É como se fizesse parte do passado Moleque deitado no chão gelado Sem brinquedo, danone ou algo que tem o filho do advogado Eu me lembro do barraco em planaltina cidade satélite Eu era apenas uma criança, um moleque Sonhava em dar alegria pra minha família Até que um dia Chamei uns cara fomos para o plano, capital Brasília Olhar carro, empacotar no mercado Ser tratado como animal Humilhado pelos playboyzinhos de carro Pois precisava ajudar no barraco Meu pai vivia embriagado no bar deitado Nas esquinas desempregado Me batia de verdade Mesmo sem motivo Era rotina meu castigo Eu acho que errei só de ter nascido Minha mãe chorava toda vez que chovia Pois nosso barraco molhava o quintal alagava e isso doía Eu via ela falando em se matar, sumir sei lá Desaparecer do mundo, pra nunca mais voltar Eu tentava ajudar no que eu podia mas era difícil Uma criança sem incentivo ou vira bandido ou vira mendigo Eu fui para escola Ela pediu para que estudasse E acreditasse na vida Me formasse, me tornasse alguém de verdade Era domingo, estava na feira tentado arrumar um dinheiro Vi meu chegado correndo no desespero Dizendo que meu pai havia sido preso Que nada, ele era apenas um bêbado Eu fui pra casa Vi a rua aglomerada, ambulância e bombeiro De longe eu observava Na fita amarela o corpo coberto ensanguentado Era minha mãe, e o meu pai que tinha matado
Estou aqui no mundo Esperando a morte chegar Esperando a morte chegar Estou aqui no mundo Esperando a morte chegar Esperando a morte chegar Sou uma carne em vida irmão, sobrevivente da lei do cão Nesse trilho eu não sei onde vou parar
Não acreditei que tinha acontecido logo aquilo comigo Eu era apenas um menino é muito castigo o meu Deus Olhava pro barraco, lembrava o coração não aguentava Eu chorava, minha mãe me amava Onde meu pai estava Eu resolvi abandonar a favela Fui pra capital morar Nos becos e vielas, apanhar de policial Conviver com o mal Conheci um moleque com uma história mais o menos igual Me ensinou a viver nas ruas Se pá o cara era legal Meu único amigo estava sempre comigo No choro ou no sorriso, na paz ou no perigo Com ele 3 meses de rua sem ter que roubar ou assaltar Sem drogas, sem polícia, sem fumar e sem cheirar Estava tarde no parque da cidade Meia noite e onze Eu vi a polícia estava de longe Aonde a gente se esconde Meu amigo correu e eles começaram a atirar Paramos eu estava com medo Vendo eles se aproximarem O lugar deserto, cabuloso, escuro, perigoso Eu vi o tiro e meu parceiro caindo Era o fogo do 38 Corri, olhei pra trás o moleque já está no chão A viatura saiu em disparado sumido na escuridão Voltei para ver mais era tarde e o corpo já estava gelado Os olhos virados, coração parado eu fiquei desesperado Chorei novamente Outro castigo que Deus tinha me dado Será? Mais uma vez um sorriso a menos No outro dia o corpo encontrado e muita gente vendo Ali no chão uma criança apenas 13 anos de idade No meu rosto a lágrima que demonstra a revolta do povo Meu Deus quanta maldade
Estou aqui no mundo Esperando a morte chegar Esperando a morte chegar Estou aqui no mundo Esperando a morte chegar Esperando a morte chegar Sou uma carne em vida irmão, sobrevivente da lei do cão Nesse trilho eu não sei onde vou parar
Eu estava crescendo Já não tinha mais o apoio da população Não era mais um menino de rua Agora era um ladrão sem precisão Voltei pra favela meu pai tinha morrido numa rebelião O barraco cheio de mato, lembranças do passado Aperta o coração, mais ae vou enfrentar Arrumar um jeito de estudar Fazer o que a minha mãe pediu Que ela esteja em um bom lugar Eu só queria um trampo Eu nunca pensei que ia sofrer tanto Orei para todos os santos Não acontecia nem um adianto, só prejuízo Pedia comida para os vizinhos, agora eu estava sozinho E que deus ilumine o meu caminho De canto chorava lembrava da minha mãe dizendo que me amava O mundo pesava e eu fechava os olhos e rezava Era o meu aniversário 16 anos de sofrimento De lágrimas, de lamentos só eu sei o que sinto por dentro Várias influencias violências, guerras, decadência Vivido na favela eu esqueci a inocência Aprenda que a vida e apenas uma passagem no mundo E devemos aproveitar a cada minuto a cada segundo Mais minha vida foi inútil, não encontrei a razão Hoje no canto da favela com diploma de ladrão Sou mais um a presa do destino com a morte nas costas Cuja as perguntas que faço, não existe respostas Eu vou rezar pela minha alma que ela esteja em um bom lugar Pois o meu corpo está no mundo esperando a morte chegar
Estou aqui no mundo Esperando a morte chegar Esperando a morte chegar Estou aqui no mundo Esperando a morte chegar Esperando a morte chegar Sou uma carne em vida irmão, sobrevivente da lei do cão Nesse trilho eu não sei onde vou parar
Ai cumpadê! O mundo dá voltas Em cada volta um aprendizado E em cada aprendizado, uma vida que serve de exemplo
Compositor: Luiz Fernando Correia da Silva ECAD: Obra #20541960 Fonograma #21945143