Nas últimas semanas duas versões de músicas estrangeiras chamaram a atenção de quem acompanha o noticiário musical do Brasil. Falamos de "" onde Zé Ramalho reimaginou "Mr. Crowley" de Ozzy Osbourne e, claro, de "Juntos" onde Paula Fernandes e Luan Santana assumiram a função que Lady Gaga e Bradley Cooper tiveram em "Shallow", o hit da trilha sonora do remake de "Nasce Uma Estrela" do ano passado.
As duas faixas geraram curiosidade, comentários e o verso "juntos e shallow now" até virou meme. A história do Brasil com versões vem de muito tempo, tanto que muitas são até mais conhecidas que as originais. Escute abaixo algumas que fizeram sucesso, outras inusitadas e algumas divertidas em uma lista que, certamente, poderia ser ainda maior.
"Splish Splash" - Roberto Carlos - 1963
Um dos primeiros sucessos do Rei, não foi uma composição original, mas sim essa versão para uma canção de Bobby Darin com o mesmo nome. A curiosidade aqui está em saber que na letra do americano o tal "splish splash" se refere a um banho de banheira e conta a história de quando o narrador ao se enrolar na toalha para sair descobriu que havia uma festa rolando na casa. Já aqui, como todos sabemos, "splish splash" foi o som feito pelo beijo que Roberto deu "nela dentro do cinema", e também do tapa que levou em seguida, mostrando que o bom humor estava presente em ambas as versões.
"Feche Os Olhos" - Renato e Seus Blue Caps - 1965
Na Jovem Guarda ninguém fazia tantas versões quanto o Renato e Seus Blue Caps, que fizeram sucesso com várias delas, em especial com músicas dos Beatles. Curiosamente eles muitas vezes escolhiam faixas menos óbvias do quarteto de Liverpool para verter para o português, tornando assim canções como "I Should Have Known Better", "You're Going To Lose That Girl" ou "You Won't See Me" bastante populares por aqui
com letras em português.
Dessas todas, certamente a mais lembrada, é a versão para "All My Loving", a ponto de não serem poucos os que começam a cantar "Feche os olhos e sinta, um beijinho agora..." assim que ouvem o original. Renato também gravaria versões de bandas como The Hollies, Yardbirds e Mamas and the Papas em seus álbuns.
"Moscovita" - Erasmo Carlos - 1992
O Tremendão também gravou algumas versões nos anos 60, mas, no geral, sempre deu preferência para material próprio ou composições de brasileiros. Daí ser um tanto inusitada essa decisão dele de registrar "Nikita" de Elton John (1985) já nos anos 90.
"Recado a John Lennon" - Roberto Leal - 1979
Gravada um ano antes da morte do Beatle, essa versão para "Hey Jude" em ritmo de fado trazia um apelo do cantor lusitano radicado no Brasil para que John, que na época estava afastado da carreira musical, retornasse aos Beatles. Essa é para os que achavam que a única versão dessa música feita por aqui foi a de Kiko Zambianchi em 1989.
"Serei Teu Bem (you've Got A Friend)" - Diana Pequeno - 1985
Essa é uma versão com "pedigree", gravada pela cantora baiana em 1985, mesmo ano em que James Taylor a tornou um dos grandes hinos do primeiro Rock in Rio. A versão de "You've Got a Friend", composta e gravada primeiro por Carole King em 1971, foi feita por Ronaldo Bastos, um dos principais parceiros de Milton Nascimento.
Bastos também recriou "Lately" de Stevie Wonder como "Nada Mais" que Gal Costa transformou em hit nacional.
"Calúnias (Telma Eu Não Sou Gay)" - Ney Matogrosso - 1982
Provavelmente a versão mais divertida desta lista, essa tem uma história curiosa e nos leva de volta ao início da cena do Rock Brasileiro dos anos 80, quando o João Penca e seus Miquinhos Amestrados começava a chamar a atenção com sua mistura de rock dos anos 50 e início dos 60 e letras bem-humoradas.
Foram eles que ao escutarem "Tell Me Once Again" do Light Reflections - uma banda brasileira que gravava em inglês nos anos 70 - começaram a cantar "Telma, eu não sou gay" em cima da melodia e decidiram levar a brincadeira adiante. Para deixar tudo mais engraçado, Ney Matogrosso foi convidado, e aceitou fazer o vocal principal na faixa para o disco de estreia do grupo.
Foi aí que os problemas começaram. A música estourou nas rádios e a gravadora de Ney, a a mesma Braclay por onde também saiu o disco do João Penca, exigiu que ele incluísse a faixa em seu novo disco.
O cantor se recusou, dizendo que aquela era uma mera brincadeira e que destoava por completo do resto do álbum. A gravadora então ameaçou sabotar os Miquinhos e Ney acabou cedendo, mas peidiu para que ela não fosse incluída na reedição do álbum "...Pois É" em CD.
