Good)", "Papa's Got A Brand New Bag...), além daquele que é tido como o maior disco ao vivo já feito: "Live at the Apollo Theater" de 1963.
No fim da década, o cantor tramou sua segunda revolução: ao invés de fazer canções na acepção clássica do termo, ele resolveu limar quase tudo referente a harmonia e melodia e jogar todo o foco no ritmo da bateria e do baixo. Nascia ali o funk e estava aberto o caminho para o surgimento do rap anos depois (não a toa ele sempre foi o campeão de samples no mundo do hip hop). Entre as faixas dessa época gravadas por ele, "Get Up (I Feel Like Being A) Sex Machine é, sem dúvida, o melhor exemplo dessa nova maneira de se fazer música.
Black Sabbath: "Paranoid
Há quem amaldiçoe o Black Sabbath por ter basicamente criado, o heavy metal, ao dar mais peso ao blues eletrificado feito no final dos anos 60 por gente como Cream e Jimi Hendrix.
Já toda uma horda de headbangers de todas idades sempre estarão prontos a ajoelharem-se perante Ozzy Osbourne, Tony Iommy e cia.
Exemplo clássico de banda desdenhada pela crítica e pelo público dito "sério" em seu tempo, o grupo viria a ser considerado um dos mais importantes e influentes de todo o rock.
As letras versando sobre o ocultismo (mas não só), o carisma de Ozzy, os riffs poderosos de Iommy, tudo contribuía para um som pesado, soturno e viciante que às vezes até emplacava nas paradas de rádio, como é o caso de "Paranoid", a única da banda a figurar no top 5 inglês e uma das melhores canções pesadas já feitas.
Derek And The Dominos: "Layla"
O guitarrista Eric Clapton já tinha feito história nos anos 60 como membro dos Yardbirds, dos Bluesbreakers de John Mayall e principalmente do Cream, uma das bandas fundamentais do rock.
Sua técnica e estilo impressionavam tanto que até de Deus ele foi chamado.
Na década seguinte ele se tornaria um artista solo de grande sucesso, emplacando vários discos nas paradas. mas, antes disso, em 1970, ele formou o Derek and the Dominos com alguns amigos e o guitarrista Duane Allman dos Allman Brothers. "Layla" é uma fortíssima declaração de amor para Patty Boyd - a mulher de George Harrison que viria a trocar o ex-Beatle por Clapton - que costuma brincar dizendo que duas das maiores canções de amor do rock: essa e "Something" dos Beatles, foram feitas para ela.
Problemas com álcool e drogas acabaram prematuramente com o Dominos, uma das bandas mais azaradas da história. Duanne morreu em 1971 num acidente de moto, o baixista Carl Raddle foi vítima de envenenamento por álcool e o baterista Jim Gordon terminou preso em 1984 pelo assassinato de sua própria mãe.
The Who: "Won't Get Fooled Again"
Em 1971 o Who já era uma mega-banda, graças a "Tommy", a ópera rock que vendeu horrores. Para dar sequência àquele disco o líder Pete Townshend veio com uma ideia ambiciosa que misturaria filme, um concerto gigante, o uso pioneiro do sintetizador e uma história que ninguém entendeu direito.
"Lifehouse", era o nome do projeto, que, como era de se esperar, não vingou. Em seu lugar saiu o álbum "Who's Next" com várias das faixas que estariam na nova ópera.
Dentre essas estava sua peça central, "Won't Get Fooled Again" que se tornou talvez a canção mais emblemática da banda.
Rolling Stones: "Brown Sugar"
Em 1971 os Rolling Stones já gozavam do status de maior banda do mundo. Desde 1968 que quinteto lançava discos e compactos que se tornavam clássicos instantâneos e atingiram o auge com o álbum "Sticky Fingers".
"Brown Sugar" tem tudo o que se pode pedir de uma canção da banda e virou o padrão a ser seguido sempre que eles queriam fazer um "rockão tipo Stones" (como "Start Me Up" por exemplo) e, desde então, presença perene nos shows do grupo.
Marvin Gaye: "What's Going On"
1971 foi a ano da virada para Gaye. Cansado de só cantar canções românticas com o mundo explodindo lá fora, ele bateu de frente com o chefão da Motown Berry Gordy exigindo gravar um disco abordando temas como racismo, ecologia e o Vietnã. Gordy se descabelou e disse não. No final ele acabou cedendo e não se arrependeu.
