Confira a segunda parte do "Disco a Disco de David Bowie. A parte 1 pode ser lida aqui.
Let's Dance - 1983
Depois de três anos, Bowie retornou com uma nova gravadora e um som que chocou os velhos admiradores. "Let's Dance" era um álbum mais pop já feito por ele até então. Nile Rodgers assumiu a produção e cumpriu a missão que lhe foi dada de fazer um disco com vários sucessos.
O álbum é um tanto irregular, mas tem momentos de brilho, incluindo dois dos grandes singles do pop moderno: a faixa título e "Modern Love". Vale também se ligar em "Without You" e em "China Girl", composta por ele e Iggy Pop que a gravou originalmente em 1977.
Tonight - 1984
Com "Let's Dance", Bowie se tornou uma mega-estrela nos EUA, vendendo milhões de discos e lotando arenas e estádios. "Tonight" foi feito às pressas e é o primeiro álbum dele, desde sua estreia em 1967, que pode ser considerado de fato decepcionante.
Composto por covers e muitas regravações inferiores de canções que ele havia feito com Iggy Pop, já gravadas de forma definitiva por este último, o trabalho ainda sofre com a típica produção dos anos 80. O álbum ainda assim rendeu dois grandes singles: "Loving The Alien" e "Blue Jean".
Never Let Me Down - 1987
A fase mais pop tem sequência com outro álbum pouco lembrado e que muitos fãs, e aparentemente o próprio Bowie, consideram o pior já feito por ele. Exagero? Talvez, ainda que "Time Will Crawl" seja muito boa (melhor ainda na nova mixagem feita pelo cantor na década passada). Mas, novamente a produção oitentista dificulta uma audição mais imparcial.
O álbum deu origem a uma turnê bastante megalomaníaca. A "Glass Spider Tour" foi bastante criticada mas certamente inspirou vários dos megashows dos astros pop dos dias de hoje (vejam aqui).
Tin Machine/Tin Machine 2 - 1989/1991
Bowie chegou ao final dos anos 80 com a certeza de que ser uma estrela do pop não era exatamente algo que lhe apetecia. Disposto a mostrar que estava em outra, surgiu o Tin Machine, uma banda de rock pesado onde ele dizia ser apenas mais um de seus integrantes.
As críticas inicias até que foram positivas, mas, com o tempo, os dois álbuns lançados pelo quarteto foram esquecidos e se tornaram sinônimos de discos equivocados. Para piorar, eles também foram dois retumbantes fracassos de público. Ainda assim, vale a pena dar uma ouvida ao menos em "Prisoner Of Love".
Black Tie White Noise - 1993
Entre os dois discos do Tin Machine, Bowie fez uma turnê de grandes sucessos - para divulgar o relançamento de seus primeiros discos - e se casou com a modelo Iman. "Black Tie..." é assim um álbum marcado pela paixão e a felicidade por esse casamento.
Ele marcou o reencontro do cantor com o produtor Nile Rodgers e, brevemente, com o guitarrista Mick Ronson, que morreu dias depois do disco sair. Se musicalmente o disco é interessante - incluindo até uma cover do Morrissey - as vendas decepcionaram, já que o selo que lançou o álbum nos EUA abriu falência.
The Buddha of Suburbia - 1993
Este é o grande álbum perdido de David Bowie. Feito para a trilha sonora da minissérie baseada no (excelente) livro de Hanif Kureishi, em que o cantor é a inspiração para um de seus personagens, o disco traz de volta a verve mais experimental dele que parecia ter sido abandonada.
Quem gosta de álbuns como "Low" ou "'Heroes'", certamente irá gostar das composições instrumentais que estão presentes aqui. as canções "convencionais" também são ótimas, e a faixa título é uma de suas melhores composições.
Outside - 1995
O experimentalismo volta a dar as caras nesse disco em que ele voltou a trabalhar com Brian Eno e se viu inspirado pela nova cena de música eletrônica europeia e pelo som industrial dos Nine Inch Nails - que ele convidou para abrir os shows da turnê.
"Outside" é um disco mais interessante do que bom, e seu clima abrasivo certamente irá afastar alguns ouvintes. mas ele serviu para mostrar que David Bowie ainda não estava descansando sobre os seus louros. O single "Hallo Spaceboy" também está entre os melhores lançados por ele naquela década.
