Dois álbuns lançados há exatamente 50 anos, mudaram de forma permanente a história do rock. "Pet Sounds" dos Beach Boys e "Blonde On Blonde" de Bob Dylan apontaram, cada um à sua maneira, novos e excitantes rumos para a música moderna. Caminhos, que, ainda hoje, continuam sendo seguidos por inúmeros artistas mundo afora.
"Pet Sounds", mais do que um disco da banda, é praticamente um trabalho solo de Brian Wilson. Nessa época ele já havia deixado de excursionar com o grupo para dedicar-se exclusivamente a compor e gravar.
O estopim para o disco foi o lançamento de "Rubber Soul" dos Beatles no final de 1965, que surpreendeu Wilson por sua unidade e qualidade de todas as suas faixas - lembrando que era comum os álbuns virem repletos do chamado "filler" - canções inferiores que entravam apenas para preencher o espaço de um LP.
Brian compôs o material com o letrista Tony Asher e usou os melhores músicos de estúdio de Los Angeles nas gravações enquanto os Beach Boys estavam em turnê. Quando retornaram, os integrantes colocaram suas vozes nas canções e assim o disco foi completado.
E que canções, Wilson aqui rompeu de vez com o passado da banda, deixando de lado as músicas sobre carros, surf e garotas, para lidar com emoções bem mais complexas e intensas.
Musicalmente o avanço foi ainda maior, com o uso de instrumentos pouco comuns ao mundo do rock, e a sua capacidade para conseguir combinar sons e instrumentos aparentemente díspares em algo que acabava fazendo sentido.
Os músicos que participaram das sessões contam como Wilson pedia para que a guitarra fosse tocada em um tom totalmente diferente daquele do baixo, e a cada vez que um música olhava com estranheza, ele só fazia aquela cara de "eu sei o que estou fazendo". E sabia mesmo, já que o resultado final é de uma beleza e complexidade que raramente, ou nunca mesmo, foi repetida.
Apesar de ter sido unanimemente elogiado por críticos e colegas, incluindo os Beatles que foram bastante influenciados pelo álbum, quando foram gravar "Sgt. Peppers", o disco não fez o sucesso esperado. Brian obviamente ficou decepcionado, assim como os demais integrantes da banda - notadamente o vocalista Mike Love, defensor de que o grupo seguisse na fórmula que havia os consagrado.
Mas não demorou muito para o álbum ganhar o status de clássico. Naquela que é a provável primeira lista de "100 melhores discos de todos os tempos" publicada, a do NME de 1974, "Pet Sounds" estava em terceiro lugar - atrás justamente de "Sgt. Peppers" e "Blonde On Blonde".
Hoje em dia não é exagero dizer que, de forma geral, "Pet Sounds" é o melhor disco já feito, de acordo com a crítica mundial, apesar de certas mudanças sazonais de preferências no topo.
Basta dizer que ele encabeça a relação do site "Acclaimed Music". Essa página é desenvolvida por um matemático que se se dedica a tabular inúmeras listas desse tipo para se tentar chegar a um resultado próximo do objetivo sobre quais seriam realmente os grandes álbuns da história.
O público também acabou se rendendo ao disco, e hoje em dia é difícil imaginar como seria a música pop sem maravilhas como "God Only Knows", "Wouldn't It Be Nice", "I Just Wasn't Made For These Times", "Sloop John B", "Caroline, No" e todas as outras canções que o compõem.
Para marcar o aniversário do trabalho, Brian Wilson neste momento está em uma turnê especial, onde toca todas as músicas de sua obra-prima ao lado do guitarrista Al Jardine.
Blonde On Blonde
O disco de Dylan é algo bem diferente. Muito mais solto e com clima de "ao vivo", este foi o primeiro álbum duplo da história do rock - "Freak Out!" lançado duas semanas depois por Frank Zappa foi o segundo.
Além disso, o cantor e compositor surpreendeu ao colocar, "", uma canção de 11 minutos, para ocupar todo o quarto lado do antigo LP. O trabalho ainda trazia outras canções de longa duração e, alguns momentos mais diretos, em um pacote que abrange rock, folk, blues, R&B, baladas e mais.
Nos EUA, o single "" se mostrou o mais popular, chegando ao segundo lugar. Já no Reino Unido o grande sucesso foi a balada "" que alcançou a oitava posição. "Blonde On Blonde" ainda tem "", outra de suas canções mais populares.