"What's Going On", a música, chegou ao segundo lugar das paradas e se tornaria uma das canções mais emblemáticas do período. O álbum homônimo também causaria revolução e é considerado um dos dez álbuns mais importantes não só do soul como de toda a música pop.
Existem guitarristas e existe Jimi Hendrix. Até hoje ninguém conseguiu fazer tanto pelo instrumento em tão pouco tempo, já que ele morreu com meros 27 anos em 1970, longe de ter atingido todo seu potencial. Jimi experimentou timbres, efeitos e tocava muito, quer dizer MUITO.
Hendrix tinha uma predileção pelas faixas longas e experimentais, que desafiassem os limites. Já seu empresário Chas Chandler, preferia que ele, e sua banda, o Experience, lançassem músicas mais concisas que pudessem tocar na rádio e chegar ao grande público.
"Purple Haze" acabou servindo às duas partes, já que poucas músicas tão inventivas e ousadas como essa chegaram às paradas desde então. Hendrix também quebrou barreiras raciais, já que ele nunca se preocupou em separar negros e brancos - fosse no palco, na platéia ou em sua música, que era livre para ir do funk, blues e soul até o folk, jazz, pop ou o rock psicodélico.
The Beach Boys: "Good Vibrations"
Depois de ouvir "Rubber Soul", Brian Wilson, o lider dos Beach Boys, decidiu que ele precisaria superar os Beatles para poder manter-se na vanguarda da cena pop.
O álbum "Pet Sounds" (1966) foi o resultado direto dessa competição e ele pôde se gabar de ter conseguido seu intento, já que o trabalho resultou em um dos melhores, se não o melhor, discos de rock da história, ainda que não tenha sido um grande sucesso comercial.
As ambições de Wilson atingiriam o ápice com "Good Vibrations", o compacto que tomou as paradas de assalto em 1966 e 1967. Gravado a um custo astronômico em diversos estúdios, a faixa seria a peça central do disco "Smile". Infelizmente tomado por uma paranoia gigantesca que debilitou de vez o já frágil Wilson, o trabalho acabou abortado antes de seu término e os Beach Boys nunca mais teriam o mesmo sucesso.
37 anos depois, Wilson resolveu enfrentar seu maior fantasma e em 2004 ele finalmente resolveu gravar e lançar "Smile" tal como ele imaginou nos anos 60. Público e críticos concordaram que a espera valeu a pena. Em 2011 uma versão "reconstruída" a partir das sessões originais dos anos 60 também foi finalmente lançada.
Jefferson Airplane: "White Rabbit"
A cidade americana de São Francisco foi o berço da psicodelia. De lá saíram inúmeras bandas afeitas a longas viagens instrumentais (que funcionavam bem para um público que geralmente estava alucinando após o consumo de LSD e outras drogas alucinógenas) e em criar uma música capaz de expandir os horizontes do ouvinte e do rock como um todo.
Em meio a nomes como The Grateful Dead, Moby Grape, Big Brother and the Holding Co. (que revelaria Janis Joplin) e Quicksilver Messenger Service, brilhava o Jefferson Airplane responsáveis por bons discos e também por essa música com seu ritmo oriental e a letra tão direta quanto se podia ser em 1967 ("uma pílula te deixa grande e outra pequeno, mas as que a suas mãe te dá não fazem nada"). A faixa chegou no top 10 americano e tornou o grupo um dos principais garotos propaganda da cena de Haight-Ashbury. "White Rabbit" foi eleita pela revista britânica Mojo a melhor canção já escrita sobre drogas.
The Doors: "Break On Through (To the Other Side)"
Assim como o Velvet Underground, os Doors tinham um fascínio pelo lado oculto da vida.
Mas se a banda de Lou Reed passou anos no ostracismo, o grupo liderado pelo vocalista Jim Morrison se tornou muito popular, tocando para garotinhas histéricas e se apresentando no Ed Sullivan Show.
