A morte anda no mundo Vestindo a mortalha escura Procurando a criatura Que espera a condenação Quando ela encontra um cristão Sem vontade de morrer Ele implora pra viver Mas ela ordena que não Quando o corpo cai no chão Se abre a terra e lhe come Como uma boca com fome Mordendo a massa de um pão
A morte anda no mundo Espalhando ansiedade Angústia, medo e saudade Sem propaganda ou esparro Sua goela tem pigarro Sua voz é muito rouca Sua simpatia é pouca E seu semblante é bizarro A vida é corno um cigarro Que o tempo amassa e machuca E morte fuma a bituca E apaga a brasa no barro
A morte anda no mundo Na forma de um esqueleto Montando um cavalo preto Pulando cerca e cancela Bota a cara na janela Entra sem ter permisão Fazendo a subtração Dos nomes da lista dela Com a risada amarela É uma atriz enxerida Com presença garantida No fim de toda novela
Disse a morte para a foice: Passei a vida matando Mas já estou me abusando Desse emprego de matar Porque já pude notar Que em todo lugar que eu vou O povo já se matou Antes mesmo d'eu chegar Quero me aposentar Pra gozar tranqüilidade Deixando a humanidade Matando no meu lugar