Vi brotar num galho seco Uma flor do pessegueiro E se foi com o vento norte Que veio num desespero. Era uma tarde de outubro Quando deu a chuvarada, Eu vinha seco e miúdo, Alheio há dias na estrada.
No rancho do pessegueiro Arrumei uma pousada, Providência do acaso, E a volta era encharcada. Junto ao fogo do galpão Acomodei meu pelego, Varei a noite acordado Pois não me vinha sossego.
Eu nunca tive querência, Mas já estou acostumado, Por não ter sonhos, não durmo, Andejo assim tresnoitado.
No desjejum da manhã Carne, pão novo e qualhada... Faltava açúcar no mais, Adoçamos com figada. Gostaram de mim na casa, Me deram changa pra uns dias, Tivesse cerca alambrava, Quisessem poço eu abria.
Ali me apeguei à terra, À casa, aos bichos, à gente E me enamorei de olhares Pela vizinha da frente. Com toda a força da alma Vou cuidar cada pedaço Deste sonho que o destino Trouxe a sestear nos meus braços...
A felicidade é um bem Que não há quem a descreva, Mas é uma flor delicada, Um vento forte nos leva
Compositor: Marco Tulio Urach da Rosa (Tulio Urach) ECAD: Obra #4866757