Jim tinha um comportamento errático por conta do abuso de substâncias lícitas e ilícitas. Sendo assim a banda era capaz de gravar grandes músicas e discos de material inferior. Break On Through (To the Other Side) obviamente entra na primeira lista, com John Densmore tocando uma espécie de bossa-nova, preparando a chegada do órgão de Ray Manzareck e os clássicos versos de abertura de Morrison: "You know the day destroys the night...".
Os excessos custaram a vida de Jim que morreu em 1971 aos 27 anos. Os três sobreviventes tentaram continuar mas desistiram após gravarem dois discos que, até hoje, quase ninguém ouviu. O legado por sua vez só aumentou seja na influência direta exercida em bandas como The Cult ou Echo and the Bunnymen na década de 80 ou com os jovens fãs que os conheceram através do filme biográfico dirigido por Oliver Stone em 1991.
Procol Harum: "A Whiter Shade of Pale"
Eis aqui um caso clássico de banda que tem sua carreira plenamente justificada apenas por uma canção. "A Whiter Shade of Pale" tomou conta do planeta em 1967 com sua letra enigmática, a interpretação de Gary Broker e, especialmente, o solo de órgão descendente direto de Bach.
Esses elementos tornaram a música uma das mais tocadas não só da época como da história.
Depois desse grande sucesso, eles nunca mais gravaram nada tão grandioso. Ainda assim, o Procol Harum lançou discos que passaram despercebidos pelo grande público, mas que são bastante estimados pelos fãs de rock progressivo.
Aretha Franklin: "Respect"
Otis Redding, que compôs e gravou essa música primeiro, após ouvir essa versão disse que Aretha Franklin tinha lhe roubado a sua canção. Aretha pode ser considerada a maior cantora da história da música pop. Até hoje milhares de aspirantes tentam chegar no seu nível de interpretação e alcance vocal em vão.
Na voz da cantora, "Respect" se tornou um hino feminista e também dos direitos civis. Ela ainda demonstra bem seus dotes e o de todos que a circundavam (o time de ouro da gravadora Atlantic como os produtores Jerry Wexler, Tom Dowd e Arif Mardin e os músicos da Muscle Shoes band).
Fãs de cantoras como Mariah Carrey ou Whitney Houston ganharão muito em conhecer os trabalhos da cantora gravados entre 1967 e 1973.
Otis Redding: "(Sittin' On) The Dock Of The Bay"
Representante maior do soul da gravadora Stax, bem mais cru e pesado que o da Motown, na metade dos anos 60 Otis Redding estava pronto para se tornar uma mega-estrela.
Sua participação no Festival de Monterey deixou todos presentes de boca aberta e o sonhado crossover (quando um artista consegue transpor o seu nicho de mercado) acenava.
Tudo isso acabou em 9 de dezembro de 1967 quando Otis morreu em um acidente aéreo logo após o término da gravação desta música.
"(Sittin' On) The Dock Of The Bay" saiu poucos dias depois e atingiu o primeiro posto da parada americana. Assim, como anos antes acontecera com Sam Cooke, o que era pra ser o início de uma nova fase tornou-se o epitáfio de uma das maiores vozes da música norte-americana.
Divulgação
The Beatles: "Hey Jude"Passada a onda psicodélica, os Beatles voltaram a um som mais básico mas nem por isso menos rico.
"Hey Jude escrita por Paul McCartney para o filho de John, Julian Lennon, foi não só o primeiro lançamento da Apple, o selo da banda, como o compacto mais vendido da carreira do quarteto, mesmo com a música tendo mais de 7 minutos.
O compacto (que também tinha "Revolution) marcou o início da fase final da banda, onde as músicas eram escritas em separado e os estilos dos compositores ficava mais proeminente: Lennon cada vez mais raivoso e politizado e McCartney mais introspectivo, esperançoso e baladeiro.
George Harrison corria por fora, mas já contribuía, em menor escala, com grandes canções para o repertório do grupo - vide "Something", que hoje só perde para "Yesterday" entre as canções mais regravadas deles.
The Zombies: "Time Of The Season"
Os Zombies surgiram na primeira metade dos anos 60 fazendo um som que mesclava Beatles com as viagens do órgão de Rod Argent.
Em 1967 eles gravaram seu segundo, e derradeiro álbum "Odessey and Oracle" - hoje presença obrigatória nas listas de grandes discos já feitos - e logo depois se separaram, cansados da falta de maior sucesso.
