Chegou um dia no pago mui perfumada e faceira Morena meiga e trigueira, mais linda do que uma flor Prenda desta que ao vê-la por mais taura que seja Até a alma fraqueja e mata a gente de amor E foi um deus nos acuda a indiada se alvoroçou Até um velho que a olhou de amores enlouqueceu Todo mundo andava louco e o seu amor implorava Todo mundo a disputava, todo mundo menos eu!
Quando passava a catita num meneio encantador O índio mais peleador gemia de amor contido Se ela lhe dava um riso aquele nunca esquecia E a todo mundo dizia que estava de amor perdido Perdido viviam todos por tal encanto brejeiro Cada qual era o primeiro querer um sorriso seu As vezes por desconfiança muito índio se atracava E todo mundo peleava, todo mundo menos eu
Era uma flor atrevida capaz de matar de amor! Seu olhar tinha um ardor que queimava o coração! Por mais duro que se fosse ao vê-la, a gente tremia E todo o pago sofria as dores duma paixão Se acaso ia num baile, havia, certo peleia E quanta pendenga feia, e quanto cuera morreu! Pois na hora de uma dança a indiada se atropelava E todo mundo dançava todo mundo... Menos eu!
Um dia o patrão da estância a levou para um ranchito Nunca mais viveu solito, pois em grande romaria Gaúchos, velhos e moços, não contendo seus amores Iam lá lhe levar flores e outros mimos todo dia Enfeitavam aquele pouso de ramos verdes plantados Como brinde disfarçados ao novo lar que nasceu Mas na verdade queriam vê-la cada vez mais bela Todo mundo era dela, todo mundo menos eu
E assim gozando aventura, rainha Dona de tudo Aquele olhar de veludo trouxe tristeza para o pago Tristeza, talvez ventura, pois até valia a pena Sofrer por uma morena na esperança de um afago Um dia porem a diaba se alçou assim num repente Ah, meu deus aquela gente parece que enlouqueceu Muito índio se matou de tanto, tanto que amava Todo mundo chorava, todo mundo menos eu
Mas o tempo esse tirano que destrói até memória Foi apagando da historia aquele caso de amor Voltou a paz no rincão, o riso de novo impera No rancho hoje tapera ninguém mais planta uma flor Seu vulto não mais recordam e dela ninguém mais fala Se alguém lembra logo cala provando que já esqueceu Pois a linda flor trigueira que eu nunca vira tão bela Todo mundo esqueceu dela, todo mundo menos eu!