O documentário de Todd Haynes sobre o Velvet Underground, que estreou na Apple TV há poucos dias, está gerando muito interesse na banda de Lou Reed e John Cale. Haynes (de "Longe do Paraíso", "Carol" e "Eu Não estou Lá") conseguiu fazer um longa que instrui e prende a atenção mesmo tendo uma tarefa complicada em mãos, a de fazer um doc. de uma banda com pouquíssimos registros em filme e com três integrantes já mortos, incluindo o líder Reed.
O cineasta também fugiu do clichê que sempre acompanha qualquer narrativa sobre o grupo: a da banda que não vendeu quase nada quando esteve na ativa e, depois, se tornou uma das mais influentes de todos os tempos. Praticamente todos os depoimentos são dados por ex-integrantes, tanto exclusivamente para o filme ou em entrevistas de arquivo para o caso de quem já morreu, e por quem os acompanhou nos anos 60.
O Velvet deixou apenas quatro álbuns de estúdio e um punhado de canções que foram lançadas posteriormente, quando a banda já era tratada como lendária. Todos eles são excelentes e fundamentais para quem busca entender a história do rock, Abaixo separamos cinco canções marcantes dessa carreira curta mas que ainda ressoa.
"Venus In Furs" - 1967
O álbum de estreia do Velvet, o chamado "disco da banana", é o único a contar com a presença da cantora Nico, em três faixas, e com o apoio de Andy Warhol - rei da Pop Art. Considerado um dos melhores de todos os tempos, ele é o que traz a melhor interação entre Lou Reed, um fã de rock and roll e doo wop, e John Cale, um músico galês de formação clássica que acabou indo parar em Nova Iorque para trabalhar com grandes mestres da música erudita de vanguarda.
Como ele explica no filme, ao ouvir as canções de Reed ele percebeu que o músico estava tratando de temas inusitados e novos no rock, paranoia, sadomasoquismo, drogas pesadas..., e que o músico tinha a ambição de trazer a literatura e poesia para o mundo pop, mas que ele estava embalando essas letras em um acompanhamento por demais convencional.
Sua função foi a de trazer experimentação para as músicas, com violino, viola e o piano dando o clima inovador que elas pediam. A chegada do guitarrista Sterling Morrison e da baterista Moe Tucker, com seu estilo minimalista, completaram a receita.
O disco, lançado no auge do movimento hippie, não conseguiu atrair a atenção de muita gente, mas, como diria o produtor Brian Eno anos depois, quem o escutou logo quis montar uma banda.
Não que todo o álbum seja "para poucos". Baladas como "Femme Fatale", "Sunday Morning" ou "I'll Be Your Mirror" poderiam ter tocado no rádio, e contrastavam com os momentos de cacofonia, "European Son", ou mais barra pesada, como "I'm Waiting for the Man" e "Heroin".
"Venus In Furs" tem uma estrutura um pouco mais pop, mas também o arranjo inovador de Cale e uma letra sobre sexo sadomasoquista, e mostra simultaneamente o porquê o som da banda não ter atingido muitas pessoas originalmente e as razões dele ter encontrado mais ouvidos a partir dos anos 70, muito graças a David Bowie que nunca escondeu a sua admiração e dívida para com a banda.
"White Light/White Heat" - 1968
"White Light/White Heat", o segundo álbum do Velvet é o mais radical dos quatro. Com apena seis músicas, ele tinha quase que todo o lado B preenchido pela barulhenta "Sister Ray", enquanto a primeira face trazia a discursiva "The Gift", com Cale lendo um conto de Reed em um canal do estéreo e a banda criando um acompanhamento musical no outro.
As outras quatro eram mais "comuns", mas não aliviavam muito, com a possível exceção da balada "Here She Comes Now", de apenas dois minutos. Dessas, a faixa título se tornaria um dos clássicos da banda, com sua pegada quase punk e urgência. Bowie era um que gostava de tocá-la ao vivo, especialmente durante os anos "Ziggy Stardust". Desnecessário dizer que o disco vendeu ainda menos que o anterior.
