Com suas canções ora dançantes, ora dramáticas, mas sempre orgulhosamente pop, o ABBA foi um grande fenômeno dos anos 70 que, caso raríssimo, conseguiu fascinar as gerações seguintes, com até mais força que enquanto estiveram na ativa.
Os quatro ficaram juntos de 1972, ano de "People Need Love", o primeiro single, a 1982, quando "Under Attack" pôs um fim na trajetória de Agnetha, Benny, Björn e Anni-Frid, a Frida.
O "pós-vida" do ABBA teve início no começo dos anos 90 graças a uma série de fatores: o primordial foi ver que uma geração que cresceu ouvindo as músicas do grupo havia chegado à maturidade e já gravando seus próprios discos.
Para eles, o ABBA fez parte de suas vidas e seus hits eram ouvidos sem preocupações analíticas - eles nunca foram queridos pelos críticos naqueles anos. Do Erasure a Kurt Cobain, foram muitos os afetados e eles notaram que havia sim, um enorme talento e muito esforço de produção naquelas canções, especialmente nas melodias e arranjos.
Filmes como "O Casamento de Muriel" e "Priscilla a Rainha do Deserto" (onde muita gente ouviu "Mamma Mia" pela primeira vez) também colaboraram para esse sucesso renovado. Outra novidade foi ver que as músicas, e tudo o que os envolvia, incluindo aí as roupas e o clima kitsch dos vídeos, foram fortemente abraçados na comunidade LGBT.
Acima de tudo, uma compilação se mostrou o veículo ideal para apresentar a música deles para os jovens e também reconectá-la com os mais velhos. Lançada em 1992, "ABBA Gold" era, e ainda é, a coletânea perfeita. Pensada para o formato CD, ela tinha 19 músicas muito bem escolhidas. O álbum é o segundo mais vendido da história no Reino Unido e já ultrapassou as mil semanas no Top 100.
Apesar do sucesso, que se ampliaria com a chegada do musical "Mamma Mia", os dois ex-casais nunca cogitaram uma reunião, mesmo com propostas ditas irrecusáveis - falou-se até em uma oferta na casa do bilhão de dólares por uma turnê.
Daí a surpresa de vê-los de volta ao estúdio, provavelmente pela última vez, para fazerem "Voyage" que será lançado logo mais, à meia-noite.
Um álbum com 10 músicas novas, ainda que algumas tenham começado a nascer há muitas décadas, ele chega para divulgar a serie de shows que os quatro, ou melhor dizendo, os avatares deles, farão em Londres a partir de maio do ano que vem.
As cinco músicas abaixo ajudam a contar, de maneira resumida, essa história.
"Waterloo"
Quando o ABBA foi formado, nenhum de seus quatro integrantes era novato no mundo da música. Pelo contrário, todos já gozavam individualmente de sucesso na Suécia. Havia também as relações pessoais. Benny e Björn já haviam composto músicas em parceria. Frida já vivia um relacionamento amoroso com Benny, e Agnetha, já ligada amorosamente a Björn, era amiga do casal. Ou seja, estava todo mundo em casa.
Os quatro tinham ambições maiores do que apenas o sucesso na Suécia e países escandinavos, mas como chegar no sonhado mercado anglo-americano? A primeira decisão foi a de compor em inglês, a segunda, foi a de se inscrever no Eurovision, que lhes daria visibilidade em toda a Europa. Sim, o festival era, e ainda é, conhecido por não prezar muito pela qualidade e bom gosto, e certas apresentações tendem a fazer sucesso pelos motivos errados, mas com uma boa canção em mãos valia a pena arriscar e a decisão se mostrou acertada.
"Waterloo" saiu no começo de 1974 e foi o primeiro compacto creditado ao ABBA - o disco de estreia e os singles anteriores eram de "Björn & Benny, Agnetha & Frida". A música ganhou a competição, algo inédito para a Suécia, e chegou ao primeiro lugar no Reino Unido e em vários outros países, além de, importante, no sexto posto nos EUA.
Provando que "santo de casa não faz milagre", na Suécia ela ficou somente no segundo lugar, mas não importava. O fato é que agora o mundo conhecia o ABBA. Difícil mesmo seria dar sequência à carreira, já que a "maldição do Eurovision" - a de artistas que somem depois do festival e ficam marcados por um só sucesso - era real. Como já sabemos, eles também passaram por essa prova.
