Há exatos 50 anos, dois discos fundamentais na carreira de seus autores e que se mantém como clássicos influentes, foram lançados. Tanto "Goodbye Yellow Brick Road", de Elton John, quanto "Berlin", de Lou Reed, mudaram a vida dos cantores e compositores, ainda que de maneira distinta, como veremos, e são tidos por muitos fãs e especialistas como seus discos definitivos.

Não por acaso, a turnê de despedida de Elton, encerrada há poucos meses, fazia alusão ao LP duplo ("Farewell Yellow Brick Road") e Reed revisou o álbum poucos anos antes de morrer.

Os dois discos chegaram às lojas do exterior quando os dois artistas estavam em alta e o glam rock em seu momento mais luminoso - no mesmo 5 de outubro de 1973, "These Foolish Things", a estreia solo de Bryan Ferry, do Roxy Music (onde ele regravou algumas de suas canções favoritas), também estava saindo.

Elton John


Tanto "Berlin", quanto "Brick Road" deixam claro que o momento era bom para os compositores. Reed vinha de "Transformer" (seu outro "disco obrigatório"), que finalmente tinha lhe garantido o sucesso que desde o Velvet Underground - a banda que ele liderou na segunda metade dos anos 60 - lhe escapava, graças especialmente ao sucesso do single "Walk On The Wild Side".

Elton, há poucos meses, tinha emplacado "Don't Shoot Me I'm Only The Piano Player", no topo da parada americana e britânica.

É curioso ver como os dois reagiram a esse momento. Reed pôde fazer um disco extremamente bem produzido por Bob Ezrin, e com músicos de primeiro quilate. Elton, em fase de alta produtividade, veio com um disco duplo, luxuosamente embalado.

Aqui, os caminhos dos dois começa a se distanciar. Enquanto o inglês entregou um trabalho ambicioso, mas também amigável ao grande público, Lou veio deliberadamente querendo cometer o chamado "suicídio comercial".

"Berlin" é um disco conceitual que pode muito bem encabeçar uma lista de "LPs mais depressivos de todos os tempos". Em suas 10 faixas, o ouvinte embarca na saga de Jim e Caroline, um casal enfrentando brigas, vício em drogas e violência doméstica, em uma história que termina em tragédia.

Os críticos, no geral detestaram, e o público se afastou, ainda que graças ao sucesso de "Transformer", ele tenha chegado ao sétimo lugar na Grã Bretanha (nos EUA, Berlin" não foi além do 98° lugar).

Lou Reed


Suas qualidades só foram ser devidamente apreciadas anos mais tarde. O disco foi muito ouvido pela geração punk, ainda que musicalmente esteja entre os mais sofisticados do cantor, e é impossível imaginar a existência do gótico sem ele.

Reed, óbvio, sabia que estava lançando um disco difícil, ainda assim, nunca escondeu a amargura que sentiu pela rejeição inicial. Obviamente, ele se sentiu vingado com a reavaliação posterior do LP e foi bonito vê-lo tocar o trabalho na íntegra em 2007, seis anos antes de sua morte.

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Se Lou reed confundiu seu público, Elton John entregou o que eles queriam e o que não esperavam, e em dose dupla. "Goodbye Yellow Brick Road" já começava de maneira imponente, com a longa faixa intrumental "Funeral For A Friend" e, pelas 15 canções seguintes, mostrava o pianista se aventurando pela música country ("Roy Rogers"), reggae ("Jamaica Jerk-Off"), rock and roll dos primórdios ("Your Sister Can't Twist (But She Can Rock 'n' Roll)"), hard rock ("Saturday Night's Alright For Fighting") e até o R&B ("Bennie And The Jets").

As baladas também estavam lá e eram inspiradíssimas, vide a faixa-título e "Candle In The Wind", os grande sucessos, mas também na sofisticada "Sweet Painted Lady" e na bela "Harmony", a canção de encerramento.

Elton John seguiu fazendo muito sucesso nos anos seguintes, mas não é exagero dizer que nunca mais fez um disco tão completo quanto esse, ainda que "Captain Fantastic", de 1975, tenha chegado perto. Não por acaso, foi deste álbum duplo que mais músicas foram tiradas para os setlists da turnê de despedida do músico.

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