O disco só saiu porque o influente músico e produtor Al Kooper implorou para a gravadora. O resultado? "Time Of The Season", uma das faixas do disco, saiu em compacto e chegou ao número 1 da parada americana além de ter se tornado uma das músicas tema de 1968.
Mesmo com todo esse sucesso o grupo decidiu não retornar e até hoje fãs se perguntam o que mais eles poderiam ter criado com um pouco mais de tempo... e sorte.
Marvin Gaye: "I Heard It Through The Grapevine"
Marvin Gaye foi mais um nome que fez história dentro da Motown. No começo ele gravava o soul típico da gravadora e também standards do cancioneiro americano. "I Heard It Through The Grapevine" contou com a produção moderna de Norman Whitfield e além de ter marcado um novo ponto de partida para o artista se tornou o compacto mais vendido da história do selo.
Interessante é saber que a canção a princípio tinha sido colocada dentro de um álbum de Marvin apenas para preencher espaço até ser descoberta por um radialista de Chicago. Outra: antes de ganhar sua versão definitiva, a música foi gravada com sucesso por Gladys Knight que a levou para o segundo lugar da parada americana.
Creedence Clearwater Revival: "Fortunate Son"
O Creedence, era liderado por John Fogerty e buscou levar o rock de volta às suas origens numa época em que ele cada vez mais se sofisticava - o final dos anos 60/início dos 70.
A música deles era crua, mas tinha grande apelo e, assim como nos anos 50, tinha no compacto seu grande veículo de expressão.
A receita tornou a banda uma das mais importantes e lucrativas de sua era. Fogerty lançava música atrás de música (só em 1969 foram 3 Lps) e elas sem erro iam parar nos postos mais altos da parada.
Entre suas criações mais antológicas estão "Proud Mary, "Have You Ever Seen The Rain?" e muitas outras que até hojem fazem sucesso em rodas de violão, barzinhos e rádios de classic rock. Entre todas essas, "Fortunate Son" foi a grande obra-prima. Um raivoso manifesto contra a guerra do Vietnã que em sua letra lembrava que muitos iam para o front de batalha por não terem as "costas quentes".
Elvis Presley: "Suspicious Minds"
Nos anos 60 Elvis, o outrora "rei do rock", perdeu terreno para os artistas da Invasão britânica e para outros gêneros que tomaram forma na década (como o soul dos selos Motown e Stax e o folk de protesto).
Presley seguia o conselho do Coronel Parker, seu empresário, que dizia que rock era coisa passageira e sugeriu que ele se concentrasse no cinema.
Por isso, ele nunca mais havia pisado em um palco desde o fim da década de 50 e seus discos eram quase sem exceção as trilhas-sonoras de seus filmes para lá de duvidosos.
Em 1968 ele resolveu voltar a ser o Rei. Gravou um especial para TV que ficou conhecido como "O show da volta" e retornou à Memphis para fazer um disco "de verdade".
Lá, ele registrou um punhado de canções repletas de soul, country e blues que acabaram em discos clássicos como "From Elvis in Memphis" e em compactos, o caso de "Suspicious Minds". Foi essa música que o colocou, de forma merecida, novamente no primeiro lugar da parada americana.
The Band : "The Night They Drove Old Dixie Down"
Diz-se que o The Band foi a melhor banda de rock... do século XIX. Esse grupo, que tinha quatro canadenses e um americano na formação, realmente parecia viver em outra era e, por mais estranho que pareça, é isso que ainda hoje os torna tão atemporais e frescos.
Antes de virarem "A Banda" os membros do grupo haviam, entre outras coisas, acompanhado Bob Dylan em sua polêmica turnê de 66 - aquela em que ele abandonou a gaita e violão, partiu para o rock'n'roll e ganhou em troca uma chuva de vaias por onde passou.
Também ao lado de Dylan eles gravaram em 1967 as célebres "Basement Tapes", uma série de gravações caseiras repletas de folk, blues, humor e rusticidade. Isso quando o resto da realeza do rock abraçava o psicodelismo, que era futurista e colorido por definição.
