Numa tarde de verão em que nevava pra cacete Eu compus um grande rock, grande como a ponta de um alfinete Era grande como é grande tudo o que não está à mão Com total mediocridade eu fiz essa canção Toda grande obra de arte quase sempre pede um tema Eu achei um personagem pra falar no meu poema É o tal Kid Cultura o valentão do nosso Oeste Que alastrou na nossa vida bem pior que a peste Ele andava pelos bares arrotando a tal cultura Dividia a nossa história em linha mole e linha dura Se alguém o desafiava desferia sem perdão Nove ou dez palavras chaves e ganhava a discussão "A incoerência inverossímil é a antropofagia biovilesca, não acham?" Desfilava em Ipanema o gênio da contra-cultura E sorria lá de cima: "Ninguém estava à sua altura" E se alguém não entendeu o filme que ele viu Explicava o simbolismo: "Aquilo era o Brasil" Já havia feito yoga, trás-doin transcendental Não ligava para moda ele era original Não estudava só fazia pesquisa pelo Brasil E sacava da garganta nomes eu ninguém viu Já dizia Marc Dutra no seu livro Franci Delt Que a normália transcendência é a virtude poroleuti E o que o Freud não explica eu pesquisei no Afeganistão Já dizia Rala Putra efe é cold, irmão Como disse Clifen Housen referanda melecause Tem um quê de homossexualismo nesse tal de Mickey Mouse E dizia ser poeta mas não escrevia não Mas manter sua arte pura sem corrupção Mas um dia de repente lá no bar apareceu Alguém que era consistente e o Kid até tremeu Sacou do copo já gritando: "Ele não entende nada" Mas o outro não tinha medo e soltou a gargalhada Kid Cultura quis fugir mas o outro não deixou Sacou um livro verdadeiro e no Kid jogou E ao contato com a cultura o nosso Kid estremeceu Quando um grito se ouviu, Kid Cultura morreu E o pior da nossa história é que ela não acaba aqui Isso tudo foi um sonho: Kid Cultura tá solto por aí
Compositor: Oswaldo Viveiros Montenegro (Oswaldo Montenegro) ECAD: Obra #2173320 Fonograma #916974