A série de matérias especiais sobre os indicados ao prêmio "Álbum do Ano" do Grammy é encerrada com um dos trabalhos mais aclamados de 2015. "To Pimp A Butterfly" do rapper Kendrick Lamar chega como um dos grandes favoritos à premiação.

Nos últimos anos, Lamar se tornou uma das principais referências do hip hop, principalmente pela temática de suas letras, que questionam a desigualdade racial nos Estados Unidos. Essa característica deu ao rapper de Compton, Califórnia, o status de uma das principais vozes do país.

Respeitado pelo seu trabalho e sua percepção como celebridade e influência para os jovens, Kendrick Lamar lidou muito bem com a pressão de lançar o sucessor de seu elogiado disco de estreia, "Godd Kid M.A.A.D. City".

Em "To Pimp A Butterfly", o rapper californiano presenteia os fãs com grandes letras, que falam sobre desigualdade, medo, mas também otimismo, sem deixar de ser crítico. Tudo isso, com um fundo musical rico, viajando pelo funk e jazz, sem deixar de ser hip hop.

A inspiração e a produção
Kendrick Lamar

Uma viagem à África do Sul foi determinante na direção que o novo álbum de Kendrick Lamar tomaria. O rapper visitou lugares históricos, como a cela em que Nelson Mandela ficou preso (o líder sul africano é uma das inspirações do rapper).

Para produzir o trabalho, Lamar reuniu um time variado de colaboradores, desde George Clinton, um dos maiores nomes do funk, até Pharrel Williams, um dos grandes produtores do hip hop e pop dos últimos anos.

Mais do que um músico, Kendrick Lamar deve ser reconhecido como um produtor de seu trabalho, de acordo com um dos produtores do disco, Flying Lotus. "Ele não recebe o crédito como produtor, mas ele teve uma visão para esse álbum. O cara se envolve com todo o processo", tuitou.

O lançamento e a repercussão

Diferente do planejado por Kendrick e sua equipe, "To Pimp A Butterfly" chegou às plataformas de streaming oito dias antes do lançamento programado. Uma coincidência: "To Pimp A Butterfly" foi lançado na data de 20 anos de "Me Against The World", o disco mais pessoal de Tupac Shakur.

Logo após o seu lançamento, cada música do álbum ganhou destaque nas redes sociais, com comentários de fãs e críticos. Mesmo sem qualquer canção com sonoridade ideal para rádios, "To Pimp A Butterfly" empolgou muitos fãs de hip hop em sua primeira audição.

Os críticos musicais, por sua vez, também foram só elogios ao novo trabalho de Lamar, citando não apenas a qualidade da produção e letras ricas, mas também a variedade sonora, com influências de jazz, soul e funk.

A música e a mensagem



"To Pimp A Butterfly" não é uma coleção de novos sucessos do rap. Mas, ainda assim, não deixa de soar como um novo clássico do hip hop, pela qualidade de sua música e a mensagem de suas letras. Basta assistir a apresentação ao vivo de algumas das músicas do disco para entender a força de cada canção e o significado delas nas performances de Kendrick Lamar.

O disco traz uma série de mensagens sobre a questão racial nos Estados Unidos, com destaque para "Wesley's Theory (Feat. George Clinton, Thundercat)", "The Blacker The Berry" e "King Kunta". A música "Alright" (produzida por Pharrel Williams), por exemplo, foi adotada como um hino não oficial pelo Black Lives Matter, movimento contra a violência ao povo negro.

A primeira música de trabalho, "", assim como "Alright", é um exemplo perfeito de como o rapper consegue discutir as desigualdades em seu país, sem deixar de lado o otimismo. Mostrando um conflito interno em canções como "", é com "" que o rapper quer influenciar novas gerações.



Um grande disco como "To Pimp A Butterfly" só poderia ser fechado com chave de ouro. Na canção "Mortal Man", Kendrick pergunta aos fãs se eles continuarão sendo seus seguidores mesmo que algo possa difamar sua imagem e cita negros influentes na história como Nelson Mandela e Michael Jackson.

Após a música, os ouvintes são surpreendidos com uma conversa de Kendrick Lamar com seu grande ídolo, Tupac Shakur. A montagem foi feita com uma entrevista de 2Pac em 1994 e é um dos melhores momentos do disco.

Para os fãs de hip hop esse disco pode ser considerado essencial. Para quem não é familiar com o estilo, é uma ótima forma de começar a ouvi-lo, com um álbum, que independentemente de ganhar ou não o prêmio Grammy, já é um dos grandes discos da história recente do hip hop.

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