Tato Moura

Encontro

Tato Moura


Vale dos sinos, a menina vem
andando na colheita da macela
a jasmim-manga na orelha dela
e a cor de canela que é a pele que ela tem

Já o menino vem do interior
de preto e cabelo enrolado
meio milonga, meio rock requentado
procurando sonhos, caminhando só

E o universo conspirou também
para que tenha um pouco de amor
onde tão pouco tem
nesse mundo

E o samba-côco fez o corpo remexer
num beijo resistente e molhado
na areia fina, pra sambar do outro lado
e ver nascer a flor do vida outra vez

E o compasso vira dança popular
vira dois que de repente viram um
que viram muitos num caminho em comum
pra dentro e fora de si tudo revirar

Se perguntarem o que é o amar
não responda, não
Por mais que haja coisas da razão
há sempre algo que explode em contradição
e amarra, amassa, amarga, amedronta
e, enfim, desponta
como a gota do oceano vai à nuvem

E o universo conspirou também
para que tenha um pouco de amor
onde tão pouco tem
nesse mundo

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