"Blonde..." fecha uma espécie de trilogia que teve início com "Bringing It All Back Home" e seguiu com "Highway 61 Revisited", ambos de 1965. Nesses trabalhos, Dylan foi deixando a música folk de protesto e o formato voz e violão para trás para abraçar a eletricidade do rock, e a escrever de forma mais livre, deixando seu lado literato aflorar de vez.
A maior parte do álbum foi gravada em Nashville, em duas sessões de quatro e três dias em fevereiro e março daquele ano, com outras três sessões acontecidas em Nova York.
Outra novidade estava na capa do disco, com os músicos de estúdio sendo creditados, algo que os deixou muito felizes, depois de tanto tempo gravando hits sem receberem o devido reconhecimento.
O álbum saiu durante a polêmica turnê de 1966 do músico. Foram nesses shows que o cantor foi fortemente vaiado por se apresentar durante uma parte do concerto por uma banda de rock, os músicos que futuramente iriam se chamar The Band - algo que os fãs de folk mais radicais achavam inaceitável.
Isso não impediu o álbum de ser aclamado. Além do sucesso com críticos e músicos, ele também chegou no top 10 dos EUA e do Reino Unido - lembrando que por se tratar de um álbum duplo ele custava bem mais caro.
"Blonde On Blonde" tem diversas facetas de Dylan, e por isso, muitos especialistas o consideram seu melhor álbum. O Acclaimed Music diz que ele é o nono melhor disco da história e, recentemente, a revista britânica Uncut o colocou na sétima colocação em sua lista do "200 melhores álbuns de todos os tempos" ("Pet Sounds" ficou em primeiro).
A diferença maior entre os dois trabalhos está também em sua acessibilidade. "Pet Sounds" é um disco que tem o poder de cativar imediatamente, enquanto "Blonde On Blonde" pode precisar de algumas audições, as transcrições das letras e algum entendimento da obra de Dylan para ser plenamente apreciado.
Independentemente disso, tanto um quanto ou ouro, são daqueles discos que são obrigatórios em qualquer discoteca que se preze. Por isso, é incrível pensar que nenhum deles saiu em vinil (ou mesmo em CD, ao menos quando o formato ainda importava) em edição brasileira.
"Pet Sounds", mais do que um disco da banda, é praticamente um trabalho solo de Brian Wilson. Nessa época ele já havia deixado de excursionar com o grupo para dedicar-se exclusivamente a compor e gravar.
O estopim para o disco foi o lançamento de "Rubber Soul" dos Beatles no final de 1965, que surpreendeu Wilson por sua unidade e qualidade de todas as suas faixas - lembrando que era comum os álbuns virem repletos do chamado "filler" - canções inferiores que entravam apenas para preencher o espaço de um LP.
Brian compôs o material com o letrista Tony Asher e usou os melhores músicos de estúdio de Los Angeles nas gravações enquanto os Beach Boys estavam em turnê. Quando retornaram, os integrantes colocaram suas vozes nas canções e assim o disco foi completado.
E que canções, Wilson aqui rompeu de vez com o passado da banda, deixando de lado as músicas sobre carros, surf e garotas, para lidar com emoções bem mais complexas e intensas.
Musicalmente o avanço foi ainda maior, com o uso de instrumentos pouco comuns ao mundo do rock, e a sua capacidade para conseguir combinar sons e instrumentos aparentemente díspares em algo que acabava fazendo sentido.
Os músicos que participaram das sessões contam como Wilson pedia para que a guitarra fosse tocada em um tom totalmente diferente daquele do baixo, e a cada vez que um música olhava com estranheza, ele só fazia aquela cara de "eu sei o que estou fazendo". E sabia mesmo, já que o resultado final é de uma beleza e complexidade que raramente, ou nunca mesmo, foi repetida.
Apesar de ter sido unanimemente elogiado por críticos e colegas, incluindo os Beatles que foram bastante influenciados pelo álbum, quando foram gravar "Sgt. Peppers", o disco não fez o sucesso esperado. Brian obviamente ficou decepcionado, assim como os demais integrantes da banda - notadamente o vocalista Mike Love, defensor de que o grupo seguisse na fórmula que havia os consagrado.