"S.O.S"
Os compactos seguintes lançados pelo quarteto não chamaram muita a atenção, ainda que tenham feito sucesso em determinados mercados. Mas "SOS", de junho de 1975, pode ser considerado um ponto de virada. A primeira grande obra-prima inquestionável deles, a faixa trazia drama, um arranjo intricado e um refrão inesquecível (além daquela "subida" mais roqueira pós refrão que a levava para um caminho totalmente diferente).
Resultado? Número 1 na Austrália, país onde eles se mostrariam extremamente populares, sexto lugar no Reino Unido e top 15 nos EUA (só para contrariar, na Suécia ela nem na parada entrou). Daqui pra frente, o sucesso os acompanharia de maneira constante.
"Dancing Queen"
O ABBA , aqui, abraçou a disco music e acabou criando uma forte candidata a melhor música pop de todos os tempos. Afinal existe introdução que induza mais ao êxtase do que essa? "Dancing Queen" chegou ao topo da parada em todos os cantos do planeta, e, dessa vez, nem os suecos resistiram. A música era a principal de "Arrival", talvez o melhor álbum de estúdio deles e que trazia ao menos mais um compacto inesquecível: "Knowing Me, Knowing You".
"The Winner Takes It All"
No fim dos anos 70, o ABBA seguia criativamente em alta lançando singles e álbuns de sucesso, mas pessoalmente as coisas já não andavam tão bem. Os casais já estavam separados e Agnetha desenvolveu uma série de problemas psicológicos, incluindo o medo de voar, de altura e o de multidões - o que atrapalhava consideravelmente, qualquer plano envolvendo turnês.
Isso também explica o papel pioneiro deles no mercado dos vídeos musicais. Mesmo em um mundo pré-MTV, o ABBA já entendia a força dos clipes e dedicava bastante atenção aos seus - que eram dirigidos por Lasse Hallström, que, nos anos 80, se tornaria um cineasta de sucesso.
A fase final do grupo é marcada por discos mais maduros, com muitas canções sobre romances partidos. "The Winner Takes It All", de 1980, foi o último grande sucesso deles - top 10 nos EUA, n° 1 na Inglaterra e chegou em segundo na Suécia.
Em 1982, sairia o sombrio "The Visitors", o derradeiro álbum que, mesmo sem trazer nenhum grande hit, é interessantíssimo e aponta para um possível caminho caso eles não tivessem optado pela dissolução.
"I Still Have Faith In You"
Verdade seja dita, nada garante que haveria um lugar para o ABBA nos anos 80. É bem provável que, se tivessem seguido na ativa, teriam lançado álbuns de pouca repercussão e caído no circuito de nostalgia. A separação ajudou a criar uma mítica em cima deles que perdurou por décadas. Ao mesmo tempo, as lições de produção e composição de Benny e Björn foram assimiladas por inúmeros músicos e produtores e, não por acaso, a Suécia se tornou um polo exportador de música pop (vale muito a pena procurar na Netflix o episódio da série "This Is Pop", dedicada ao país, para entender melhor essa história).
Dito isso ninguém mais sonhava ver ou ouvir qualquer novidade do grupo, mas agora, 40 anos depois do lançamento de "The Visitors", o público foi surpreendido com a notícia de que um álbum novo iria chegar às lojas (e serviços de streaming, já que os tempos mudaram) e uma série de shows seriam realizados.
Não uma turnê tradicional, mas uma estrelada pelas versões digitais de seus integrantes, os ABBAtares, acompanhados por uma banda ao vivo. Para marcar o anúncio, dois singles do disco saíram simultaneamente. "Don't Shut Me Down" soava inacreditavelmente como o ABBA dos velhos tempos, incluindo as vozes de Agnetha e Frida, e se saiu melhor na parada. Já a balada dramática "I Still Have Faith In You", com um quê de "Thank You For The Music", trazia mais carga emocional, com uma letra que fala tanto sobre o grupo quanto seus fãs. Essa também ganhou um clipe onde os avatares foram revelados ao público.
A expectativa para o álbum está alta e tudo está sendo tratado com segredo. Basta dizer que nenhuma resenha foi publicada em antecipação ao lançamento. Em resumo: não sabemos ainda se o trabalho será um sucesso de crítica, mas de público, a se julgar pela pré-venda, a resposta é sim.
De qualquer forma, é bom aproveitar, porque Benny e Björn já deixaram claro que esse é um disco simultaneamente de retorno e despedida, também pelo fato de Agnetha e Frida só terem topado abraçar o projeto quando lhes garantiram que não elas precisariam viajar, subir no palco ou falar com a imprensa.
