Começando a comemorar o Dia Internacional do Rock, que é celebrado em 13 de julho, o Vagalume apresenta um especial em duas partes com dez discos que mudaram a história do gênero de forma profunda.
Obviamente não se consegue resumir os cerca de cinquenta anos do estilo em apenas dez álbuns, mas todos os trabalhos aqui selecionados, são não só influentes, como igualmente celebrados em inúmeras listas feitas pela crítica especializada. Os discos estão listados em ordem cronológica e a segunda parte do especial entra no ar amanhã, dia 12.
Elvis Presley - Sunrise - gravado em 1954 e 1955
Elvis não mudou simplesmente o mundo do rock, ele basicamente ajudou a criá-lo e, principalmente difundi-lo, especialmente a partir de 1956 quando foi para a RCA e se tornou imensamente famoso.
Ainda assim não é exagero dizer que as gravações que ele fez para a Sun Records entre julho de 1954 e julho de 1955, estão entre as melhores, e mais importantes da história. Para o selo, o futuro rei do rock gravou provavelmente 24 canções, das quais 22 sobreviveram. Foram essas canções que deram início ao mito Elvis.
"Sunrise" é a melhor compilação dessa fase de Elvis e junta ao material lançado oficialmente, faixas ao vivo e takes alternativos em um CD duplo. Aqui pode-se ouvir o rock em seu momento de gestação e em forma primitiva.
O cantor funde blues, country e R&B em uma nova e excitante música - algo surpreendente quando lembramos que ele não compunha e estava basicamente cantando canções que ele gostava.
O acompanhamento também é simples. Presley toca violão ao lado do guitarrista Scotty Moore, do baixo acústico empunhado por Bill Black e é só.
Sim, tirando três canções, nenhuma das primeiras gravações de Presley tinha a presença de uma bateria - o mais incrível é que, mesmo hoje, raramente sentimos falta do instrumento nessas faixas.
Ouvir as "Sun Sessions" é tomar contato com a história da música em estado bruto. Que o disco também seja um dos mais divertidos e prazerosos já feitos só mostra o quanto Elvis Presley era especial.
Ouça "That's All Right":
Bob Dylan - Highway 61... - 1965
Bob Dylan já vinha gravando desde o início da década, quando se tornou o maior nome da nova geração de cantores de música folk dos Estados Unidos. Aos poucos ele começou a se encher do radicalismo que cercava toda aquela cena.
As mudanças foram sutis. Primeiro ele foi deixando de lado as canções de protesto, para falar de outros assuntos - e, no caminho, alterando de forma definitiva a maneira como as letras das canções seriam vistas dali em diante.
Depois ele começou a adicionar instrumentos elétricos em seus discos - como se pode ver no antigo lado A de "Bringing It All Back Home" (1965), outro disco fundamental.
Finalmente, ele abraçou de vez a eletricidade também nos palcos - o que fez com que ele levasse algumas das maiores vaias da história.
O disco que simboliza esse momento é "Highway 61 Revisited". O álbum abre com "Like A Rolling Stone", a provável melhor canção da história do rock e segue com blues, rock'n'roll, baladas e, claro, música folk. Mas um folk bastante surrealista e misterioso, com letras alegóricas e de grande imaginação.
Resumindo, todo roqueiro que desde então quis fazer música com algum conteúdo a mais certamente aprendeu muito com esse álbum. Um álbum que, como lembrou o crítico inglês Nigel Willianson, também nos deu o conceito de "atitude" - graças à sua icônica capa.
Ouça "Like A Rolling Stone":
Beach Boys - Pet Sounds - 1966
Com suas canções sobre surf, carros e garotas, os Beach Boys não só se tornaram uma das maiores bandas do início dos anos 60 - uma época em que o rock estava totalmente sem rumo - como também foram dos raros grupos que conseguiram fazer frente à chegada dos Beatles e de outras bandas britânicas à América.
O quinteto era liderado por Brian Wilson, um daqueles raros casos em que o termo gênio se aplica. O problema é que Wilson sofria de sérios transtornos mentais e tinha a música como seu único refúgio.
Em 1965 ele sofreu um colapso nervoso e decidiu que não iria mais excursionar com a banda e se dedicar exclusivamente ao estúdio. Wilson atingiu seu ápice com "Pet Sounds", álbum que sempre está presente nas listas de "melhores de todos os tempos", muitas vezes no primeiro lugar.
Quase um trabalho solo de Brian, o disco foi gravado com alguns dos melhores músicos de estúdio dos EUA enquanto os Beach Boys faziam shows - os outros membros da banda praticamente só cantam nessas faixas.