"Pale Blue Eyes" - 1969
Lou Reed forçou a saída de Cale do quarteto, ao dar um ultimato para Morison e Tucker, na linha do "ou ele ou eu". Sem o multi-instrumentista, o som do Velvet fica um pouco mais palatável, mas não muito. Doug Yule se torna o novo baixista e tecladista e até ganha o direito de cantar "Candy Says", a música de abertura do álbum, chamado simplesmente "The Velvet Underground" - Tucker também estreou como cantora na singela e adorável "After Hours".
Deste trabalho nenhuma música teve mais sobrevida, e regravações, que "Pale Blue Eyes", uma das melhores baladas da história do rock.
"Rock And Roll"
O derradeiro disco de estúdio do VU, "Loaded", é o mais convencional deles, especialmente por não contar com a presença de Moe Tucker, que grávida, não participou das sessões. Ele mostra o amadurecimento de Reed como compositor e tinha tudo para ter encontrado um público mais amplo. Infelizmente, isso não aconteceu e a banda logo se separou (há ainda um outro álbum creditado ao grupo, "Squeeze", mas ele é basicamente um trabalho solo de Yule, sem o envolvimento de qualquer outro integrante).
Daqui saíram duas marcas registradas da banda, e do rock em geral, por que não?, "Sweet Jane", que Reed seguiria tocando até o fim da vida com grande frequência, e "Rock And Roll", uma das maiores declarações de amor ao estilo e ao seu poder de transformar vidas.
"I Can't Stand It" - 1985 (gravada em 1969)
Na década de 80 o Velvet já estava com lugar assegurado entre os maiores nomes da história do rock, tendo influenciado diretamente no surgimento do punk. Lou Reed embarcou em uma bem sucedida carreira solo e Cale também lançou uma série de grandes trabalhos, em diversos estilos musicais.
Com a chegada dos Compact Discs, a Polygram decidiu lançar os discos da banda neste novo formato. Foi quando, para surpresa dos envolvidos, uma série de músicas inéditas foram encontradas nos arquivos. Algumas ainda traziam John Cale na formação, mas a maioria tinha sido registrada para o que seria o quarto disco deles para a MGM, um trabalho que nunca foi feito ("Loaded" saiu por outra gravadora).
O álbum "VU", saiu em 1985 e trazia, em dez faixas, o melhor desse material. O resultado se mostrou surpreendentemente bom em se tratando de sobras de estúdio e ele pode ser facilmente colocado dentro da história discográfica da banda, como "I Can't Stand It" deixa claro.
As outras nove músicas saíram em outro CD, "Another View", este já mais inferior, mas ainda assim curioso.
O cineasta também fugiu do clichê que sempre acompanha qualquer narrativa sobre o grupo: a da banda que não vendeu quase nada quando esteve na ativa e, depois, se tornou uma das mais influentes de todos os tempos. Praticamente todos os depoimentos são dados por ex-integrantes, tanto exclusivamente para o filme ou em entrevistas de arquivo para o caso de quem já morreu, e por quem os acompanhou nos anos 60.
O Velvet deixou apenas quatro álbuns de estúdio e um punhado de canções que foram lançadas posteriormente, quando a banda já era tratada como lendária. Todos eles são excelentes e fundamentais para quem busca entender a história do rock, Abaixo separamos cinco canções marcantes dessa carreira curta mas que ainda ressoa.
"Venus In Furs" - 1967
O álbum de estreia do Velvet, o chamado "disco da banana", é o único a contar com a presença da cantora Nico, em três faixas, e com o apoio de Andy Warhol - rei da Pop Art. Considerado um dos melhores de todos os tempos, ele é o que traz a melhor interação entre Lou Reed, um fã de rock and roll e doo wop, e John Cale, um músico galês de formação clássica que acabou indo parar em Nova Iorque para trabalhar com grandes mestres da música erudita de vanguarda.
Como ele explica no filme, ao ouvir as canções de Reed ele percebeu que o músico estava tratando de temas inusitados e novos no rock, paranoia, sadomasoquismo, drogas pesadas..., e que o músico tinha a ambição de trazer a literatura e poesia para o mundo pop, mas que ele estava embalando essas letras em um acompanhamento por demais convencional.
Sua função foi a de trazer experimentação para as músicas, com violino, viola e o piano dando o clima inovador que elas pediam. A chegada do guitarrista Sterling Morrison e da baterista Moe Tucker, com seu estilo minimalista, completaram a receita.