Earthling - 1997
Inspirado pelo drum 'n' bass, esse é outro disco que divide os fãs. Os arranjos podem deixá-lo com uma cara de "álbum dos anos 90", mas as composições no geral são de ótima qualidade.
O disco pode não ter feito muito sucesso de público ou de crítica, mas no geral se mostrou um trabalho digno de respeito e vale ser (re)ouvido.
Foi com essa turnê que ele também voltou ao Brasil, sete anos depois da primeira visita, para uma série de apresentações que quem viu, certamente não se esquece.
'hours... - 1999
Bowie se despediu dos anos 90 com seu disco mais sincero e simples em muito tempo. É uma pena que "'hours..." não tenha feito o sucesso devido, porque ele é um trabalho muito bom.
Ele foi o primeiro disco do cantor a não entrar no top 40 americano desde o início dos anos 70 - no Reino Unido ele ao menos ficou no top 5.
Resumindo, este é mais um trabalho que apenas os mais fanáticos ouviram e mesmo esses há tempos não devem tirá-lo da prateleira. Ou seja, ele é mais um disco pronto para ser descoberto.
Heathen - 2002
O primeiro álbum lançado pelo cantor no século 21, foi também seu melhor trabalho em mais de 30 anos. "Heathen" mostrou um Bowie reenergizado e com um punhado de excelentes canções para mostrar, fossem elas de sua autoria - "Everyone says hi" ou versões como a de "Cactus" dos Pixies.
Pena que suas vendas tenham sido no máximo modestas e os críticos tenham elogiado, mas não com o entusiasmo necessário - ele certamente merecia ter entrado com mais destaque nas listas de melhores discos daquele ano.
Reality - 2003
Depois desse álbum, os fãs precisariam esperar uma década por um novo disco do cantor. Ou seja, por um bom tempo fomos levados a pensar que "Reality" seria o seu último disco.
Se tivesse sido esse o caso, Bowie nos teria deixado um trabalho musicalmente muito bom - algo como um álbum-irmão de "Heathen", mas sem a carga dramática necessária para um evento de tal magnitude.
"Reality" de qualquer forma é um álbum homogêneo, com algumas faixas de real destaque - "New Killer Star" em particular.
The Next Day - 2013
Levou um tempo para que se percebsse que David Bowie estava se retraindo mais e mais. Afinal é normal que os artistas levem mais e mais tempo entre um disco e outro, mas quando, cinco, seis anos se passaram e chegou-se a conclusão que ele andava cada vez mais recluso e, aparentemente, aposentado.
Até que em 8 de janeiro de 2013 o vídeo de "Where Are We Now?" surgiu a internet e o lançamento de álbum anunciado para breve. Sim, ele havia conseguido gravar um álbum escondido e surpreendeu todos.
Tratado como clássico instantâneo, "The Next Day" era um álbum roqueiro que não soava retrô, ainda que fizesse alusões a vários dos "Bowies" do passado. A diferença maior é que, a partir de agora, ele não daria mais entrevistas e muito menos faria shows. O cantor se torna um enigma e seus últimos anos de vida, certamente irão render muitas reportagens investigativas.
Blackstar - 2016
Quando no final de 2015 um novo trabalho de David Bowie foi anunciado, os fãs respiraram aliviados. Afinal foram "apenas" três anos de espera. Quase nada para quem precisou aguardar dez anos por novidades.
A promessa de um disco experimental, gravado com músicos da nova geração de jazzistas norte-americanos, animou e assustou na mesma medida. Afinal podia-se esperar de tudo dessa estranha mistura. Mas foi bom saber que ele ainda estava disposto a arriscar ao invés de seguir em uma trilha sem acidentes.
É claro que, a partir de agora, vai ser impossível ouvir o álbum sem que ele soe como uma despedida - as letras já foram todas esmiuçadas em busca de "pistas" - e ele já ganhou um peso bem maior do que seria de se imaginar há alguns meses ou dias.
De forma resumida, antes da morte do cantor "Blackstar" tinha toda a cara de que seria um dos bons discos de 2016. Ouvindo-o agora depois de sua partida, com todas as camadas de significado que ele ganhou, vai ser difícil tirar dele o título de grande álbum do ano, quiçá da década. É esperar para ver.
