Rashid: Muitas vezes eu me sinto só e indefeso, feito um animal preso Fazendo peso e só, mais um mano e só em meio a massa Sendo observado com ódio ou medo como se eu não fosse da mesma raça O calor, a fumaça arrasa com a cabeça de quem desde os dez anos de idade é o homem da casa E sua vontade é nula Me vejo no alto de uma ponte com o diabo sussurrando: pula pula A chuva fina sobre o meu capuz Diz que devo ceder, a escuridão me seduz A solidão me conduz por entre as faixas Putas e senhoras com folhetos que falam de Jesus Vão caixas e mais caixas de canetas não adiantariam nem curariam minha depressão Vi com os papelão o sofrimento alheio me pergunto o que tenho feito de certo pra não tá aí no meio No seio da nação Tudo que eu toco vira uma rocha fria, é, eu tenho essa sensação também Aprendi a carregar meu próprio peso pra não ser um peso a mais nas costas de ninguém Entendeu? Toda a multidão ao meu redor Todo esse cinza, todo esse ódio ao meu redor Cidade vazia, fascinante Como pra um monstro como eu uma jaula é muito mais aconchegante
Projota: Pouca gente me olha, acho que por ter medo de olhar Ou olha de rabo de olho pra me vigiar Nem olha, nem nota que eu tô lá ou custa perceber Que bem pior que não olhar é olhar e não ver Eu sinto muito se eu falo muito e fico calado quando eu tô bolado Com neguin fardado, cabelo raspado, me cobrando explicação sem ter me explicado porque eu fui parado E eles vem doido procurando treta Cai do cavalo quando encontra na mochila caderno e caneta Ah se ele abrisse o cadernim de rima lá Doutor Dolittle aqui ia fazer o porco chorar Um portador do vírus da pobreza Um vingador da carne que os desgraçado põe na mesa Não tô defendendo o sangue da galinha Eu tô cobrando porque tem na mesa deles e não tem na minha E olha que na minha até tem as vez Mas vi minha veia comendo pouquim pra sobrar pros outros três E decidi que minha luta era por ela E por cada tia agonizando a vida nas favela E se a gente unisse cada vira-lata vadio A vida dos cão de raça tava por um fio Tiraram tudo que é nosso, mas vacilaram Porque eu tô disposto a dar minha vida, e ela vocês não levaram!
Compositores: Carlos Henrique Benigno (Caique), Michel Dias Costa (Rashid), Jose Tiago Sabino Pereira (Projota) ECAD: Obra #18015990