Morto nesta terça-feira aos 81 anos, Erasmo Carlos deixou uma obra vasta e de grande peso - foram 29 discos de estúdio, muitos deles de grande sucesso e outros que se tornaram cultuados pelas novas gerações, mesmo que não tenham feito muito sucesso inicialmente.
Nesse texto relembramos alguns desses trabalhos, que mostram que para além da parceria brilhante e vitoriosa com Roberto Carlos, ele também deixou uma obra de vulto por si só.
"Erasmo Carlos e os Tremendões" - 1970
Os discos de Erasmo na Jovem Guarda estão repletos de grandes momentos, mas também contém muito material de qualidade inferior - algo que era comum aos LPs do gênero. De forma que vale mais a pena ouvir essa fase em coletâneas (ainda que o disco de 1968, com alguns acenos à soul music, com direito a uma ponta não creditada de Tim Maia em "Baby Baby", e uma faixa de autoria do futuro soul man n° 1 do Brasil, "Não Quero Nem Saber" mereça ser descoberto).
"Erasmo e os Tremendões", foi o primeiro LP pós-Jovem Guarda, o sexto no geral, e mostrou que haveria um caminho para ele dentro da nossa música nos anos 70 e além. A irônica, mas que também mostrava o estado de espírito do artista, "Estou Dez Anos Atrasado" abria um álbum forte que tinha ainda a balada "Vou Ficar Nu Para Chamar Sua Atenção", "Saudosismo", composta por Caetano e até uma regravação de "Aquarela do Brasil". Pairando muito acima dessas, e do restante do disco, estão dois monolitos da música brasileira do século 20: "Coqueiro Verde", música fundamental para o desenvolvimento do samba-rock e "Sentado à Beira do Caminho", balada de letra longa e complexa que se tornaria a marca registrada do cantor.
Ainda gravado na RGE, o disco não tem os mesmos requintes de produção de sua fase na Phillips, mas a força do repertório compensa as falhas de produção.
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"Carlos,Erasmo" - 1971
Considerada a maior obra-prima de Erasmo, este foi o primeiro disco dele pela Phillips e conta com um time impressionante de colaboradores. O repertório é metade autoral e inclui pérolas como "Gente Aberta", "É Preciso Dar Um Jeito Meu Amigo" e a nada discreta "Maria Joana". Na outra ponta composições de Taiguara ("Dois Animais Na Selva Suja Da Rua"), Jorge Ben ("Agora Ninguém Chora Mais") e Caetano (o hit "De Noite Na Cama"). O time de músicos é igualmente impressionante com Sérgio Dias e Liminha, ambos ainda membros dos Mutantes e o gênio da guitarra Lanny Gordin.
"Sonhos E Memórias 1941 - 1972" - 1972
Tão bom, ou mesmo melhor, que seu antecessor. "Sonhos e Memórias" foi um disco marcado pela reflexiva e nostalgia, ainda que o cantor tivesse apenas 31 anos quando de seu lançamento. Este é o único álbum, descontado discos apenas com regravações, seja dele ou de Roberto, que traz apenas músicas escritas pelos dois - entre elas as suas interpretações de "É Proibido Fumar" em versão "pauleira", e de "Preciso Encontrar Um Amigo", gravada pelos Mutantes.
De resto, só pérolas: "Mané João", com ele emulando Jorge Ben, "Bom Dia, Rock'n'roll" e as baladas "Grilos", "Meu Mar" e "Largo da 2a. Feira" em um dos grandes clássicos, ainda, perdidos da música brasileira.
"A Banda Dos Contentes" - 1976
Um dos discos mais divertidos do cantor, este tem o hit "Filho Único", a bem-humorada "Análise Descontraída" e os country rocks "Billy Dinamite"e "", entre os destaques autorais, além da impagável "", onde o narrador pede para que a mulher, uma ativa militante feminista, não se esqueça dele (ao final, o personagem se mostra compreensível e crava: "Mas, se não dá, vamos fazer o nosso amor num outro dia.)
Completam o LP composições de Belchior ("Paralelas" que se tornaria hit na voz de Vanusa), Gilberto Gil ("Queremos Saber" que Cássia Eller apresentou para as novas gerações) e a linda "Dia de Paz", de Jorge Mautner.