Em 1968 eles chegaram ao primeiro álbum e criaram todo um movimento que pregava a "volta às raízes" e uma vida bucólica. O segundo disco foi ainda melhor e é dele que vem "The Night They Drove Old Dixie Down", canção de forte carga emocional que conta um episódio da guerra da Secessão do ponto de vista dos sulistas.
Led Zeppelin: "Whole Lotta Love
Passada a onda psicodélica, algumas bandas voltaram para o rock mais básico, enquanto outras preferiram seguir viajando.
Desse embate nasceriam dois dos estilos que definiram os anos 70: o rock progressivo e o hard rock/heavy metal.
O Led deu sequência às ideias do Cream de Eric Clapton e do Jimi Hendrix Experience: um som pesado e com forte influência do blues americano. A essa receita o líder e guitarrista Jimmy Page acrescentou umas pitadas de folk e música celta, um baterista monstruoso (John Bonham cuja morte em 1980, selou o fim da banda) e um baixista quietinho mas muito talentoso chamado John Paul Jones. Ah eles tinham também o vocalista e sex symbol Robert Plant com seu jeitão de hippie fã do "Senhor dos Anéis".
Some a isso um empresário brutamontes (que chegava a cobrar 90% da bilheteria dos shows) e o resultado não poderia ser diferente: O Led Zeppelin se tornou a maior banda dos anos 70, mesmo com a crítica toda caindo de pau (coisa difícil de se acreditar hoje em dia). Selecionar uma ou duas músicas para sintetizar o grupo é outra tarefa complicada.
"Stairway To Heaven (1971) talvez até fosse a escolha mais óbvia, mas é em "Whole Lotta Love", de dois anos antes, que se cristaliza o som da banda. Aqui temos o vocal gritado, o riff que todo guitarrista mais cedo ou mais tarde aprende a tocar e a parte final com o uso do Teremim selando a mistura de passado e futuro.
Detalhe: o Zeppelin tinha o "hábito" de roubar antigos blues e renomeá-los (sem dar crédito nenhum para os autores). Para muitos, essa música é somente uma versão turbinada de "You Need Love", um antigo blues gravado por Muddy Waters. A semelhança fez com que o compositor Willie Dixon ganhasse parceria na música, após processar o grupo.
Sly And The Family Stone: "I Want To Take You Higher"
Sly Stone foi pioneiro na integração entre música e músicos negros e brancos. Ao lado da Family Stone ele forjou um som único que misturava soul, funk, pop e rock em uma série de álbuns e compactos importantíssimos.
Entre suas músicas, a que ficou mais célebre é essa aqui, especialmente depois dela ter entrado no documentário sobre o festival de Woodstock lançado em 1970 - onde a banda fez, para muitos, o melhor show de todo o evento.
Stone fez muito pela música, mas poderia ter feito ainda mais se tivesse conseguido controlar seus vícios.
Ele pode até ter sobrevivido para contar a sua história, mas praticamente nada do artista genial de outrora parece ainda existir em seu corpo - há alguns anos ele disse que estava morando dentro de uma van porque não tinha onde ficar.
The Stooges: "1969
Ser adolescente nos EUA em 1969 não devia ser fácil. O fantasma da guerra do Vietnã rondando a casa, os Beatles se esfacelando e o pessoal se ligando que esse papo de paz e amor não ia mudar a ordem das coisas. Foi nesse clima que os Stooges surgiram para total incredulidade da comunidade rock.
Ali estavam 4 moleques que mais pareciam um bando de doentes mentais, loucos por drogas fazendo algo que alguns anos depois se chamaria punk rock.
O grupo original deixou apenas dois discos e um rastro de destruição, drogas, brigas e corações partidos no meio do caminho. Entre as suas canções, essa diz muito sobre as suas intenções: "É 1969, outro ano para os USA, outro ano para mim e você, outro ano sem nada pra fazer". Apesar de tamanho niilismo, eles acabaram fazendo bem mais que a maioria dos mortais.
Com o fim da banda, apenas Iggy Pop conseguiu manter (aos trancos e barrancos) a sua carreira. Em 2005 ele reuniu os irmãos Asheton (Ron e Scott - guitarra e bateria), sobreviventes da formação original, e os colocou novamente na estrada com direito a passagem pelo Brasil e tudo.