Let's Dance - 1983
Depois de três anos, Bowie retornou com uma nova gravadora e um som que chocou os velhos admiradores. "Let's Dance" era um álbum mais pop já feito por ele até então. Nile Rodgers assumiu a produção e cumpriu a missão que lhe foi dada de fazer um disco com vários sucessos.
O álbum é um tanto irregular, mas tem momentos de brilho, incluindo dois dos grandes singles do pop moderno: a faixa título e "Modern Love". Vale também se ligar em "Without You" e em "China Girl", composta por ele e Iggy Pop que a gravou originalmente em 1977.
Tonight - 1984
Com "Let's Dance", Bowie se tornou uma mega-estrela nos EUA, vendendo milhões de discos e lotando arenas e estádios. "Tonight" foi feito às pressas e é o primeiro álbum dele, desde sua estreia em 1967, que pode ser considerado de fato decepcionante.
Composto por covers e muitas regravações inferiores de canções que ele havia feito com Iggy Pop, já gravadas de forma definitiva por este último, o trabalho ainda sofre com a típica produção dos anos 80. O álbum ainda assim rendeu dois grandes singles: "Loving The Alien" e "Blue Jean".
Never Let Me Down - 1987
A fase mais pop tem sequência com outro álbum pouco lembrado e que muitos fãs, e aparentemente o próprio Bowie, consideram o pior já feito por ele. Exagero? Talvez, ainda que "Time Will Crawl" seja muito boa (melhor ainda na nova mixagem feita pelo cantor na década passada). Mas, novamente a produção oitentista dificulta uma audição mais imparcial.
O álbum deu origem a uma turnê bastante megalomaníaca. A "Glass Spider Tour" foi bastante criticada mas certamente inspirou vários dos megashows dos astros pop dos dias de hoje (vejam aqui).
Tin Machine/Tin Machine 2 - 1989/1991
Bowie chegou ao final dos anos 80 com a certeza de que ser uma estrela do pop não era exatamente algo que lhe apetecia. Disposto a mostrar que estava em outra, surgiu o Tin Machine, uma banda de rock pesado onde ele dizia ser apenas mais um de seus integrantes.
As críticas inicias até que foram positivas, mas, com o tempo, os dois álbuns lançados pelo quarteto foram esquecidos e se tornaram sinônimos de discos equivocados. Para piorar, eles também foram dois retumbantes fracassos de público. Ainda assim, vale a pena dar uma ouvida ao menos em "Prisoner Of Love".
Black Tie White Noise - 1993
Entre os dois discos do Tin Machine, Bowie fez uma turnê de grandes sucessos - para divulgar o relançamento de seus primeiros discos - e se casou com a modelo Iman. "Black Tie..." é assim um álbum marcado pela paixão e a felicidade por esse casamento.
Ele marcou o reencontro do cantor com o produtor Nile Rodgers e, brevemente, com o guitarrista Mick Ronson, que morreu dias depois do disco sair. Se musicalmente o disco é interessante - incluindo até uma cover do Morrissey - as vendas decepcionaram, já que o selo que lançou o álbum nos EUA abriu falência.
The Buddha of Suburbia - 1993
Este é o grande álbum perdido de David Bowie. Feito para a trilha sonora da minissérie baseada no (excelente) livro de Hanif Kureishi, em que o cantor é a inspiração para um de seus personagens, o disco traz de volta a verve mais experimental dele que parecia ter sido abandonada.
Quem gosta de álbuns como "Low" ou "'Heroes'", certamente irá gostar das composições instrumentais que estão presentes aqui. as canções "convencionais" também são ótimas, e a faixa título é uma de suas melhores composições.
Outside - 1995
O experimentalismo volta a dar as caras nesse disco em que ele voltou a trabalhar com Brian Eno e se viu inspirado pela nova cena de música eletrônica europeia e pelo som industrial dos Nine Inch Nails - que ele convidou para abrir os shows da turnê.
"Outside" é um disco mais interessante do que bom, e seu clima abrasivo certamente irá afastar alguns ouvintes. mas ele serviu para mostrar que David Bowie ainda não estava descansando sobre os seus louros. O single "Hallo Spaceboy" também está entre os melhores lançados por ele naquela década.
