Kurt Cobain - Montage Of Heck
Esse lançamento está causando bastante polêmica. Para alguns fãs e críticos ele é um excelente documento que mostra um pouco do processo de criação do líder do Nirvana que se matou em 1994 com apenas 27 anos.
Já para outro grupo, essa espécie de trilha sonora do documentário "Montage Of Heck" é a prova definitiva do cinismo das gravadoras que agora colocam nas lojas até gravações feitas em fitas em cassete de músicos testando pedais, fazendo brincadeiras e registrando os embriões de novas canções.
Verdade seja dita, ambos lados tem certa razão nessa briga. Uma coisa é fato, ouvir de cabo a rabo a edição deluxe do disco com cerca de 70 minutos e compilada pelo diretor do filme Brett Morgen, quando se viu com acesso aos antigos cassetes de Cobain, é bastante complicado.
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Ainda que ele diga que essa é a versão que os fãs deveriam ouvir, passar uma hora ouvindo Cobain falando seus monólogos ou simplesmente se divertido com o gravador não é tarefa fácil e nem agradável.Morgen disse que as fitas mostram um outro lado de Cobain, mais brincalhão e fã de música experimental e concreta. O problema é que Kurt não gravou nada disso, até onde se sabe, para consumo público. Assim, é difícil saber se estamos realmente ouvindo peças experimentais ou meras divagações sonoras feitas por um músico em seu quarto.
E aí chegamos na versão mais simples do disco com apenas 30 minutos e mais focado nas canções achadas nessa cerca de uma centena de cassetes.
Nesse formato reduzido, podemos ouvir com mais clareza como algumas músicas do Nirvana tiveram seu início e ver um pouco mais do processo de criação do músico.
Em resumo, esse é um álbum indicado somente aos fãs mais fiéis do Nirvana - ao contrário do filme, que merece ser visto por qualquer pessoa com interesse na música pop dos últimos 25 anos. Dependendo do seu grau de fanatismo faça a escolha entre a edição standard e a deluxe. Para os outros, o melhor mesmo é ficar com os discos originais da banda, esses sim, fundamentais.
Ouça a demo de "Sappy" presente em "Montage Of Heck"
Bob Dylan - The Cutting Edge - 1965-1966
Mais um disco com sobras e gravações que a princípio não foram feitas para "consumo público. Mas a qualidade dessa aqui é indiscutível.
Desde os anos 60 há um enorme fascínio pelo lado obscuro de Bob Dylan. A razão para isso é simples: Dylan não é daqueles artistas que chegam com tudo pronto e arranjado na cabeça e simplesmente registra o material. Longe disso. O cantor e compositor tende a testar arranjos radicalmente diferentes das músicas e também abandona material de primeira por razões que só ele parece entender.
Em 1991, para aplacar um pouco a ânsia desses fãs, e para tentar parar de alguma forma a pirataria da qual Dylan foi talvez a primeira de suas vítimas ainda nos anos 60, que as "Booteg Series" começaram a ser lançadas, trazendo material de estúdio ou ao vivo do lendário menestrel.
Este é o décimo volume lançado - o primeiro da série era um CD triplo com os volumes 1,2 e 3 - e talvez o mais ambicioso. Ele cobre os treze meses que deram origem a três dos mais importantes discos de todos os tempos: "Bringing It All Back Home" (1965), "Highway 61 Revisited" (1965) e "Blonde On Blonde" (1966).
Aqui podemos ouvir de forma cronológica a gestação dos discos, com Dylan testando arranjos, mudando letras e tentando chegar aos takes finais que acabaram nos álbuns oficiais. Pode parecer tedioso, mas creiam, está longe disso. É claro que é preciso ser fã do cantor e estar bem familiarizado com os discos originais para realmente apreciar esse documento.
O pacote sai em três edições, uma indicada para cada "espécie de "Dylanófilo". A mais simples, com dois discos, é indicada para os fãs mais moderados. Ela evita a repetição de faixas e busca as versões mais diferentes das originais. A edição de luxo, tem seis CDs e amplia bem o leque de opções. Se você tem, digamos, uns dez discos dele em casa e conhece bem a sua obra, esse é o pacote para se ir atrás.
Finalmente, temos uma edição limitada vendida apenas no site do músico com inacreditáveis 18 CDs, que trazem simplesmente todas as gravações feitas por ele nesse período. Desnecessário dizer que essa edição é só para os fanáticos em nível master e com muito dinheiro e tempo no bolso. Mas se um dia você sonhou escutar, digamos, cerca de vinte versões diferentes de "One of Us Must Know (Sooner or Later)" essa é a sua chance.
Veja o vídeo alternativo feita para uma das versões de "Subterranean Homesick Blues"
Jeff Lynne's ELO - Alone In The Universe
Um retorno há muito aguardado, esse é o primeiro álbum inédito do ELO em quatorze anos. Por "ELO" entenda-se unicamente o seu líder, Jeff Lynne que, a exceção de alguns vocais de apoio, fez tudo aqui sozinho no estúdio que tem em sua casa.
Para quem não conhece, a Electric Light Orchestra fez muito sucesso nos anos 70 com suas canções que ficavam entre o pop, o rock psicodélico e o progressivo e eram fortemente influenciadas pela fase 1966/1967 dos Beatles. Com essa fórmula, o grupo emplacou nas paradas com seu "rock orquestrado".
O sucesso de público não era convertido em popularidade entres os críticos, mas com o tempo, mesmo eles acabaram dando o braço a torcer para as qualidades do grupo - fora que reclamar que tal artista "imitava os Beatles acabou perdendo o sentido depois de alguns anos.
O ELO chegou ao final no meio dos anos 80 e, sinceramente, ninguém se importou muito. Lynne então se converteu em um requisitado produtor e acabou trabalhando com vários de seus heróis - incluindo aí os Beatles, já que coube a ele produzir "Free As A Bird" e "Real Love" com os membros remanescentes da banda.
E finalmente chegamos a esse Alone In The Universe, um disco relativamente curto, simples e muito bonito.
Lynne, aos 67 anos medita sobre a sua vida em canções com inegável clima nostálgico onde conclui que acabou tendo a vida que sempre sonhou.
Os fãs antigos talvez sintam falta da "Orchestra" presente no nome da banda, e dos arranjos mais exagerados presentes nos álbuns dos anos 70. Mas, fora isso, o que se vê aqui é um trabalho extremamente competente, feito por um homem que domina como poucos o seu ofício.
Ouça "When I Was a Boy" com o ELO presente no álbum "Alone In The Universe"