Pixies e Jack White, as duas maiores atrações da edição de retorno do Popload Festival, realizado nesta quarta-feira (12) tiveram que lidar com a questão que atinge todo artista veterano com um punhado de músicas que já estão carimbadas na mente das pessoas. Como fazer um show que não se torne um mero exercício nostálgico, mas que também não afugente, ou cause tédio, no público? Ao seu modo os dois tentaram resolver a equação, e conseguiram.
Os Pixies, escolhidos para fechar a noite, certamente sofrem mais com isso. A banda surgiu na segunda metade dos anos 80 e lançou uma série de cinco discos de grande influência, mesmo que, à época, eles não tenham vendido muito. Hoje isso não importa. O público finalmente os alcançou e, desde quando se reuniram, em 2004, após uma década separadsos, eles podem tocar em grandes palcos ao redor do mundo colhendo os frutos de seu pioneirismo
O fato é que três desses trabalhos iniciais (o mini-LP "Come On Pilgrim", "Surfer Rosa" e "Doolittle", de 1987, 1988 e 1989) se tornaram clássicos do rock moderno e influenciaram gerações e gerações de fãs e bandas, a começar pelo Nirvana e são as canções dessa tríade que sempre irão formar a espinha dorsal de um show dos americanos.
Por outro lado, depois de um tempo, ficou claro que eles precisariam ter algumas canções novas para mostrar ao público, para que o quarteto não virasse simplesmente uma máquina de nostalgia.
Há poucas semanas, o quarteto, Black Francis (voz e guitarra), David Lovering (bateria), Joey Santiago (guitarra) e Paz Lenchantin, que substitui a baixista original Kim Deal, lançaram "Doggerel", o quarto álbum dessa "fase dois". Assim como os antecessores, trata-se de um bom disco, com algumas faixas realmente boas, mesmo sem causar o mesmo impacto das músicas feitas há mais de três décadas.
Na noite de ontem, eles mostraram três músicas do disco, e mais duas da safra mais recente. O problema talvez tenha sido a decisão de colocá-las quase todas muito próximas entre si, o que causou uma certa dispersão no meio do show, ainda que muita gente deve ter deixado o Centro Esportivo Tietê disposto a ouvir (ou reouvir) esse material.
Descontando esses momentos, de "queda de adrenalina", o grupo entregou um show daqueles de deixar todo mundo com um sorriso no rosto. Sem, literalmente, trocarem uma só palavra com o público, Francis e cia. despejaram um punhado de músicas que estão na ponta da língua de todo fã de rock independente que se preze.
Apesar de relativamente "curto" para os padrões deles, foram 24 músicas contra as 38 tocadas no dia anterior no Rio de Janeiro, eles entregaram um show que soube ser terno e feroz na mesma medida, com direito até a algumas surpresas, caso de "Ana" ou a linda cover de "Winterlong" de Neil Young gravada por eles em um disco tributo ao canadense em 1989. Francis já estava visivelmente rouco no final, já que ele segue dando seus gritos como se ainda tivesse 22 anos, mas nem isso atrapalhou a noite, longe disso.
Verdade que um show dos Pixies sem "Bone Machine e "Monkey Gone To Heaven sempre vai deixar um gostinho de "faltou algo" na plateia. Ainda assim, o saldo foi mais do que positivo.
Jack White já vendeu muito mais discos que a banda de Boston, mesmo sem gozar do mesmo status de "lendas" que eles possuem. Ele também produz bastante, tendo muita coisa para mostrar no pouco tempo de um concerto. A solução, no caso dele, é intercalar o material mais recente com canções do passado, sejam dos disco solo, dos White Stripes ou de suas bandas paralelas, criando uma espécie de contínuo, onde todas as músicas parecem dialogar entre si.
Recentemente, White lançou dois discos novos quase que simultaneamente. O mais pesado, "Fear Of The Dawn", foi o que ele preferiu mostra com mais intensidade em seu show.
Ao contrário dos Pixies, ele busca se comunicar mais diretamente com o público, puxando palmas, agradecendo o carinho e também estimulando o excelente trio que o acompanha a brilhar junto com ele. O público certamente aprovou o concerto mas, como esperado, vibrou mesmo foi na arrasadora sequência final que emendou "Fell In Love With A Girl" (dos White Stripes, "Steady As She Goes" (dos Raconteurs, que estiveram no mesmo Popload em 2019) e, claro, "Seven Nation Army", com aquele que talvez seja o último grande riff popular da história do rock.
O Popload teve ainda shows de Cat Power, que funcionaria melhor em um lugar mais intimista apesar da enorme simpatia da artista e seu inegável talento de intérprete, o divertido Chet Faker, que se apresentou sozinho no palco, auxiliado por bases pré-gravadas e alternando entre os teclados e a guitarra, além de um show em conjunto de Pitty e Fresno, do Perotá Chingó e de Jup do Bairro que deixou o palco sob protestos, já que teve o seu som cortado antes que pudesse encerrar o seu show da maneira programada.
