Vancê tá vendo aquele véio, moço, quantas história ele tem prá contá Aquele lenço que traz no pescoço já fez arvoroço em festa de arraiá...
Seu apelido é "Lenço Vermeio" de onde ele veio ninguém sabe, não Vamo chegá prá ouvir a sua história que traz na memória, nas recordação !
Declamado:
"- Dá licença, seu mocinho, prá chegá mais bem pertinho, prá mió ocê mi escuitá, já que a vóiz está cansada do sereno e madrugada pelas noite de luá !
Oiça agora, sem receio porque eu sô "Lenço Vermeio" e ninguém sabe o meu nome: Moro aqui nesta choupana, sai sumana, entra sumana chego inté a passá fome !
Mas, já fui bem abastado um caboclo arrespeitado nas querência adonde andei Carreteiro, boiadeiro, fui jagunço, fui tropeiro, muitos burro eu já domei
Fui também bão de viola, sanfoneiro e arrasta-sola nas festança onde eu dancei Também fui guapo e valente tive muitas pretendente tanta moça eu namorei.
Este lenço avermeiado, de cor alegre, encarnado pertenceu a uma cabocla que tinha os zóio sereno cabelos longo e moreno, e uns dente branco na boca !
Nos lábio tinha romã, o cheiro iguar das manhã com o orvalho das madrugada A vóiz iguar de um regato que ia cantando pro mato a sua alegre toada.
Um dia, já nem me lembro se foi novembro ou dezembro nóis fumo se adivirti muntado tudo a cavalo na Festa de São Gonçalo num sítio longe daqui
Havia gente bastante de sítio muito distante que viero pro festão: Tanta moça embandeirada prá mim não valia nada com a outra no coração .
Quando foi lá pruma hora ouve um bafafá lá fora, nóis paremo di tocá : -Um caboclo bão de papo sortava sôco e sopapo começando a esbravejá
Pulei logo em sua frente e ele rangendo os dente iguar um cachorro loco arrancou de uma peixeira eu lhe passei uma rasteira que não me acertô por pouco
Quando então vortei prá drento prá botá em movimento a moçada no salão voltou meio atordoado o caboclo empoeirado c'uma garrucha na mão
Quando ele apuntô meu peito eu não sei mais di que jeito a morena se adiantou: e ficô na minha frente, no meio de tanta gente o marvado atirô
Eu oiêi horrorizado no chão, caído, tumbado a flô do meu coração que tinha os zóio sereno cabelos longo e moreno que era a minha paixão...
E aquele lenço vermeio que ainda cobria o seio daquela pobre criança hoje, eu trago no pescoço prá lembrá que ainda sô moço que não morrero as lembrança !