Earthling - 1997
Inspirado pelo drum 'n' bass, esse é outro disco que divide os fãs. Os arranjos podem deixá-lo com uma cara de "álbum dos anos 90", mas as composições no geral são de ótima qualidade.
O disco pode não ter feito muito sucesso de público ou de crítica, mas no geral se mostrou um trabalho digno de respeito e vale ser (re)ouvido.
Foi com essa turnê que ele também voltou ao Brasil, sete anos depois da primeira visita, para uma série de apresentações que quem viu, certamente não se esquece.
'hours... - 1999
Bowie se despediu dos anos 90 com seu disco mais sincero e simples em muito tempo. É uma pena que "'hours..." não tenha feito o sucesso devido, porque ele é um trabalho muito bom.
Ele foi o primeiro disco do cantor a não entrar no top 40 americano desde o início dos anos 70 - no Reino Unido ele ao menos ficou no top 5.
Resumindo, este é mais um trabalho que apenas os mais fanáticos ouviram e mesmo esses há tempos não devem tirá-lo da prateleira. Ou seja, ele é mais um disco pronto para ser descoberto.
Heathen - 2002
O primeiro álbum lançado pelo cantor no século 21, foi também seu melhor trabalho em mais de 30 anos. "Heathen" mostrou um Bowie reenergizado e com um punhado de excelentes canções para mostrar, fossem elas de sua autoria - "Everyone says hi" ou versões como a de "Cactus" dos Pixies.
Pena que suas vendas tenham sido no máximo modestas e os críticos tenham elogiado, mas não com o entusiasmo necessário - ele certamente merecia ter entrado com mais destaque nas listas de melhores discos daquele ano.
Reality - 2003
Depois desse álbum, os fãs precisariam esperar uma década por um novo disco do cantor. Ou seja, por um bom tempo fomos levados a pensar que "Reality" seria o seu último disco.
Se tivesse sido esse o caso, Bowie nos teria deixado um trabalho musicalmente muito bom - algo como um álbum-irmão de "Heathen", mas sem a carga dramática necessária para um evento de tal magnitude.
"Reality" de qualquer forma é um álbum homogêneo, com algumas faixas de real destaque - "New Killer Star" em particular.
The Next Day - 2013
Levou um tempo para que se percebsse que David Bowie estava se retraindo mais e mais. Afinal é normal que os artistas levem mais e mais tempo entre um disco e outro, mas quando, cinco, seis anos se passaram e chegou-se a conclusão que ele andava cada vez mais recluso e, aparentemente, aposentado.
Até que em 8 de janeiro de 2013 o vídeo de "Where Are We Now?" surgiu a internet e o lançamento de álbum anunciado para breve. Sim, ele havia conseguido gravar um álbum escondido e surpreendeu todos.
Tratado como clássico instantâneo, "The Next Day" era um álbum roqueiro que não soava retrô, ainda que fizesse alusões a vários dos "Bowies" do passado. A diferença maior é que, a partir de agora, ele não daria mais entrevistas e muito menos faria shows. O cantor se torna um enigma e seus últimos anos de vida, certamente irão render muitas reportagens investigativas.
Blackstar - 2016
Quando no final de 2015 um novo trabalho de David Bowie foi anunciado, os fãs respiraram aliviados. Afinal foram "apenas" três anos de espera. Quase nada para quem precisou aguardar dez anos por novidades.
A promessa de um disco experimental, gravado com músicos da nova geração de jazzistas norte-americanos, animou e assustou na mesma medida. Afinal podia-se esperar de tudo dessa estranha mistura. Mas foi bom saber que ele ainda estava disposto a arriscar ao invés de seguir em uma trilha sem acidentes.
É claro que, a partir de agora, vai ser impossível ouvir o álbum sem que ele soe como uma despedida - as letras já foram todas esmiuçadas em busca de "pistas" - e ele já ganhou um peso bem maior do que seria de se imaginar há alguns meses ou dias.
De forma resumida, antes da morte do cantor "Blackstar" tinha toda a cara de que seria um dos bons discos de 2016. Ouvindo-o agora depois de sua partida, com todas as camadas de significado que ele ganhou, vai ser difícil tirar dele o título de grande álbum do ano, quiçá da década. É esperar para ver.