(Leandro Saueia)
Os Pixies, escolhidos para fechar a noite, certamente sofrem mais com isso. A banda surgiu na segunda metade dos anos 80 e lançou uma série de cinco discos de grande influência, mesmo que, à época, eles não tenham vendido muito. Hoje isso não importa. O público finalmente os alcançou e, desde quando se reuniram, em 2004, após uma década separadsos, eles podem tocar em grandes palcos ao redor do mundo colhendo os frutos de seu pioneirismo
O fato é que três desses trabalhos iniciais (o mini-LP "Come On Pilgrim", "Surfer Rosa" e "Doolittle", de 1987, 1988 e 1989) se tornaram clássicos do rock moderno e influenciaram gerações e gerações de fãs e bandas, a começar pelo Nirvana e são as canções dessa tríade que sempre irão formar a espinha dorsal de um show dos americanos.
Por outro lado, depois de um tempo, ficou claro que eles precisariam ter algumas canções novas para mostrar ao público, para que o quarteto não virasse simplesmente uma máquina de nostalgia.
Há poucas semanas, o quarteto, Black Francis (voz e guitarra), David Lovering (bateria), Joey Santiago (guitarra) e Paz Lenchantin, que substitui a baixista original Kim Deal, lançaram "Doggerel", o quarto álbum dessa "fase dois". Assim como os antecessores, trata-se de um bom disco, com algumas faixas realmente boas, mesmo sem causar o mesmo impacto das músicas feitas há mais de três décadas.
Na noite de ontem, eles mostraram três músicas do disco, e mais duas da safra mais recente. O problema talvez tenha sido a decisão de colocá-las quase todas muito próximas entre si, o que causou uma certa dispersão no meio do show, ainda que muita gente deve ter deixado o Centro Esportivo Tietê disposto a ouvir (ou reouvir) esse material.
Descontando esses momentos, de "queda de adrenalina", o grupo entregou um show daqueles de deixar todo mundo com um sorriso no rosto. Sem, literalmente, trocarem uma só palavra com o público, Francis e cia. despejaram um punhado de músicas que estão na ponta da língua de todo fã de rock independente que se preze.
Apesar de relativamente "curto" para os padrões deles, foram 24 músicas contra as 38 tocadas no dia anterior no Rio de Janeiro, eles entregaram um show que soube ser terno e feroz na mesma medida, com direito até a algumas surpresas, caso de "Ana" ou a linda cover de "Winterlong" de Neil Young gravada por eles em um disco tributo ao canadense em 1989. Francis já estava visivelmente rouco no final, já que ele segue dando seus gritos como se ainda tivesse 22 anos, mas nem isso atrapalhou a noite, longe disso.
Verdade que um show dos Pixies sem "Bone Machine e "Monkey Gone To Heaven sempre vai deixar um gostinho de "faltou algo" na plateia. Ainda assim, o saldo foi mais do que positivo.
Jack White já vendeu muito mais discos que a banda de Boston, mesmo sem gozar do mesmo status de "lendas" que eles possuem. Ele também produz bastante, tendo muita coisa para mostrar no pouco tempo de um concerto. A solução, no caso dele, é intercalar o material mais recente com canções do passado, sejam dos disco solo, dos White Stripes ou de suas bandas paralelas, criando uma espécie de contínuo, onde todas as músicas parecem dialogar entre si.
Recentemente, White lançou dois discos novos quase que simultaneamente. O mais pesado, "Fear Of The Dawn", foi o que ele preferiu mostra com mais intensidade em seu show.
Ao contrário dos Pixies, ele busca se comunicar mais diretamente com o público, puxando palmas, agradecendo o carinho e também estimulando o excelente trio que o acompanha a brilhar junto com ele. O público certamente aprovou o concerto mas, como esperado, vibrou mesmo foi na arrasadora sequência final que emendou "Fell In Love With A Girl" (dos White Stripes, "Steady As She Goes" (dos Raconteurs, que estiveram no mesmo Popload em 2019) e, claro, "Seven Nation Army", com aquele que talvez seja o último grande riff popular da história do rock.
O Popload teve ainda shows de Cat Power, que funcionaria melhor em um lugar mais intimista apesar da enorme simpatia da artista e seu inegável talento de intérprete, o divertido Chet Faker, que se apresentou sozinho no palco, auxiliado por bases pré-gravadas e alternando entre os teclados e a guitarra, além de um show em conjunto de Pitty e Fresno, do Perotá Chingó e de Jup do Bairro que deixou o palco sob protestos, já que teve o seu som cortado antes que pudesse encerrar o seu show da maneira programada.
(Leandro Saueia)