Emicida - Sobre Crianças, Quadris...
Esse disco confirma o que já era mais do que sabida, que Emicida não só está levando o rap nacional para um novo patamar, como também é forte candidato a se tornar o grande nome da música pop feita no Brasil nesta década.
"Sobre Crianças, Quadris..." nasceu da visita que o rapper fez a Cabo Verde e Angola e fica claro com uma audição do disco como a viagem foi importante para o artista, com temas sobre identidade e injustiça racial marcando forte presença nessas faixas. Musicalmente, como era de se esperar, os ritmos africanos também se fazem presentes.
Mas outros estilos também são usados para embalar os raps cada vez mais afiados do artista que acaba de completar 30 anos, seja o samba, o pop, o soul, ou o rock pesado, utilizado para enfatizar os momentos de maior nervosismo.
O que chama a atenção aqui acima de tudo é a produção caprichada, a quantidade de faixas com potencial de hit radiofônico - "Casa" com um refrão irresistível cantado por um coro infantil sendo uma das mais inspiradas e o nível excelente das participações especiais .
E aqui falamos não só dos medalhões Caetano Veloso, Vanessa da Mata (na foto acima com o cantor), mas também de outros rappers como J. Ghetto ou Rico Dalasam que contribuem e engrandecem ainda mais o trabalho. Todos eles, ajudam a estrela principal a fazer um álbum que capta com grande sensibilidade o momento atual do país.
Ouça "Boa Esperança" com Emicida presente no álbum "Sobre Crianças, Quadris..."
Melanie Martinez - Cry Baby
O álbum de estreia desta americana de ascendência dominicana e porto-riquenha é uma excelente surpresa. Apesar dos parcos 20 anos, Martinez demonstra personalidade e grande talento nessas faixas que formam um conjunto íntegro e bem acima da média.
"Cry Baby" é construído sobre ótimas bases eletrônicas de clima pesado. Ou seja, ele foge totalmente da ideia da música feliz para cantar e dançar com os braços levantados. Apesar disso, o resultado final não deixa de ser bastante pop e acessível.
O disco deverá surpreender não só os fãs, ela já tem muitos, mas também quem tende a achar que a música pop contemporânea está estagnada e é formada apenas por artistas pré-fabricados.
Apesar de trabalhar com vários produtores e coautores, a cantora consegue dar um rosto pessoal ao álbum. Nada mal para uma artista que se tornou conhecida na versão americana do programa The Voice (ela fez parte do time de Adam Levine na terceira temporada do show).
Resta saber se ao vivo ela também consegue se mostrar tão interessante quanto vemos aqui. Para tirar a dúvida, será preciso esperar até novembro quando ela fará duas apresentações no Brasil, uma em São Paulo dia 27 no Carioca Club e outra no dia 29 no Rio de Janeiro no Miranda,
Ouça "Sippy Cup" com Melanie Martinez presente no álbum "Cry Baby"
Jesus And Mary Chain - Barrowlands Live
Há 30 anos o mundo do rock sofreu uma pequena hecatombe causada por dois irmãos escoceses, o vocalista Jim e o guitarrista William Reid.
"PsychoCandy", o álbum de estreia da banda que ainda tinha o futuro líder do Primal Scream Bobby Gillespie na bateria e o baixista Douglas Hart na formação, surpreendeu a imprensa britânica - e por consequência a de boa parte do planeta. A receita do grupo era simples, um rock básico e simplista, porém bastante melodioso, que era encoberto por muita, mas muita microfonia mesmo.
Dessa forma eles acabaram por criar um monstro que é a própria definição de esquizofrenia musical. Os semanários ingleses - e logo também os tabloides - passaram a seguir os passos do grupo com afinco, especialmente os shows, que deram novo sentido ao termo "caótico" - as apresentações eram curtíssimas e vira e mexe acabavam com a plateia envolta brigas homéricas e casas de shows destruídas.
A própria banda acabou se afastando da fórmula em seus álbuns seguintes, ainda que sempre tenham mantido um padrão de qualidade. Eles chegaram ao final em 1998, quando os irmãos já não se aguentavam mais e frustrados por um sucesso que nunca chegou. Apesar disso, a influência deles seguiu forte e o retorno, acontecido em meados da década passada, era inevitável.
Os fãs dos irmãos seguem esperando um álbum inédito, que ninguém sabe se um dia irá chegar. Enquanto isso, é possível se divertir com esse bom trabalho ao vivo com a íntegra de seu disco mais icônico.
A grande surpresa aqui é notar queo grupo está bem mais competente do que se viu ultimamente - quem os assistiu no Brasil no ano passado sabe que eles ainda são bastante erráticos no palco.
As canções são executadas de forma profissional, mas estão longe de estarem domadas. Digamos que se eles tocassem assim em 1985, ninguém iria se decepcionar.
"Barrowlands Live" gravado na Escócia, está disponível para download e audição nos sites de streaming musical e também em uma luxuosa edição com a íntegra do show em vinil e CD (antes das músicas de "PsychoCandy", eles tocaram outras sete canções).
Quem é mais velho e ouviu o disco em algum momento nos últimos 30 anos, certamente vai se emocionar. Quem ainda não os conhece pode dar uma chance, mas nesse caso, obviamente vale mais a pena conhecer o álbum original.
Veja o Jesus and Mary Chain tocando "Just Like Honey" no Barrowland Ballroom