Os quatro ficaram juntos de 1972, ano de "People Need Love", o primeiro single, a 1982, quando "Under Attack" pôs um fim na trajetória de Agnetha, Benny, Björn e Anni-Frid, a Frida.
O "pós-vida" do ABBA teve início no começo dos anos 90 graças a uma série de fatores: o primordial foi ver que uma geração que cresceu ouvindo as músicas do grupo havia chegado à maturidade e já gravando seus próprios discos.
Para eles, o ABBA fez parte de suas vidas e seus hits eram ouvidos sem preocupações analíticas - eles nunca foram queridos pelos críticos naqueles anos. Do Erasure a Kurt Cobain, foram muitos os afetados e eles notaram que havia sim, um enorme talento e muito esforço de produção naquelas canções, especialmente nas melodias e arranjos.
Filmes como "O Casamento de Muriel" e "Priscilla a Rainha do Deserto" (onde muita gente ouviu "Mamma Mia" pela primeira vez) também colaboraram para esse sucesso renovado. Outra novidade foi ver que as músicas, e tudo o que os envolvia, incluindo aí as roupas e o clima kitsch dos vídeos, foram fortemente abraçados na comunidade LGBT.
Acima de tudo, uma compilação se mostrou o veículo ideal para apresentar a música deles para os jovens e também reconectá-la com os mais velhos. Lançada em 1992, "ABBA Gold" era, e ainda é, a coletânea perfeita. Pensada para o formato CD, ela tinha 19 músicas muito bem escolhidas. O álbum é o segundo mais vendido da história no Reino Unido e já ultrapassou as mil semanas no Top 100.
Apesar do sucesso, que se ampliaria com a chegada do musical "Mamma Mia", os dois ex-casais nunca cogitaram uma reunião, mesmo com propostas ditas irrecusáveis - falou-se até em uma oferta na casa do bilhão de dólares por uma turnê.
Daí a surpresa de vê-los de volta ao estúdio, provavelmente pela última vez, para fazerem "Voyage" que será lançado logo mais, à meia-noite.
Um álbum com 10 músicas novas, ainda que algumas tenham começado a nascer há muitas décadas, ele chega para divulgar a serie de shows que os quatro, ou melhor dizendo, os avatares deles, farão em Londres a partir de maio do ano que vem.
As cinco músicas abaixo ajudam a contar, de maneira resumida, essa história.
"Waterloo"
Quando o ABBA foi formado, nenhum de seus quatro integrantes era novato no mundo da música. Pelo contrário, todos já gozavam individualmente de sucesso na Suécia. Havia também as relações pessoais. Benny e Björn já haviam composto músicas em parceria. Frida já vivia um relacionamento amoroso com Benny, e Agnetha, já ligada amorosamente a Björn, era amiga do casal. Ou seja, estava todo mundo em casa.
Os quatro tinham ambições maiores do que apenas o sucesso na Suécia e países escandinavos, mas como chegar no sonhado mercado anglo-americano? A primeira decisão foi a de compor em inglês, a segunda, foi a de se inscrever no Eurovision, que lhes daria visibilidade em toda a Europa. Sim, o festival era, e ainda é, conhecido por não prezar muito pela qualidade e bom gosto, e certas apresentações tendem a fazer sucesso pelos motivos errados, mas com uma boa canção em mãos valia a pena arriscar e a decisão se mostrou acertada.
"Waterloo" saiu no começo de 1974 e foi o primeiro compacto creditado ao ABBA - o disco de estreia e os singles anteriores eram de "Björn & Benny, Agnetha & Frida". A música ganhou a competição, algo inédito para a Suécia, e chegou ao primeiro lugar no Reino Unido e em vários outros países, além de, importante, no sexto posto nos EUA.
Provando que "santo de casa não faz milagre", na Suécia ela ficou somente no segundo lugar, mas não importava. O fato é que agora o mundo conhecia o ABBA. Difícil mesmo seria dar sequência à carreira, já que a "maldição do Eurovision" - a de artistas que somem depois do festival e ficam marcados por um só sucesso - era real. Como já sabemos, eles também passaram por essa prova.
