No Meu canto nao escondo, Vou dizendo de vereda, Sou brasa de labareda E ferrão de marrimbondo, Desde que o mundo é redendo Não tem esquina nem canto! Amigos eu les garanto Quando este mundo acabar, Com certeza fai ficar A verdade do meu canto!
Meu canto guarda o estilo Das fontes de geografia Quando o gaúcho nascia Abarbarado e tranqüilo; Meu canto é o canto do grilo, Dos tempos de antigamente Que pode ser estridente Mas jamais ultrapassado, Porque o cantor do passado É o bebedor do presente!
Meu canto lembra o relincho E sanga de pedregulho; Meu canto lembra o mergulho Da manada de capincho! Meu canto evoca o bochincho Quando o candeeiro se apaga, Ali onde ninguém indaga, Nem quem foi e nem quem é, Se é crioulo de Bagé, Santana ou São Luiz Gonzaga!
Canto que evoca o rodeio E a ronda de uma tropeada E a velha gaita acordada Resmungando num floreio; Canto que lembra o rio cheio E a clarinada de um galo; Canto que adoça o embalo De uma xirua que implora Que a gente não vá simbora E desencilhe o cavalo...
Canto de lida e serviço Cherando a chão de mangueira, Sovado uma vida inteira, Decerto mesmo por isso, Concerva aquele feitiço Que nós todos conhecemos, Herança que recebemos Não se compra e não se vende, Por isso o povo me entende, E todos nos entendemos'!
Há os que condenam meu canto De cousas que ja passaram, Dizem que muitos cantaram E chega de cantar tanto, Contra isso eu me levanto Sem procurar desafetos Não se apagam os decretos Heranças de todos nós Não vou matar meus avós Pra ficar de bem com os netos!
Compositores: Jayme Caetano Braun, Pedro Marques Ortaca (Pedro Ortaca) ECAD: Obra #473801 Fonograma #38173