Num banco de jardim uma velhinha Está tão só com a sombrinha Que é o seu pano de fundo. Num banco de jardim uma velhinha Está sozinha, não há coisa Mais triste neste mundo. E apenas faz ternura, não faz pena, Não faz dó, Pois tem no rosto um resto de frescura. Já coseu alpergatas e Bandeiras verdadeiras. Amargou a pobreza até ao fundo. Dos ossos fez as mesas e as cadeiras, As maneiras Que a fazem estar sentada sobre o mundo. Neste jardim ela À trepadeira das canseiras Das rugas onde o tempo É mais profundo. Num banco de jardim uma velhinha Nunca mais estará sozinha, O futuro está com ela, E abrindo ao sol o negro da Sombrinha poídinha, O sol vem namorá-la da janela. Se essa velhinha fosse A mãe que eu quero, A mãe que eu tinha, Não havia no mundo outra mais bela. Num banco de jardim uma velhinha Faz desenhos nas pedrinhas Que, afinal, são como eu. Sabe que as dores que tem também são minhas, São moinhas do filho a desbravar que deus lhe deu. E, em volta do seu banco, os Malmequeres e as andorinhas Provam que a minha mãe nunca morreu.