Na tarde boca da noite, inventei uma caçada Na costa de uma restinga deixei uma trampa armada Para ver se ali caía um sorro nesta emboscada.
O tal sorro que eu queria já me era um desafio Bicho pequeno que havia ele passava no figo, Leitão, borrego e galinha roubava do pobrerio.
No outro dia bem cedo, primeiro cantar do galo Apiei da minha cama e amuntei no meu cavalo Fui ver se tinha caído na trampa o sorro que falo.
Tinha caído sereno, tava molhado o capim Apanhar aquele sorro era uma honra pra mim, Pra quem rouba da pobreza a gente tem que dar fim
Lhe chamam de sorro manso que de valde não se arrisca Mas de longe eu vi o bicho meio engasgado na isca Quando se sentiu das pata chegava soltar faísca
Mas o sorro é bicho esperto, raça de bicho ladino Quebrou as garras da trampa, decerto o arame era fino Embora de pata renga fugiu do triste destino
Mas eu como fui soldado na vali da disciplina Fiz um cargo aproximado, fui lhe esperar numa esquina Já ia saindo o sorro do meio de uma faxina
Eu larguei o meu cachorro, um pitoquinho colera O sorro já ia longe passando numa porteira Pra se pegar este bicho só tiro de boleadeira
Já meu pitoco chegava quase na cola do sorro Quando o bicho perseguido deu um grito de socorro Livrai-me senhor dos matos dos dentes deste cachorro
Fez volta e fez contra-volta, veio e entrou num buraco De tanto correr o bicho eu já me sentia fraco Quando chegou meu pitoco já fui tirando o casaco
Metendo a mão pela toca tirei ele pela oreia Quantos crimes tu tens feito entre galinhas e oveia Não foi por nada que Cristo não te botou sobrancelha
Nem assim o sorro véio nas garras de minha mão Entregou a rapadura, gritou e pediu perdão Me apelou pro sentimento e eu tive bom coração
Dei-lhe uma sova de laço com a tala de meu reio Dizendo é pra que aprenda a não roubar o alheio Comer criação dos pobre é um pecado dos mais feio
Larguei o sorro riscado mesmo que jaguatirica Ele ouviu o meu conselho que pros demais aqui fica Todo ladrão de respeito só rouba de gente rica.
por nelson de campos
Compositores: Apparicio Silva Rillo (Silva Rillo), Pedro Marques Ortaca (Pedro Ortaca) ECAD: Obra #101881 Fonograma #38175