Mas não demorou muito para o álbum ganhar o status de clássico. Naquela que é a provável primeira lista de "100 melhores discos de todos os tempos" publicada, a do NME de 1974, "Pet Sounds" estava em terceiro lugar - atrás justamente de "Sgt. Peppers" e "Blonde On Blonde".
Hoje em dia não é exagero dizer que, de forma geral, "Pet Sounds" é o melhor disco já feito, de acordo com a crítica mundial, apesar de certas mudanças sazonais de preferências no topo.
Basta dizer que ele encabeça a relação do site "Acclaimed Music". Essa página é desenvolvida por um matemático que se se dedica a tabular inúmeras listas desse tipo para se tentar chegar a um resultado próximo do objetivo sobre quais seriam realmente os grandes álbuns da história.
O público também acabou se rendendo ao disco, e hoje em dia é difícil imaginar como seria a música pop sem maravilhas como "God Only Knows", "Wouldn't It Be Nice", "I Just Wasn't Made For These Times", "Sloop John B", "Caroline, No" e todas as outras canções que o compõem.
Para marcar o aniversário do trabalho, Brian Wilson neste momento está em uma turnê especial, onde toca todas as músicas de sua obra-prima ao lado do guitarrista Al Jardine.
Blonde On Blonde
O disco de Dylan é algo bem diferente. Muito mais solto e com clima de "ao vivo", este foi o primeiro álbum duplo da história do rock - "Freak Out!" lançado duas semanas depois por Frank Zappa foi o segundo.
Além disso, o cantor e compositor surpreendeu ao colocar, "", uma canção de 11 minutos, para ocupar todo o quarto lado do antigo LP. O trabalho ainda trazia outras canções de longa duração e, alguns momentos mais diretos, em um pacote que abrange rock, folk, blues, R&B, baladas e mais.
Nos EUA, o single "" se mostrou o mais popular, chegando ao segundo lugar. Já no Reino Unido o grande sucesso foi a balada "" que alcançou a oitava posição. "Blonde On Blonde" ainda tem "", outra de suas canções mais populares.
"Blonde..." fecha uma espécie de trilogia que teve início com "Bringing It All Back Home" e seguiu com "Highway 61 Revisited", ambos de 1965. Nesses trabalhos, Dylan foi deixando a música folk de protesto e o formato voz e violão para trás para abraçar a eletricidade do rock, e a escrever de forma mais livre, deixando seu lado literato aflorar de vez.
A maior parte do álbum foi gravada em Nashville, em duas sessões de quatro e três dias em fevereiro e março daquele ano, com outras três sessões acontecidas em Nova York.
Outra novidade estava na capa do disco, com os músicos de estúdio sendo creditados, algo que os deixou muito felizes, depois de tanto tempo gravando hits sem receberem o devido reconhecimento.
O álbum saiu durante a polêmica turnê de 1966 do músico. Foram nesses shows que o cantor foi fortemente vaiado por se apresentar durante uma parte do concerto por uma banda de rock, os músicos que futuramente iriam se chamar The Band - algo que os fãs de folk mais radicais achavam inaceitável.
Isso não impediu o álbum de ser aclamado. Além do sucesso com críticos e músicos, ele também chegou no top 10 dos EUA e do Reino Unido - lembrando que por se tratar de um álbum duplo ele custava bem mais caro.
"Blonde On Blonde" tem diversas facetas de Dylan, e por isso, muitos especialistas o consideram seu melhor álbum. O Acclaimed Music diz que ele é o nono melhor disco da história e, recentemente, a revista britânica Uncut o colocou na sétima colocação em sua lista do "200 melhores álbuns de todos os tempos" ("Pet Sounds" ficou em primeiro).
A diferença maior entre os dois trabalhos está também em sua acessibilidade. "Pet Sounds" é um disco que tem o poder de cativar imediatamente, enquanto "Blonde On Blonde" pode precisar de algumas audições, as transcrições das letras e algum entendimento da obra de Dylan para ser plenamente apreciado.
Independentemente disso, tanto um quanto ou ouro, são daqueles discos que são obrigatórios em qualquer discoteca que se preze. Por isso, é incrível pensar que nenhum deles saiu em vinil (ou mesmo em CD, ao menos quando o formato ainda importava) em edição brasileira.