"Mulher" - 1981
Na primeira metade dos anos 80, Erasmo tornou-se um popstar e conheceu um sucesso que, desde os tempos de jovem guarda, ele não via. A fase de bonança começou com o disco de duetos "Erasmo Carlos Convida", e se prolongaria com "Mulher" (1981), "Amar Pra Viver Ou Morrer de Amor" e "Buraco Negro" (esse um pouco menos bem sucedido), todos com grandes momentos e dignos de atenção. "Mulher", talvez seja o mais bem sucedido artisticamente desses quatro, graças especialmente ao seus maiores hits: "Mulher (Sexo Frágil)", "Minha Superstar" e "Pega Na Mentira".
"Rock 'n' Roll" - 2009
Erasmo passou a segunda metade dos anos 80 e quase toda a década de 90 em uma espécie de limbo artístico. O renascimento começaria na virada para o novo século e em duas frentes. De um lado, o álbum "Pra Falar De Amor" mostrava que, mesmo sem poder contar com o parceiro Roberto Carlos ele estava em uma ótima fase como cantor e compositor, algo que a turnê do trabalho, que também virou CD e DVD comprovava ainda mais.
Simultaneamente, a obra visionária dele nos anos 70 começava a ser redescoberta por jornalistas e pesquisadores. O problema é que os discos estavam fora de catálogo e a internet ainda não tinha tudo facilmente encontrável (mesmo nos serviços ilegais). Foi quando a Universal colocou em catálogo um caixote trazendo toda a obra dele na gravadora além de uma série de extras.
Subitamente, Erasmo virou um nome cool e passou a ser visto como o que realmente era: um patrimônio não só do rock nacional como da música brasileira como um todo. Nenhum disco reflete tanto esse momento de bonança quanto "Rock 'n Roll", seu 24° álbum de estúdio e um trabalho de grande força que mostrava que, mesmo prestes a chegar aos 70 anos, ele se mantinha criativo e se recusando a virar uma peça de museu.
Erasmo lançou ainda mais três discos de material original ("Sexo", "Gigante Gentil" e "Amor É Isso", todos muito dignos) e terminou a sua carreira discográfica olhando para trás, primeiro com o EP "Quem Foi Que Disse Que Eu Não Faço Samba...", onde reuniu suas composições dentro desse gênero, e "O futuro pertence à... Jovem Guarda", outro disco curto (oito músicas apenas) com músicas dos primórdios do nosso rock, com arranjos surpreendentes - e, curiosamente, apenas uma composta por ele e Roberto.
Nesse texto relembramos alguns desses trabalhos, que mostram que para além da parceria brilhante e vitoriosa com Roberto Carlos, ele também deixou uma obra de vulto por si só.
"Erasmo Carlos e os Tremendões" - 1970
Os discos de Erasmo na Jovem Guarda estão repletos de grandes momentos, mas também contém muito material de qualidade inferior - algo que era comum aos LPs do gênero. De forma que vale mais a pena ouvir essa fase em coletâneas (ainda que o disco de 1968, com alguns acenos à soul music, com direito a uma ponta não creditada de Tim Maia em "Baby Baby", e uma faixa de autoria do futuro soul man n° 1 do Brasil, "Não Quero Nem Saber" mereça ser descoberto).
"Erasmo e os Tremendões", foi o primeiro LP pós-Jovem Guarda, o sexto no geral, e mostrou que haveria um caminho para ele dentro da nossa música nos anos 70 e além. A irônica, mas que também mostrava o estado de espírito do artista, "Estou Dez Anos Atrasado" abria um álbum forte que tinha ainda a balada "Vou Ficar Nu Para Chamar Sua Atenção", "Saudosismo", composta por Caetano e até uma regravação de "Aquarela do Brasil". Pairando muito acima dessas, e do restante do disco, estão dois monolitos da música brasileira do século 20: "Coqueiro Verde", música fundamental para o desenvolvimento do samba-rock e "Sentado à Beira do Caminho", balada de letra longa e complexa que se tornaria a marca registrada do cantor.
Ainda gravado na RGE, o disco não tem os mesmos requintes de produção de sua fase na Phillips, mas a força do repertório compensa as falhas de produção.
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"Carlos,Erasmo" - 1971
Considerada a maior obra-prima de Erasmo, este foi o primeiro disco dele pela Phillips e conta com um time impressionante de colaboradores. O repertório é metade autoral e inclui pérolas como "Gente Aberta", "É Preciso Dar Um Jeito Meu Amigo" e a nada discreta "Maria Joana". Na outra ponta composições de Taiguara ("Dois Animais Na Selva Suja Da Rua"), Jorge Ben ("Agora Ninguém Chora Mais") e Caetano (o hit "De Noite Na Cama"). O time de músicos é igualmente impressionante com Sérgio Dias e Liminha, ambos ainda membros dos Mutantes e o gênio da guitarra Lanny Gordin.
