Venho do fundo da história que foi escrita por mim No repicar do clarim da luta emancipatória Reprisando a trajetória dos velhos tebas guerreiros De romances galponeiros com legendas e amarguras De dia bebo lonjuras, de noite apago o luzeiro
Sem nunca ter pouso certo, parador, patrão nem dona Me estendo sobre a carona o pingo pastando perto Que a atração do campo aberto não há ninguém que resista E o pajador nativista que o céu inspira e acalma A querência dentro da alma e o mundo a perder de vista
E a própria estrela boieira que me guia e me desperta E quando a saudade aperta a guitarra companheira Faz da milonga campeira o mundo ficar pequeno E como contra-veneno da mágoa que me acompanha Bebo graxa de picanha com salmoura de sereno
As vezes quem nada tem é aquele que melhor vive Quantas fortunas eu tive sem nunca ter um vintém Amando e querendo bem sempre no maior empenho E de nada me abstenho quando a incerteza me assalta E até mesmo o que me falta, faço de conta que tenho
Pajador que trás de infância esta bárbara tendência De ir de querência em querência, e andar de estância em estância Sempre olfateando a distância os mil sonhos que extraviei Por onde andarão não sei no sem fim do céu e o pasto Mas hei de encontrar o rastro dos versos que não cantei
Um dia quando eu me for rumbeando a querência eterna Onde bolearei a perna diante do meu criador Não chorem ao pajador do velho pago florido Que há de cantar comovido até o último repuxo Porque só em nascer gaúcho vale a pena ter nascido.