Prosa em Família
(Os Cavaleiros da Paz)
En la pampa del infierno
Ninguna cerca se grampa
O homem é o Deus na terra
E o centauro a sua estampa
Os meus olhos transnoitados
Como estrelas pirilampas
São um mapa de casco e flores
Quando cavalgo na pampa
Vem nos bastos paissandu
Nas chilenas cantaderas
No fio das guajuvirá
Nos bulbos de alma leguera
Vem nos palas curraleiros
Na humildade das taquaras
Onde tremulam bandeiras
Pra se esquecerem fronteiras
Por sorte, hoje encilho um verso
Como quem monta um Bt
Não estou só, estou de a cavalo
Aonde o pago me vê
Estrada feita na guerra
Na amizade se refaz
Por que aí vão de a cavalo
Os cavaleiros da paz
Mas, tu falas em cavaleiro da paz
Tio Nico, e eu me lembro
Me lembro de nós
E um grupo de guapos gaúchos
Na Cordilheira dos Andes
Atravessando inclusive o deserto da Argentina
E na nossa cruzada, nós chegamos lá em Viña del Mar
E eu me lembro que levei uma água daqui do Atlântico
Eu era o presidente da delegação
Mas tu, Nico, eras o grande comandante
Dos cavaleiros da paz, que beleza
E nós cravamos em cima da cordilheira
O pavilhão sagrado, a bandeira sagrada
Do município de Alegrete
Até hoje me arrepio só de falar
Esse Alegrete, né pai, é a marca nossa dos Fagundes
Por onde a gente anda aí
A gente leva sempre o Alegrete no peito
Cantei ao lado do Paulinho, meu mano, caçula
Em Hong Kong o Canto Alegretense, no México, em Havana
Lá na China?
Na China
Mas eu também já cantei nas China esse Canto Alegretense
Eu me lembro também, tio Nico, nós lá no Museu do Louvre
Onde a tia Zilá tinha sonhado que um dia
Os Fagundes cantariam o Canto Alegretense
Nós estávamos lá, ao lado do Borghettinho
Do Kleiton e Kledir, eu, Ernesto e o senhor
E ao mesmo tempo lembrar lá das gôndolas de Veneza
Que nós também cantamos o Canto Alegretense
Com uma equipe maravilhosa de gaúchos
Acho que assim a gente vai demonstrando por onde passa
O amor e a paixão que nós temos pela nossa terra Natal
Pelo nosso Alegrete
Não me perguntes onde fica o Alegrete
Segue o rumo do teu próprio coração
Cruzarás pela estrada algum ginete
E ouvirás toque de gaita e violão
Pra quem chega de Rosário ao fim da tarde
Ou quem vem de Uruguaiana de manhã
Tem o Sol como uma brasa que ainda arde
Mergulhado no Rio Ibirapuitã
Ouve o canto gauchesco e brasileiro
Desta terra que eu amei desde guri
Flor de tuna, camoatim de mel campeiro
Pedra moura das quebradas do Inhanduy
Ouve o canto gauchesco e brasileiro
Desta terra que eu amei desde guri
Flor de tuna, camoatim de mel campeiro
Pedra moura das quebradas do Inhanduy
E na hora derradeira que eu mereça
Ver o Sol alegretense entardecer
Como os potros vou virar minha cabeça
Para os pagos no momento de morrer
E nos olhos vou levar o encantamento
Desta terra que eu amei com devoção
Cada verso que eu componho é um pagamento
De uma dívida de amor e gratidão
Ouve o canto gauchesco e brasileiro
Desta terra que eu amei desde guri
Flor de tuna, camoatim de mel campeiro
Pedra moura das quebradas do Inhanduy
Ouve o canto gauchesco e brasileiro
Desta terra que eu amei desde guri
Flor de tuna, camoatim de mel campeiro
Pedra moura das quebradas do Inhanduy
A família é da fronteira
De velhos troncos campeiros
Com raízes no Inhanduy
É gente de lenço branco
Cor morena e biso franco
Do mais velho ao mais guri
Que se reuniram um dia
Por sugestão e magia
Do velho
E todos disseram
Que além do horizonte
Há um mundo tranquilo
Que todos esperam um dia encontrar
E todos falaram
Cantaram e gritaram
Que além do horizonte
Existem as coisas mais lindas do mundo
De um mundo tão lindo, formado de luz
Disseram somente, pois ver ninguém viu
Não viu a criança, que ontem nasceu
E os olhos abriu sem nada enxergar
Não viram o moço e a moça bonita
Que sonham em casar e a vida viver
Não viu o velhinho, de vida no fim
Que vive rezando de eterna esperança de muito viver
E todos disseram que além do horizonte
Arco-íris, miragens, só existe o amor
Palavra tem força, e todos têm fé
Disseram somente, pois ver ninguém viu
E eu que andei, que andei, e andei
E um dia cheguei em cima do monte
E outro horizonte, e outro, mais outro
Sequência de rumos levando para um mesmo caminho sem flor
E louco, gritei
Gritei por piedade, gritei de saudade
Gritei de tristeza, de falta de amor
Um dia voltei
Voltei sem contar pro moço, pra moça
Pro velho, pra todos que tudo é mentira
O além do horizonte é apenas um dia que volta amanhã
Por isso eu suplico, ó Deus meu senhor
Que deixes no sonho do moço, da moça
Do velho, de todos, um mundo bonito que ali eu não vi
Que cantem cantigas de mil esperanças
Cantigas bonitas, que fiz e perdi
Compositores: Antonio Augusto da Silva Fagundes (Antonio Augusto Fagundes), Elton Benicio Escobar Saldanha (Elton Saldanha), Euclides Fagundes Filho (Bagre Fagundes), Luiz Alberto de Menezes (Luiz A. Menezes)
ECAD: Obra #1723985 Fonograma #1283090