É certo que teve pai, Teve mãe, lar e afeto. Por ser meio analfabeto Não culpo mãe e nem pai. É como fruta que sai Minguada, flor temporona. Veio ao mundo de carona E de carona se vai.
Foi batizado a capricho, Cinco ou seis velas ?acesa?. Do povo da redondeza Ganhou padrinho e madrinha. Daquele jeito que vinha, (Sem força nem pra chorar) Do Chiquinho se criar Ninguém esperança tinha.
Pra ele faziam as dúzias De promessa e simpatia. Oração a reveria, Usou um breve de osso. Escapulário de grosso Numa bolsinha de pano E o dia que fez um ano Tiraram do seu pescoço.
Dali por diante se veio... Fraquito e não engordava. Mas cada um que chegava Receitava algum jujo: Tomou pó de caramujo Com leite de cabra oveira Que dava uma corredeira Que mais passava era sujo.
Até mandaram parar Co'aquele leite maldito. Que até hoje de cabrito Não pode nem ver o couro. Passaram a lhe dar soro Dos queijos que avó fazia (Dois ou três ?litro? por dia) E um chá de folha de louro.
Até falaram pra mãe, Não sei se por brincadeira! Que a Turibia benzedeira Que dava remédio a eito... Que no mundo tinha feito Muito magrinho engordar. E pra esse piá se criar Teve que ser desse jeito.
Primeiro deu uma gemada Com cinco ?ovo? de ganso, Misturou também um ranço De toicinho enfumaçado. Se ele andar enfastiado, Atraca chá de pessegueiro. Lhe garanto que é ligeiro Que endireita esse pesteado.
De fato se endireitou Como da noite pro dia! Alapucha o que comia, Abriu a disposição. Um caldito de feijão Engrossado com farinha E algum granzito que tinha Inté pegava com a mão.
Esse aí é o Chico Toro, Comprido, delgado e rijo. Que nem pilão de carijó, Como teclado de gaita. E co'essa vontade baita Hoje anda por ai... Lá da costa do Ibicuí, Estampa de índio taita.
Compositores: Francisco Carlos de Salles (Chiquinho), Ramao Juraci da Cruz Pereira (Ramao Missioneiro) ECAD: Obra #6385304 Fonograma #2470975