Renato Fagundes

Eu e a Baia

Renato Fagundes


De uma quadrilha afamada
A escolhi para o meu basto
Fui domador de primeira
E a baia seguiu meu rastro

Parceira pra toda a lida
Doce de boca, um estouro
Égua de levar os piás
E nos encontros pechar touro!

Mas, troca de ponta a vida
Porque ninguém manda nela
E eu tive que ir pra o povo
Levando minha baia estrela

A cidade é diferente
Da vida buena do campo
Pois as luzes que faiscam
Não são como pirilampos

O mundo troca de ponta
Quando o olhar menos espera
É a vida ganhando estradas
Ante ausências de tapera
Por não ter poeira no asfalto
Somos dois no mesmo passo

Os olhos dos horizontes
Têm duas viseiras de couro
Encurtando a vista larga
Da mi'a baia cor de ouro

Também perdi os caminhos
Que gravei na minha retina
Pois o estreito das ruas
Passou a ser nossa sina

Agora tudo o que resta
Pra minha baia companheira
É o leva e traz dos biscates
Em vez da lida campeira

A ilusão de multicores
É a dor que vibra na febre
Antes um templo caiado
Hoje o zinco de um casebre

Quando em vez amarro a baia
Em frente a um bolicho do povo
Pra num trago largo
Beber o destino novo

E a carroça que ela puxa
Hoje é só um castigo meu
Nas costas dela um mundo
Que nunca nos pertenceu

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