"Sonhos E Memórias 1941 - 1972" - 1972
Tão bom, ou mesmo melhor, que seu antecessor. "Sonhos e Memórias" foi um disco marcado pela reflexiva e nostalgia, ainda que o cantor tivesse apenas 31 anos quando de seu lançamento. Este é o único álbum, descontado discos apenas com regravações, seja dele ou de Roberto, que traz apenas músicas escritas pelos dois - entre elas as suas interpretações de "É Proibido Fumar" em versão "pauleira", e de "Preciso Encontrar Um Amigo", gravada pelos Mutantes.
De resto, só pérolas: "Mané João", com ele emulando Jorge Ben, "Bom Dia, Rock'n'roll" e as baladas "Grilos", "Meu Mar" e "Largo da 2a. Feira" em um dos grandes clássicos, ainda, perdidos da música brasileira.
"A Banda Dos Contentes" - 1976
Um dos discos mais divertidos do cantor, este tem o hit "Filho Único", a bem-humorada "Análise Descontraída" e os country rocks "Billy Dinamite"e "", entre os destaques autorais, além da impagável "", onde o narrador pede para que a mulher, uma ativa militante feminista, não se esqueça dele (ao final, o personagem se mostra compreensível e crava: "Mas, se não dá, vamos fazer o nosso amor num outro dia.)
Completam o LP composições de Belchior ("Paralelas" que se tornaria hit na voz de Vanusa), Gilberto Gil ("Queremos Saber" que Cássia Eller apresentou para as novas gerações) e a linda "Dia de Paz", de Jorge Mautner.
"Mulher" - 1981
Na primeira metade dos anos 80, Erasmo tornou-se um popstar e conheceu um sucesso que, desde os tempos de jovem guarda, ele não via. A fase de bonança começou com o disco de duetos "Erasmo Carlos Convida", e se prolongaria com "Mulher" (1981), "Amar Pra Viver Ou Morrer de Amor" e "Buraco Negro" (esse um pouco menos bem sucedido), todos com grandes momentos e dignos de atenção. "Mulher", talvez seja o mais bem sucedido artisticamente desses quatro, graças especialmente ao seus maiores hits: "Mulher (Sexo Frágil)", "Minha Superstar" e "Pega Na Mentira".
"Rock 'n' Roll" - 2009
Erasmo passou a segunda metade dos anos 80 e quase toda a década de 90 em uma espécie de limbo artístico. O renascimento começaria na virada para o novo século e em duas frentes. De um lado, o álbum "Pra Falar De Amor" mostrava que, mesmo sem poder contar com o parceiro Roberto Carlos ele estava em uma ótima fase como cantor e compositor, algo que a turnê do trabalho, que também virou CD e DVD comprovava ainda mais.
Simultaneamente, a obra visionária dele nos anos 70 começava a ser redescoberta por jornalistas e pesquisadores. O problema é que os discos estavam fora de catálogo e a internet ainda não tinha tudo facilmente encontrável (mesmo nos serviços ilegais). Foi quando a Universal colocou em catálogo um caixote trazendo toda a obra dele na gravadora além de uma série de extras.
Subitamente, Erasmo virou um nome cool e passou a ser visto como o que realmente era: um patrimônio não só do rock nacional como da música brasileira como um todo. Nenhum disco reflete tanto esse momento de bonança quanto "Rock 'n Roll", seu 24° álbum de estúdio e um trabalho de grande força que mostrava que, mesmo prestes a chegar aos 70 anos, ele se mantinha criativo e se recusando a virar uma peça de museu.
Erasmo lançou ainda mais três discos de material original ("Sexo", "Gigante Gentil" e "Amor É Isso", todos muito dignos) e terminou a sua carreira discográfica olhando para trás, primeiro com o EP "Quem Foi Que Disse Que Eu Não Faço Samba...", onde reuniu suas composições dentro desse gênero, e "O futuro pertence à... Jovem Guarda", outro disco curto (oito músicas apenas) com músicas dos primórdios do nosso rock, com arranjos surpreendentes - e, curiosamente, apenas uma composta por ele e Roberto.