"Solange" - Leo Jaime - 1984
Léo Jaime surgiu como integrante do João Penca, mas deixou o grupo para seguir uma bem-sucedida carreira solo. Em 1984 ele lançou seu disco de estreia que trazia "", uma desbocada versão para "Sunny" de Chris Montez que fez bastante sucesso.
No trabalho seguinte, "Sessão da Tarde" de 1985, ele voltaria à tona com outra versão cheia de significados nas entrelinhas. Para começar, ele chamou os Paralamas do Sucesso para tocarem em sua adaptação de "So Lonely" do The Police - lembrando que nessa época, Herbert, Bi e Barone, viviam sendo chamados de "Police cover" por parte da imprensa.
Batizada de "Solange", a faixa trazia uma ataque (não muito) velado a Solange Hernandez, responsável por chefiar o departamento de censura na época do regime militar. Sabendo disso, fica mais fácil, e engraçado, entender versos como "Você é bem capaz de achar/Que o que eu mais gosto de fazer/Talvez só dê pra liberar/Com cortes pra depois do altar"
"Marvin" - Titãs (1984 e 1988)
Essa entra na categoria das versões que muita gente pensa tratar-se de uma canção original. Em seu começo, os Titãs gostavam de verter músicas estrangeiras para o português. "Marvin", que se tornaria a canção símbolo de Nando Reis na época em que era o baixista e um dos vocalistas da banda, na verdade era "Patches".
Esse hit do cantor de soul music Clarence Carter de 1970, ganhou uma letra que manteve a ideia do original e foi registrada no primeiro álbum da banda paulistana (1984) sem chamar muito a atenção. Ela ganhou nova chance quatro anos depois quando ressurgiu no álbum ao vivo "Go Back" e estourou.
"O Astronauta de Mármore" - Nenhum de Nós -1989
O final da década de 80 teve muitas versões nas paradas. Além da já citada "Marvin" e de "Mordida de Amor" (mais sobre ela a seguir), podemos lembrar também de "Lá Vem O Sol" ("Here Comes The Sun" dos Beatles) com Lulu Santos ou "Mais Uma Vez (just To See Her)" do Placa Luminosa ("Just To See Her" de Smokey Robinson).
Mas nenhuma, provavelmente fez tanto sucesso quanto a adaptação de "Starman" (1972) de David Bowie feita pelos gaúchos do Nenhum de Nós e que se tornou um dos maiores hits de 1989.
Vale lembrar que na época, todos os grandes clássicos de Bowie eram em sua maioria desconhecidos no Brasil, de forma que esse é mais um caso de versão que por aqui é bem mais conhecida que a original.
Para se ter uma ideia, quando Bowie esteve no Brasil pela primeira vez, em 1990, foi para fazer um concerto baseado quase que totalmente em seus clássicos dos anos 70. "Starman" sequer era presença constante no setlist, mas acabou entrando nos shows e quem viu o camaleão em São Paulo deve se lembrar dele falando, ao notar que o público não conhecia boa parte do repertório, algo como "essa próxima ao menos em português vocês conhecem."
"Mordida de Amor" - Yahoo -1988
O Yahoo foi uma cria do guitarrista Robertinho de Recife, alguém que sempre se dividiu entre os bastidores, como músico de estúdio e produtor, e o protagonismo. Nessa banda, que anos depois ele assumiu ter sido cria com o intuito deliberado de fazer muito sucesso comercial, ele aparentemente percebeu que quase todo disco de hard rock feito na época trazia uma "power ballad", que geralmente era o grande sucesso do trabalho e impulsionava as suas vendas.
Logo, um disco todo com esse tipo de balada tinha tudo para ser um estouro. E ele não estava errado, já que o grupo explodiu. A música que impulsionou o quarteto foi uma versão, a única do álbum diga-se, que também tinha uma cover para uma canção dos Mutantes.
"Mordida de Amor" (do refrão "eu não quero tocar em você oh baby") se tornou um dos maiores hits de 1988 e é daquelas músicas que quem foi jovem na época sabe cantar, mesmo sem gostar dela. O sucesso foi tanto que acabou fazendo sombra à própria "Love Bites" do Def Leppard lançado um ano antes. Basta lembrar que "Hysteria" do quinteto inglês é um dos álbuns mais vendidos de todos os tempos, mas nunca emplacou por aqui, chegando ao cúmulo da gravadora ter até colocado um selo "Inclui "Love Bites' ("Mordida de Amor")" na capa do disco como forma de incentivar as suas vendas.