David Bowie: "Changes"
Bowie foi o artista símbolo da década de 70. Entre suas inúmeras canções essa é a que melhor o sintetiza, principalmente pelo refrão: "Mudanças: vire-se e encare o desconhecido", já que foi isso que ele sempre fez por toda a sua carreira: arriscou-se em gêneros e personagens sem saber como sairia no final.
"Changes" está em um de seus melhores álbuns: "Hunky Dury" de 1971. Este foi o último disco lançado por ele antes de dominar a Inglaterra com o álbum "Ziggy Stardust", o grande responsável pelo estouro do glam rock.
Dali em diante Bowie esteve livre para atirar para todos os lados: voltou ao passado em um disco de covers, descobriu a música negra norte americana, abriu caminhos para a eletrônica e a world music e com "Let's Dance", de 1983 atingiu em cheio o mercado americano. Tudo isso até chegar ao personagem dos dias de hoje, o cara cool, em paz com seu passado e antenado nas bandas e tendências artísticas mais legais e inovadoras.
Nick Drake: "Northern sky"
Em seus poucos anos de vida Nick Drake não pôde desfrutar do sucesso, pois morreu com apenas 26 anos (não se sabe se por overdose acidental de antidepressivos ou suicídio mesmo) em 1974.
Seu legado resume-se a três discos e um punhado de canções inéditas que foram lançadas posteriormente que estão entre os melhores exemplos do folk britânico.
Com o passar dos anos, as suas delicadas composições foram atraindo um séquito cada vez maior de admiradores e influenciando muita gente no caminho (Renato Russo, que já havia gravado "Clothes of sand" dizia que iria fazer um disco inteiro com suas músicas).
A carreira de Drake se beneficiou de um fato interessante e que deveria sempre ser posto em prática. Mesmo que eles nunca vendessem muitas cópias, a gravadora Island manteve os discos do cantor permanentemente em catálogo. Dessa forma, o nome do cantor atravessou gerações sucessivas.
A linda "Northern sky" está presente em "Bryter Layter" (19720 o segundo disco e o mais indicado para se entrar em seu universo, pelos arranjos mais elaborados e por ser um trabalho mais para cima - até onde isso é possível- se comparados ao seu disco anterior ("Five Leaves Left" de 1969) e o posterior - o soturníssimo "Pink Moon" (1972).
Simon & Garfunkel: "Bridge Over Troubled Water"
A dupla Simon & Garfunkel, já vinha de uma série de bons e bem sucedidos discos. Em 1967 "Mrs. Robinson" havia entrado na trilha de "A Primeira Noite de um Homem", quando a dupla já era famosa no mundo todo.
No final da década 60 eles começaram a tomar rumos distintos e por isso o LP "Bridge Over Troubled Water" demorou dois anos para sair.
A demora compensou, já que quando foi para as lojas ele se tornou um dos discos mais vendidos da história, passando 10 semanas no topo das paradas americanas e vendendo mais de 13 milhões de cópias ao redor do globo.
A canção título se tornaria não só um hit, mas um monumento. Aquela música que transcende gêneros, barreiras e gerações, graças à interpretação emocionante dada por Art Garfunkel para a melodia e letra no melhor estilo "ofereço-te uma mão amiga" escritas por seu parceiro.
Pouco depois do lançamento do trabalho os dois se separaram. Paul Simon prosseguiu só em uma carreira de sucesso e vários momentos de brilhantismo. Art Garfunkel se deu menos bem como artista solo, mas se descobriu um tremendo ator.
James Brown: "Get Up (I Feel Like Being A) Sex Machine"
Até o surgimento de Michael Jackson, James Brown foi a maior estrela do mundo da música negra, graças às suas excelentes canções e suas performances explosivas.
Nos anos 60 Brown lançou vários hits que se tornaram clássicos das pistas de dança ("I Got You (I Feel Good)", "Papa's Got A Brand New Bag...), além daquele que é tido como o maior disco ao vivo já feito: "Live at the Apollo Theater" de 1963.
