Se canto a pátria colorada Meio floreço por dentro Pois nem sequer me concentro E a rima já sai maneada O Sol maior da pajara Brilha pra mim sem barulho Tenho na voz o mangrulho E quando canto a nossa gente Sou igual uma vertente Pulsando no pedregulho
Nasci cantor guitarreiro No chão índio das Missões E me criei nos pogões Deste Rio Grande campeiro Todo cantor missioneiro É uma artéria que se esvai E desde o pai do meu pai Trago esta herança encantada É a alma bugre marrada Das enchentes do Uruguai
Quando canto ressuscito Os Centauros da minha raça E parece que me abraça Um ancestral lá do infinito Pagé de bronze e arenito Que um dia morreu peleando A guitarra soluçando Balbucia esse segredo Enquanto lá no arvoredo O vento passa chorando
Por isso abraço a guitarra Como a china companheira Madrinha das penas feiticeiras Que me transforma em cigarra Dentro de mim chora e se agarra Berro da tropa e reponte Que nem flor humilde do monte Meu canto é Hóstia Sagrada Que engulo de alma ajoelhada Com o olhar no horizonte
Vou rematando a presilha Como todo o trançador Porque quem é payador Canta mas não se destrilha Assim me vou na coxilha Ruminando sem pretexto Um velho e bíblico texto Que carrego de estribilho Ao tranco num douradilho Com um mouro de acabresto
por nelson de campos
Compositores: Jose Joao Sampaio da Silva (Joao Sampaio), Pedro Marques Ortaca (Pedro Ortaca) ECAD: Obra #981281 Fonograma #645034