Em seu disco seguinte, o Yahoo novamente gravou uma versão que se tornou o maior hit do trabalho, agora com "Anjo" (ou "Angel" do Aerosmith). Robertinho logo deixou a banda que seguiu sem ele, e aprtiu para novos projetos. Mas o músico acaba sendo a figura que amarra esse especial, afinal é ele quem produz e toca em "", uma das faixas que nos inspirou a pesquisar todas essas versões e suas histórias.
As duas faixas geraram curiosidade, comentários e o verso "juntos e shallow now" até virou meme. A história do Brasil com versões vem de muito tempo, tanto que muitas são até mais conhecidas que as originais. Escute abaixo algumas que fizeram sucesso, outras inusitadas e algumas divertidas em uma lista que, certamente, poderia ser ainda maior.
"Splish Splash" - Roberto Carlos - 1963
Um dos primeiros sucessos do Rei, não foi uma composição original, mas sim essa versão para uma canção de Bobby Darin com o mesmo nome. A curiosidade aqui está em saber que na letra do americano o tal "splish splash" se refere a um banho de banheira e conta a história de quando o narrador ao se enrolar na toalha para sair descobriu que havia uma festa rolando na casa. Já aqui, como todos sabemos, "splish splash" foi o som feito pelo beijo que Roberto deu "nela dentro do cinema", e também do tapa que levou em seguida, mostrando que o bom humor estava presente em ambas as versões.
"Feche Os Olhos" - Renato e Seus Blue Caps - 1965
Na Jovem Guarda ninguém fazia tantas versões quanto o Renato e Seus Blue Caps, que fizeram sucesso com várias delas, em especial com músicas dos Beatles. Curiosamente eles muitas vezes escolhiam faixas menos óbvias do quarteto de Liverpool para verter para o português, tornando assim canções como "I Should Have Known Better", "You're Going To Lose That Girl" ou "You Won't See Me" bastante populares por aqui
com letras em português.
Dessas todas, certamente a mais lembrada, é a versão para "All My Loving", a ponto de não serem poucos os que começam a cantar "Feche os olhos e sinta, um beijinho agora..." assim que ouvem o original. Renato também gravaria versões de bandas como The Hollies, Yardbirds e Mamas and the Papas em seus álbuns.
"Moscovita" - Erasmo Carlos - 1992
O Tremendão também gravou algumas versões nos anos 60, mas, no geral, sempre deu preferência para material próprio ou composições de brasileiros. Daí ser um tanto inusitada essa decisão dele de registrar "Nikita" de Elton John (1985) já nos anos 90.
"Recado a John Lennon" - Roberto Leal - 1979
Gravada um ano antes da morte do Beatle, essa versão para "Hey Jude" em ritmo de fado trazia um apelo do cantor lusitano radicado no Brasil para que John, que na época estava afastado da carreira musical, retornasse aos Beatles. Essa é para os que achavam que a única versão dessa música feita por aqui foi a de Kiko Zambianchi em 1989.
"Serei Teu Bem (you've Got A Friend)" - Diana Pequeno - 1985
Essa é uma versão com "pedigree", gravada pela cantora baiana em 1985, mesmo ano em que James Taylor a tornou um dos grandes hinos do primeiro Rock in Rio. A versão de "You've Got a Friend", composta e gravada primeiro por Carole King em 1971, foi feita por Ronaldo Bastos, um dos principais parceiros de Milton Nascimento.
Bastos também recriou "Lately" de Stevie Wonder como "Nada Mais" que Gal Costa transformou em hit nacional.
"Calúnias (Telma Eu Não Sou Gay)" - Ney Matogrosso - 1982
Provavelmente a versão mais divertida desta lista, essa tem uma história curiosa e nos leva de volta ao início da cena do Rock Brasileiro dos anos 80, quando o João Penca e seus Miquinhos Amestrados começava a chamar a atenção com sua mistura de rock dos anos 50 e início dos 60 e letras bem-humoradas.
Foram eles que ao escutarem "Tell Me Once Again" do Light Reflections - uma banda brasileira que gravava em inglês nos anos 70 - começaram a cantar "Telma, eu não sou gay" em cima da melodia e decidiram levar a brincadeira adiante. Para deixar tudo mais engraçado, Ney Matogrosso foi convidado, e aceitou fazer o vocal principal na faixa para o disco de estreia do grupo.
Foi aí que os problemas começaram. A música estourou nas rádios e a gravadora de Ney, a a mesma Braclay por onde também saiu o disco do João Penca, exigiu que ele incluísse a faixa em seu novo disco.
O cantor se recusou, dizendo que aquela era uma mera brincadeira e que destoava por completo do resto do álbum. A gravadora então ameaçou sabotar os Miquinhos e Ney acabou cedendo, mas peidiu para que ela não fosse incluída na reedição do álbum "...Pois É" em CD.