"S.O.S"
Os compactos seguintes lançados pelo quarteto não chamaram muita a atenção, ainda que tenham feito sucesso em determinados mercados. Mas "SOS", de junho de 1975, pode ser considerado um ponto de virada. A primeira grande obra-prima inquestionável deles, a faixa trazia drama, um arranjo intricado e um refrão inesquecível (além daquela "subida" mais roqueira pós refrão que a levava para um caminho totalmente diferente).
Resultado? Número 1 na Austrália, país onde eles se mostrariam extremamente populares, sexto lugar no Reino Unido e top 15 nos EUA (só para contrariar, na Suécia ela nem na parada entrou). Daqui pra frente, o sucesso os acompanharia de maneira constante.
"Dancing Queen"
O ABBA , aqui, abraçou a disco music e acabou criando uma forte candidata a melhor música pop de todos os tempos. Afinal existe introdução que induza mais ao êxtase do que essa? "Dancing Queen" chegou ao topo da parada em todos os cantos do planeta, e, dessa vez, nem os suecos resistiram. A música era a principal de "Arrival", talvez o melhor álbum de estúdio deles e que trazia ao menos mais um compacto inesquecível: "Knowing Me, Knowing You".
"The Winner Takes It All"
No fim dos anos 70, o ABBA seguia criativamente em alta lançando singles e álbuns de sucesso, mas pessoalmente as coisas já não andavam tão bem. Os casais já estavam separados e Agnetha desenvolveu uma série de problemas psicológicos, incluindo o medo de voar, de altura e o de multidões - o que atrapalhava consideravelmente, qualquer plano envolvendo turnês.
Isso também explica o papel pioneiro deles no mercado dos vídeos musicais. Mesmo em um mundo pré-MTV, o ABBA já entendia a força dos clipes e dedicava bastante atenção aos seus - que eram dirigidos por Lasse Hallström, que, nos anos 80, se tornaria um cineasta de sucesso.
A fase final do grupo é marcada por discos mais maduros, com muitas canções sobre romances partidos. "The Winner Takes It All", de 1980, foi o último grande sucesso deles - top 10 nos EUA, n° 1 na Inglaterra e chegou em segundo na Suécia.
Em 1982, sairia o sombrio "The Visitors", o derradeiro álbum que, mesmo sem trazer nenhum grande hit, é interessantíssimo e aponta para um possível caminho caso eles não tivessem optado pela dissolução.
"I Still Have Faith In You"
Verdade seja dita, nada garante que haveria um lugar para o ABBA nos anos 80. É bem provável que, se tivessem seguido na ativa, teriam lançado álbuns de pouca repercussão e caído no circuito de nostalgia. A separação ajudou a criar uma mítica em cima deles que perdurou por décadas. Ao mesmo tempo, as lições de produção e composição de Benny e Björn foram assimiladas por inúmeros músicos e produtores e, não por acaso, a Suécia se tornou um polo exportador de música pop (vale muito a pena procurar na Netflix o episódio da série "This Is Pop", dedicada ao país, para entender melhor essa história).
Dito isso ninguém mais sonhava ver ou ouvir qualquer novidade do grupo, mas agora, 40 anos depois do lançamento de "The Visitors", o público foi surpreendido com a notícia de que um álbum novo iria chegar às lojas (e serviços de streaming, já que os tempos mudaram) e uma série de shows seriam realizados.
Não uma turnê tradicional, mas uma estrelada pelas versões digitais de seus integrantes, os ABBAtares, acompanhados por uma banda ao vivo. Para marcar o anúncio, dois singles do disco saíram simultaneamente. "Don't Shut Me Down" soava inacreditavelmente como o ABBA dos velhos tempos, incluindo as vozes de Agnetha e Frida, e se saiu melhor na parada. Já a balada dramática "I Still Have Faith In You", com um quê de "Thank You For The Music", trazia mais carga emocional, com uma letra que fala tanto sobre o grupo quanto seus fãs. Essa também ganhou um clipe onde os avatares foram revelados ao público.
A expectativa para o álbum está alta e tudo está sendo tratado com segredo. Basta dizer que nenhuma resenha foi publicada em antecipação ao lançamento. Em resumo: não sabemos ainda se o trabalho será um sucesso de crítica, mas de público, a se julgar pela pré-venda, a resposta é sim.
De qualquer forma, é bom aproveitar, porque Benny e Björn já deixaram claro que esse é um disco simultaneamente de retorno e despedida, também pelo fato de Agnetha e Frida só terem topado abraçar o projeto quando lhes garantiram que não elas precisariam viajar, subir no palco ou falar com a imprensa.