Eu posei pra um holandês que pintou-me certa vez Atirando-me à vara Pois só dois séculos depois É que fui avaliada pelos olhos da cara Eu, uma pérola distinta, atingida Pela tinta que cobria a high society Linda, assediada, admirada, mesmo estando pendurada Eu era a jóia de uma obra de arte
Dou-lhe uma... dou-lhe duas... dou-lhe três!
Tudo ia mais ou menos bem Até que um desalmado sem vintém Numa festa a fantasia, roubou tudo o que podia Não deixou passar ninguém A pulseira da condessa, a tiara da rainha E, de quebra, me levou também Fugiu para o brasil e a história então aqui vira novela Uma nova rica arrematou-me por uma bagatela
Passa o tempo, anos 30, eu no rio Estava já de volta à alta roda Vestidos querendo casar comigo No embalo dos umbigos de carmen e aurora Confesso que já estava acostumada A ser um adereço de carnaval Quando a falência abocanhou minha senhora Que mandou-me à penhora Na caixa econômica federal
Dou-lhe uma... dou-lhe duas... dou-lhe três!
Dentro da caixa que era um prédio A rotina era um tédio, não acontecia nada Jóias e mais jóias deprimidas, jogando paciência Vendo fitas alugadas Uma pérola no ostracismo, é só um eufemismo Para lustrar a minha vida Feito uma qualquer, bijuteria, juro que não merecia Mas na bacia das almas seria certamente oferecida
Até que vi um filme um belo dia E nele aparecia uma pedra se passando por moi Na orelha da scarlett johannson, quem diria? Quero um lenço, quero um lenço pra chorar Estava aos prantos quando um bracelete grosso Um exagero mal gosto, resolveu tripudiar Me disse que era pra ficar calada Pois chegara a minha hora O leilão já ia começar
Eu não valho mais nenhum tostão Quem me compraria num leilão Minha mãe foi uma ostra e o meu pai um pobre cisco, então Vamos acabar logo com isso! Dou-lhe uma... dou-lhe duas... dou-lhe três!