"Solange" - Leo Jaime - 1984
Léo Jaime surgiu como integrante do João Penca, mas deixou o grupo para seguir uma bem-sucedida carreira solo. Em 1984 ele lançou seu disco de estreia que trazia "", uma desbocada versão para "Sunny" de Chris Montez que fez bastante sucesso.
No trabalho seguinte, "Sessão da Tarde" de 1985, ele voltaria à tona com outra versão cheia de significados nas entrelinhas. Para começar, ele chamou os Paralamas do Sucesso para tocarem em sua adaptação de "So Lonely" do The Police - lembrando que nessa época, Herbert, Bi e Barone, viviam sendo chamados de "Police cover" por parte da imprensa.
Batizada de "Solange", a faixa trazia uma ataque (não muito) velado a Solange Hernandez, responsável por chefiar o departamento de censura na época do regime militar. Sabendo disso, fica mais fácil, e engraçado, entender versos como "Você é bem capaz de achar/Que o que eu mais gosto de fazer/Talvez só dê pra liberar/Com cortes pra depois do altar"
"Marvin" - Titãs (1984 e 1988)
Essa entra na categoria das versões que muita gente pensa tratar-se de uma canção original. Em seu começo, os Titãs gostavam de verter músicas estrangeiras para o português. "Marvin", que se tornaria a canção símbolo de Nando Reis na época em que era o baixista e um dos vocalistas da banda, na verdade era "Patches".
Esse hit do cantor de soul music Clarence Carter de 1970, ganhou uma letra que manteve a ideia do original e foi registrada no primeiro álbum da banda paulistana (1984) sem chamar muito a atenção. Ela ganhou nova chance quatro anos depois quando ressurgiu no álbum ao vivo "Go Back" e estourou.
"O Astronauta de Mármore" - Nenhum de Nós -1989
O final da década de 80 teve muitas versões nas paradas. Além da já citada "Marvin" e de "Mordida de Amor" (mais sobre ela a seguir), podemos lembrar também de "Lá Vem O Sol" ("Here Comes The Sun" dos Beatles) com Lulu Santos ou "Mais Uma Vez (just To See Her)" do Placa Luminosa ("Just To See Her" de Smokey Robinson).
Mas nenhuma, provavelmente fez tanto sucesso quanto a adaptação de "Starman" (1972) de David Bowie feita pelos gaúchos do Nenhum de Nós e que se tornou um dos maiores hits de 1989.
Vale lembrar que na época, todos os grandes clássicos de Bowie eram em sua maioria desconhecidos no Brasil, de forma que esse é mais um caso de versão que por aqui é bem mais conhecida que a original.
Para se ter uma ideia, quando Bowie esteve no Brasil pela primeira vez, em 1990, foi para fazer um concerto baseado quase que totalmente em seus clássicos dos anos 70. "Starman" sequer era presença constante no setlist, mas acabou entrando nos shows e quem viu o camaleão em São Paulo deve se lembrar dele falando, ao notar que o público não conhecia boa parte do repertório, algo como "essa próxima ao menos em português vocês conhecem."
"Mordida de Amor" - Yahoo -1988
O Yahoo foi uma cria do guitarrista Robertinho de Recife, alguém que sempre se dividiu entre os bastidores, como músico de estúdio e produtor, e o protagonismo. Nessa banda, que anos depois ele assumiu ter sido cria com o intuito deliberado de fazer muito sucesso comercial, ele aparentemente percebeu que quase todo disco de hard rock feito na época trazia uma "power ballad", que geralmente era o grande sucesso do trabalho e impulsionava as suas vendas.
Logo, um disco todo com esse tipo de balada tinha tudo para ser um estouro. E ele não estava errado, já que o grupo explodiu. A música que impulsionou o quarteto foi uma versão, a única do álbum diga-se, que também tinha uma cover para uma canção dos Mutantes.
"Mordida de Amor" (do refrão "eu não quero tocar em você oh baby") se tornou um dos maiores hits de 1988 e é daquelas músicas que quem foi jovem na época sabe cantar, mesmo sem gostar dela. O sucesso foi tanto que acabou fazendo sombra à própria "Love Bites" do Def Leppard lançado um ano antes. Basta lembrar que "Hysteria" do quinteto inglês é um dos álbuns mais vendidos de todos os tempos, mas nunca emplacou por aqui, chegando ao cúmulo da gravadora ter até colocado um selo "Inclui "Love Bites' ("Mordida de Amor")" na capa do disco como forma de incentivar as suas vendas.
Em seu disco seguinte, o Yahoo novamente gravou uma versão que se tornou o maior hit do trabalho, agora com "Anjo" (ou "Angel" do Aerosmith). Robertinho logo deixou a banda que seguiu sem ele, e aprtiu para novos projetos. Mas o músico acaba sendo a figura que amarra esse especial, afinal é ele quem produz e toca em "", uma das faixas que nos inspirou a pesquisar todas essas versões e suas histórias.