No fim da década, o cantor tramou sua segunda revolução: ao invés de fazer canções na acepção clássica do termo, ele resolveu limar quase tudo referente a harmonia e melodia e jogar todo o foco no ritmo da bateria e do baixo. Nascia ali o funk e estava aberto o caminho para o surgimento do rap anos depois (não a toa ele sempre foi o campeão de samples no mundo do hip hop). Entre as faixas dessa época gravadas por ele, "Get Up (I Feel Like Being A) Sex Machine é, sem dúvida, o melhor exemplo dessa nova maneira de se fazer música.
Black Sabbath: "Paranoid
Há quem amaldiçoe o Black Sabbath por ter basicamente criado, o heavy metal, ao dar mais peso ao blues eletrificado feito no final dos anos 60 por gente como Cream e Jimi Hendrix.
Já toda uma horda de headbangers de todas idades sempre estarão prontos a ajoelharem-se perante Ozzy Osbourne, Tony Iommy e cia.
Exemplo clássico de banda desdenhada pela crítica e pelo público dito "sério" em seu tempo, o grupo viria a ser considerado um dos mais importantes e influentes de todo o rock.
As letras versando sobre o ocultismo (mas não só), o carisma de Ozzy, os riffs poderosos de Iommy, tudo contribuía para um som pesado, soturno e viciante que às vezes até emplacava nas paradas de rádio, como é o caso de "Paranoid", a única da banda a figurar no top 5 inglês e uma das melhores canções pesadas já feitas.
Derek And The Dominos: "Layla"
O guitarrista Eric Clapton já tinha feito história nos anos 60 como membro dos Yardbirds, dos Bluesbreakers de John Mayall e principalmente do Cream, uma das bandas fundamentais do rock.
Sua técnica e estilo impressionavam tanto que até de Deus ele foi chamado.
Na década seguinte ele se tornaria um artista solo de grande sucesso, emplacando vários discos nas paradas. mas, antes disso, em 1970, ele formou o Derek and the Dominos com alguns amigos e o guitarrista Duane Allman dos Allman Brothers. "Layla" é uma fortíssima declaração de amor para Patty Boyd - a mulher de George Harrison que viria a trocar o ex-Beatle por Clapton - que costuma brincar dizendo que duas das maiores canções de amor do rock: essa e "Something" dos Beatles, foram feitas para ela.
Problemas com álcool e drogas acabaram prematuramente com o Dominos, uma das bandas mais azaradas da história. Duanne morreu em 1971 num acidente de moto, o baixista Carl Raddle foi vítima de envenenamento por álcool e o baterista Jim Gordon terminou preso em 1984 pelo assassinato de sua própria mãe.
The Who: "Won't Get Fooled Again"
Em 1971 o Who já era uma mega-banda, graças a "Tommy", a ópera rock que vendeu horrores. Para dar sequência àquele disco o líder Pete Townshend veio com uma ideia ambiciosa que misturaria filme, um concerto gigante, o uso pioneiro do sintetizador e uma história que ninguém entendeu direito.
"Lifehouse", era o nome do projeto, que, como era de se esperar, não vingou. Em seu lugar saiu o álbum "Who's Next" com várias das faixas que estariam na nova ópera.
Dentre essas estava sua peça central, "Won't Get Fooled Again" que se tornou talvez a canção mais emblemática da banda.
Rolling Stones: "Brown Sugar"
Em 1971 os Rolling Stones já gozavam do status de maior banda do mundo. Desde 1968 que quinteto lançava discos e compactos que se tornavam clássicos instantâneos e atingiram o auge com o álbum "Sticky Fingers".
"Brown Sugar" tem tudo o que se pode pedir de uma canção da banda e virou o padrão a ser seguido sempre que eles queriam fazer um "rockão tipo Stones" (como "Start Me Up" por exemplo) e, desde então, presença perene nos shows do grupo.
Marvin Gaye: "What's Going On"
1971 foi a ano da virada para Gaye. Cansado de só cantar canções românticas com o mundo explodindo lá fora, ele bateu de frente com o chefão da Motown Berry Gordy exigindo gravar um disco abordando temas como racismo, ecologia e o Vietnã. Gordy se descabelou e disse não. No final ele acabou cedendo e não se arrependeu.
"What's Going On", a música, chegou ao segundo lugar das paradas e se tornaria uma das canções mais emblemáticas do período. O álbum homônimo também causaria revolução e é considerado um dos dez álbuns mais importantes não só do soul como de toda a música pop.