Wilson queria levar a música pop para um nível mais elevado com "Pet Sounds", e ele conseguiu seu intento, sem a menor dúvida, já que o disco segue como exemplo de obra ambiciosa.
Ao escrever canções complexas, e usar instrumentos alheios ao mundo do rock - tímpanos, sinos, acordeão, ukelele e flauta, além de instrumentos orquestrais, ele mostrou que anda haviam muitos limites a serem explorados na música pop.
Infelizmente, "Pet Sounds" não vendeu conforme o esperado, e Wilson sofreria ainda mais nos anos seguintes com sua obra-prima inacabada "Smile" (o disco que ele queria lançar em 1967 e só conseguiu acabar no século 21). Mas ele sobreviveu e segue na ativa até hoje, lançando bons discos e fazendo shows, ainda que longe da banda que ele criou. Sua vida foi recentemente contada no filme "Love & Mercy", que em breve estreia no Brasil.
Ouça "God Only Knows":
The Beatles - Sgt. Peppers... - 1967
Escolher um só disco dos Beatles para esse tipo de matéria é sempre tarefa complicada, afinal a banda tem vários álbuns que moldaram o rock de sua época e também o do futuro.
Como a ideia aqui é a de ser o mais didático e menos polêmico possível, vamos então de "Peppers", o álbum que por muito tempo foi eleito o melhor de todos os tempos.
Como falamos lá em cima, "Pet Sounds" não fez muito sucesso nos EUA. Já na Inglaterra ele chegou no top 10 e, principalmente, foi ouvido por toda a realeza da música pop.
Paul McCartney foi um que ficou positivamente surpreendido e inspirou-se no trabalho para criar aquela que para muitos é a grande obra-prima dos Beatles.
A ideia do baixista foi bastante inovadora, a de tratar o álbum, não como um disco dos Beatles, mas sim do tal "Sargento Pimenta", o que os deixaria livres para fazer o que bem entendessem. Claro que na prática a coisa mudou de figura. Eles até começaram a gravar o trabalho como o grupo " de mentira", mas logo voltaram a simplesmente ser "eles mesmos".
O fato é que o som do quarteto já estava tão diferente daquele popularizado por eles há alguns poucos anos, que eles naturalmente já estavam soando como um outro grupo.
Em "Peppers", os Beatles mostraram que o rock podia ser inovador, instigante e experimental e ainda assim chegar ao grande público. Eles levaram ao limite as máquinas de quatro canais da EMI e criaram um trabalho contra o qual praticamente toda a música pop seria comparada dali por diante.
Ouça "A Day In The Life":
The Velvet Underground And Nico - 1967
No mundo do rock ás vezes é preciso esperar algum tempo para colher os louros. E um dos primeiros casos de "justiça histórica" que aconteceu no gênero foi o caso do álbum de estreia dessa banda de Nova York.
Cria do guitarrista, letrista e compositor Lou Reed junto com o multi-instrumentista de formação clássica John Cale, O VU ia na contramão do clima psicodélico e de união que foi a marca principal do rock da segunda metade dos anos 60. O grupo apostava em temas polêmicos e no uso da dissonância e do ruído em suas canções.
Assim o quarteto, acrescido da cantora Nico, cantava sobre drogas pesadas, sadomasoquismo, a vida no submundo da cidade ou paranoia, sob uma música quase sempre dura e barulhenta, ainda que com eventuais momentos de leveza sonora.
O álbum resultante acabava dialogando com a música erudita contemporânea e com o mundo das artes - eles foram apadrinhados pelo artista plástico Andy Warhol, que criou a icônica capa da banana que trazia o seu nome, mas não o da banda, na capa.
"VU & Nico", vendeu pouquíssimo em seu tempo, mas foi ouvido pelas pessoas certas - Mick Jagger e David Bowie foram só algumas delas. No caso de Bowie as marcas foram profundas.
Foi ele quem resgatou a carreira solo de Lou Reed no início dos anos 70 ao apresentá-lo para toda uma nova geração e produzir o álbum "Transformer". Dali em diante foi praticamente impossível escapar da influência do Velvet no rock moderno - glam, punk, indie, grunge... praticamente tudo o que se seguiu tinha a influência deles, nem que de forma indireta.
O Velvet lançou ainda outros três álbuns, sendo que Cale os deixou depois do segundo trabalho. Todos eles igualmente bons e que merecem ser conhecidos.
Ouça "I'm Waiting for the Man":