O disco, lançado no auge do movimento hippie, não conseguiu atrair a atenção de muita gente, mas, como diria o produtor Brian Eno anos depois, quem o escutou logo quis montar uma banda.
Não que todo o álbum seja "para poucos". Baladas como "Femme Fatale", "Sunday Morning" ou "I'll Be Your Mirror" poderiam ter tocado no rádio, e contrastavam com os momentos de cacofonia, "European Son", ou mais barra pesada, como "I'm Waiting for the Man" e "Heroin".
"Venus In Furs" tem uma estrutura um pouco mais pop, mas também o arranjo inovador de Cale e uma letra sobre sexo sadomasoquista, e mostra simultaneamente o porquê o som da banda não ter atingido muitas pessoas originalmente e as razões dele ter encontrado mais ouvidos a partir dos anos 70, muito graças a David Bowie que nunca escondeu a sua admiração e dívida para com a banda.
"White Light/White Heat" - 1968
"White Light/White Heat", o segundo álbum do Velvet é o mais radical dos quatro. Com apena seis músicas, ele tinha quase que todo o lado B preenchido pela barulhenta "Sister Ray", enquanto a primeira face trazia a discursiva "The Gift", com Cale lendo um conto de Reed em um canal do estéreo e a banda criando um acompanhamento musical no outro.
As outras quatro eram mais "comuns", mas não aliviavam muito, com a possível exceção da balada "Here She Comes Now", de apenas dois minutos. Dessas, a faixa título se tornaria um dos clássicos da banda, com sua pegada quase punk e urgência. Bowie era um que gostava de tocá-la ao vivo, especialmente durante os anos "Ziggy Stardust". Desnecessário dizer que o disco vendeu ainda menos que o anterior.
"Pale Blue Eyes" - 1969
Lou Reed forçou a saída de Cale do quarteto, ao dar um ultimato para Morison e Tucker, na linha do "ou ele ou eu". Sem o multi-instrumentista, o som do Velvet fica um pouco mais palatável, mas não muito. Doug Yule se torna o novo baixista e tecladista e até ganha o direito de cantar "Candy Says", a música de abertura do álbum, chamado simplesmente "The Velvet Underground" - Tucker também estreou como cantora na singela e adorável "After Hours".
Deste trabalho nenhuma música teve mais sobrevida, e regravações, que "Pale Blue Eyes", uma das melhores baladas da história do rock.
"Rock And Roll"
O derradeiro disco de estúdio do VU, "Loaded", é o mais convencional deles, especialmente por não contar com a presença de Moe Tucker, que grávida, não participou das sessões. Ele mostra o amadurecimento de Reed como compositor e tinha tudo para ter encontrado um público mais amplo. Infelizmente, isso não aconteceu e a banda logo se separou (há ainda um outro álbum creditado ao grupo, "Squeeze", mas ele é basicamente um trabalho solo de Yule, sem o envolvimento de qualquer outro integrante).
Daqui saíram duas marcas registradas da banda, e do rock em geral, por que não?, "Sweet Jane", que Reed seguiria tocando até o fim da vida com grande frequência, e "Rock And Roll", uma das maiores declarações de amor ao estilo e ao seu poder de transformar vidas.
"I Can't Stand It" - 1985 (gravada em 1969)
Na década de 80 o Velvet já estava com lugar assegurado entre os maiores nomes da história do rock, tendo influenciado diretamente no surgimento do punk. Lou Reed embarcou em uma bem sucedida carreira solo e Cale também lançou uma série de grandes trabalhos, em diversos estilos musicais.
Com a chegada dos Compact Discs, a Polygram decidiu lançar os discos da banda neste novo formato. Foi quando, para surpresa dos envolvidos, uma série de músicas inéditas foram encontradas nos arquivos. Algumas ainda traziam John Cale na formação, mas a maioria tinha sido registrada para o que seria o quarto disco deles para a MGM, um trabalho que nunca foi feito ("Loaded" saiu por outra gravadora).
O álbum "VU", saiu em 1985 e trazia, em dez faixas, o melhor desse material. O resultado se mostrou surpreendentemente bom em se tratando de sobras de estúdio e ele pode ser facilmente colocado dentro da história discográfica da banda, como "I Can't Stand It" deixa claro.
As outras nove músicas saíram em outro CD, "Another View", este já mais inferior, mas ainda assim curioso.