O artista fazia um show no Grêmio Náutico União, clube localizado na capital gaúcha, e chamou um jovem negro para tocar cavaquinho no palco. Seu Jorge então discursou contra a redução da maioridade penal e os assassinatos de outros jovens negros moradores de comunidades pobres.
Esse ato desencadeou uma série de injúrias raciais vindas da plateia. Além disso, o cantor foi chamado de "vagabundo", "safado" e, segundo relatos de pessoas no local, era possível ouvir imitações de sons de macacos.
Seu Jorge planejava um "bis" para esta apresentação, mas com os ataques recebidos, desistiu. Porém, ele voltou ao palco para, educadamente, agradecer a presença de todos.
Passados três dias do ocorrido, o cantor e compositor fez um vídeo para comentar o episódio. Com a bandeira do Rio Grande de Sul de fundo, ele começa falando que respeita e tem muito carinho pelo estado e seu povo, citando grandes personalidades e relembrando shows que lá fez.
Depois, ele inicia o relato dizendo que só ouviu os ataques quando já estava na parte de trás do palco. "Por conta disso, logo percebi que não seria possível fazer o famoso bis. Mas sozinho retornei ao palco e de maneira respeitosa, agradeci a todos e me despedi do público presente".
Depois Seu Jorge contou quais eram os seus sentimentos sobre o que viveu em Porto Alegre. "Na verdade, o que eu quero dizer aqui é que eu não reconheci a cidade que eu aprendi a amar e respeitar".
O cantor prossegue falando sobre os ataques sofridos no show. "Na verdade o que eu presenciei foi muito ódio gratuito e muita grosseria racista".
Ele agradeceu as mensagens de apoio que recebeu no dia seguinte, sábado (15), de fãs porto alegrenses e do resto do país. O cantor repudiou os comportamentos racistas e disse que eles contribuiram para a vergonha alheia dos demais presentes no show.
Seu Jorge fez questão de dizer que sua conexão com o público de Porto Alegre nunca se rompeu e nem se romperá e que agora estarão bem mais fortes e unidos, cada vez mais, na luta intensa contra o racismo e toda forma de preconceito e discriminação. "Ao povo negro do Rio Grande do Sul e toda a região Sul, quero dizer que amo todos vocês, admiro e respeito e digo também que estamos mais unidos do que nunca e que vamos vencer essa guerra que segrega o nosso povo, a miséria e a falta de oportunidade no Brasil".
O artista pediu união e resposta para por fim às injúrias sofridas como ele sofreu. "Estaremos na luta juntos, denunciando e combatendo todo tipo de tipificação da nossa gente e respondendo com excelência, preparo, coragem, sabedoria e diplomacia. Nunca jamais nos curvaremos ao racismo e à intolerância, seja ela qual for".
Seu Jorge deixou clara a importância da cobrança ao estado para que a justiça seja feita em casos de racismo. "A lei é para ser cumprida. Assim, conclamo à grande comunidade afro brasileira a se integrar aos movimentos sociais brasileiros que existem mais próximos as suas cidades com intuito de sair em defesa de nossos direitos, de expressar a nossa cultura, o direito de existir e o direito de realizar os nossos sonhos e nossos projetos".
O cantor finaliza o vídeo dizendo que é hora de vencer a guerra contra o racismo de uma vez por todas. "Só não vamos vencer essa guerra, se não unirmos o nosso povo, precisamos unir a nossa gente".
Veja o vídeo na íntegra abaixo:
RELATO DO SHOW E REPOSTA DO CLUBE
Confira um dos relatos feitos após o show no Twitter:
Ontem à noite, Seu Jorge fez show em jantar de reinauguração de um dos espaços do Grêmio Náutico União, em Porto Alegre. Segue o relato de mais um caso isolado do Mississipi brasileiro: pic.twitter.com/T8ddtMDXQn
— Viaro? (@Prof_Viaro) October 15, 2022
O presidente do Grêmio Náutico União, Paulo José Kolberg Bing, respondeu sobre os ataques racistas sofridos por Seu Jorge. Em nota ao site Splash, do UOL, ele disse que a assosiação repudia "qualquer ato de discriminação".
"O Grêmio Náutico União está apurando internamente os fatos ocorridos em evento realizado no dia 14 de outubro, durante apresentação do cantor Seu Jorge. Se for comprovada a prática de ato racista, os envolvidos serão responsabilizados. Afirmamos que o União, seguindo seu Estatuto e compromisso com associados e sociedade, repudia qualquer tipo de discriminação".
A Polícia Civil de Porto Alegre informou, por meio de um comunicado, que está investigando o caso. "Por meio da Delegacia de Polícia de Combate à Intolerância (DPCI), do Departamento Estadual de Proteção aos Grupos Vulneráveis (DPGV), está investigando o, em tese, crime de racismo cometido contra o cantor Seu Jorge, durante show realizado no último dia 14 de outubro, em Porto Alegre. Um vídeo em que parte da plateia aparece chamando o cantor de macaco já está sendo analisado pela equipe de investigações da DPCI. Ainda hoje serão solicitadas imagens das câmeras de segurança do Clube e testemunhas deverão ser ouvidas ao longo da semana. No caso em tela, a vítima direta seria o cantor Seu Jorge, todavia no crime de racismo repousaria a ofensa a toda uma coletividade indeterminada. Esse crime, previsto no artigo 20 da Lei 7716/89, independe de representação da vítima".