Lady Gaga - Joanne
Para entendermos esse disco é necessário vermos as transformações pelas quais Lady Gaga passou nos últimos três anos quando lançou o ambicioso (ou pretensioso diriam os maldosos) "ARTPOP". Um trabalho que antes de seu lançamento foi divulgado de forma a fazer crer que uma nova revolução no mundo da música - daquelas que só David Bowie e poucos outros de fato conseguiram lograr - estivesse à caminho.
O trabalho acabou não fazendo o sucesso, de público e crítica, esperado, mas também não foi nem de longe um fracasso.
Gaga poderia ter entrado em uma egotrip - algo comum em superestrelas da música - mas demonstrou inteligência e humildade para traçar seus próximos passos. Primeiro começou a valorizar o acesso que sua condição de popstar lhe dava e se aproximou de gente como Paul McCartney, Elton John ou Tony Bennett (com quem gravou um belo disco de standards).
Ela ainda tirou um tempo para se aperfeiçoar como cantora, compositora e pianista e também para fortalecer a sua imagem pública.
Assim vimos ela brigando por causas justas (a luta contra o abuso sexual por exemplo) e provando para os céticos que era uma grande artista sim (vide a aplaudidíssima sua performance no Oscar do ano passado quando homenageou o clássico "A Noviça Rebelde").
Tudo isso nos leva a "Joanne", um disco surpreendentemente simples - logo em um ano em que várias estrelas do pop optaram por discos mais conceituais e complexos - e muito bem feito. Gaga lançou um trabalho relativamente curto - mesmo a edição deluxe tem apenas 47 minutos - e com faixas compostas e produzidas por uma enorme gama de colaboradores.
O nome mais constante na ficha técnica é o de Mark Ronson, mas a lista de parceiros é das mais interessantes.
Ela inclui astros do rock alternativo como Josh Homme do Queens Of The Stone Age, Kevin Parker do Tame Impala, Beck e J. Tillman (o Father John Misty) e também Florence Welch (o único "featuring" do disco, na bela "Hey Girl").
Isso não significa que "Joanne" é um trabalho roqueiro. Não, é um disco de música pop que olha tanto para o futuro quanto o passado - são várias as faixas de clima retrô. Ele só não se mostra muito homogêneo, parecendo mais uma reunião de singles em potencial do que qualquer outra coisa, o que não chega a ser um defeito.
Assim a curiosidade agora é ver os passos futuros da estrela. "Joanne" certamente soa como um álbum de transição. Resta saber se ele marcará o início de uma nova fase da cantora ou se o disco será visto apenas como um respiro antes de uma nova reinvenção.
Ouça "Perfect Illusion" com Lady Gaga presente no álbum "Joanne"
Leonard Cohen - You Want It Darker
Leonard Cohen é um dos raros casos de cantor que sempre foi visto de certa forma como veterano, afinal ele só lançou seu primeiro álbum aos 33 anos (em um já longínquo em 1967). Ainda assim surpreende a sua vitalidade (não confundir obviamente com jovialidade) para seguir não só lançando discos ainda hoje (ele acaba de completar 82 anos) como mostrando enorme inspiração.
Cohen sabe que esse álbum pode ser o seu último, e não esconde o fato, mas também mostra disposição para seguir até quando for possível.
Apesar da longa carreira, este é apenas o 14° trabalho de estúdio dele e pode-se dizer que ele fecha uma "trilogia do renascimento" que teve início em 2012 com "Old Ideas" e seguiu com "Popular Problems" dois anos depois.
A maior diferença desse para os dois antecessores está em uma opção por um som mais orgânico que remete a discos fundamentais como "Songs of Love and Hate" (1971), "New Skin for the Old Ceremony" (1974).
Não que ele tenha abandonado as texturas eletrônicas - desde a década de 80 ele é fascinado por um teclado Cassio de timbre um tanto duvidoso ainda que eficiente - mas esse é o primeiro disco de estúdio dele em décadas a ter esse clima.
Quem está familiarizado com a obra do cantor/poeta já sabe o que esperar de seus discos: a voz gravíssima, as belas letras (depois de Bob Dylan se existe um outro letrista digno do Nobel é ele) e o clima soturno que também carrega momentos de romantismo e um certo senso de humor. Quem não conhece talvez estranhe um pouco, mas vale a pena escutar com calma (de preferência acompanhando as letras)
Em resumo, mais um álbum dele que merecidamente, será lembrado em boa parte das listas de melhores discos de 2016.
Ouça "You Want It Darker?" a faixa-título do novo álbum de Leonard Cohen
Pretenders - Alone
Apesar de ter não mais que 200 mil habitantes, Akron no estado de Ohio já deu mais bandas de ponta para o mundo do rock que muitas metrópoles. Assim era só questão de tempo para que dois dos nomes que ajudaram a fazer a história dessa cidade americana se juntassem em um projeto.
Falamos de Chryssie Hynde, a líder absoluta dos Pretenders e de Dan Auerbach dos Black Keys que há tempos já provou que também é um grande produtor, especialmente quando trabalha com artistas com um certo tempo de estrada.
Auerbach soube extrair de Hynde, e seus músicos, um disco maduro e poderoso. Ela segue compondo muito bem, tanto faixas mais pesadas quanto as mais lentas e sua voz segue afiada e forte. "Alone" resulta assim em um trabalho surpreendente que pode não atingir os mesmos níveis dos dois primeiros, e obrigatórios, discos da banda lançados no início dos anos 80, mas que seguramente está entre os melhores já feitos por eles desde então.
Ouça "Holy Commotion" com os Pretenders presente no álbum "Alone"
Músicas de todos esses discos já foram adicionadas ao canal dedicado aos lançamentos do Vagalume FM. Não deixe de escutar!