Quando "A Bigger Bang" saiu, em 2005, houve quem dissesse que aquele era certamente o último álbum dos Rolling Stones. E a ideia parecia bastante plausível, afinal aquele disco havia saído sete anos depois de seu antecessor. Como disse um crítico à época: com eses espaçamentos cada vez maiores, é difícil imaginar eles lançando um disco já aos 70 anos ou mais.

Desnecessário dizer que o jornalista errou em sua previsão. Ao invés de se separarem, os Stones decidiram seguir em frente com a missão de mostrar até onde é possível manter uma banda relevante e em atividade - no caso deles, já são 61 anos.

Por outro lado, quem poderia imaginar em 2005 que eles lançariam pelo menos mais um LP de inéditas, mas que ele só iria sair em 2023 e com Charlie Watts, uma pena, aparecendo postumamente e em apenas duas canções?
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No final, a grande surpresa foi ver como "Hackney Diamonds" é saboroso. Claro, ainda é cedo para cravar um veredito definitvo do tipo "melhor disco deles desde 1972, 1978, 1981..." - cada novo álbum LP da banda costuma gerar críticas desse tipo, que logo são esquecidos.

Digamos então que, neste momento, o que temos é um LP à moda antiga, um dos melhores de 2023 e que soa como uma boa adição a um dos melhores catálogos da história da música gravada. Trazendo 12 faixas e 48 minutos de duração esse é o trabalho mais enxuto deles desde "Dirty Work", de 1986, e tem músicas que podem até se candidatar a garantir um lugar cativo em todos, ou quase todos, os shows da banda, algo que não acontece desde, pasmem, "Start Me Up".

A já conhecida balada soul "Sweet Sounds Of Heaven" (com participações de Lady Gaga e Stevie Wonder) é, nesse sentido, uma das mais fortes candidatas. O chamado "show stopper", é fácil imaginá-la como um dos pontos centrais de um show ao vivo, que, pelo visto, vai precisar ter mais de 19 músicas daqui pra frente.

O single "Angry", a disco "Mess It Up", e seu clima à la "Miss You", e "Live by the Sword (Feat. Elton John)" (com bateria de Watts, morto em 2021 e baixo de Bill Wyman, que deixou o então quinteto em 1993) também estão entre as mais fortes do trabalho. O "momento Keith Richards" é igualmente forte. O guitarrista assume os vocais em, "Tell Me Straight".
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O que talvez seja mais interesante em "Hackney Diamonds" é o de se tratar de um disco da mais antiga banda em atividade do planeta mas ele não soar como um trabalho "de despedida" ou "de reflexão" - algo que se tornou comum com artistas na "terceira idade" desde meados dos anos 90.

Esse momento acabou todo concentrado no número final: uma cover de "Rolling Stone Blues", a canção do bluesman Muddy Waters que inspirou o nome da banda, tocada apenas por Mick Jagger e Keith Richards, os dois remanescentes da formação original.

O mérito aqui vai para o produtor Andrew Watt, que consegue trabalhar tanto com Post Malone, Jung Kook e Justin Bieber, quanto com Ozzy Osbourne e Iggy Pop.

Ele evitou a armadilha de gravar um LP com "som vintage" e ainda conseguiu
fazer os Stones soarem contemporâneos e sem apelar para truques da música contemporânea (um feat. forçado ao lado de algum popstar ou rapper, músicas que podem servir de trilha para danças no TikTok...). Um feito e tanto.

Ouça o álbum:



"Hackney Diamonds" tem as seguintes músicas:

"Angry"
"Get Close (Feat. Elton John)"
"Depending On You"
"Bite My Head Off (Feat. Paul McCartney)"
"Whole Wide World"
"Dreamy Skies"
"Mess It Up"
"Live by the Sword (Feat. Elton John)"
"Driving Me Too Hard"
"Tell Me Straight"
"Sweet Sounds of Heaven (Feat. Lady Gaga & Stevie Wonder)"
"Rolling Stone Blues"