Tribo da Periferia

Servo da Guerra

Tribo da Periferia

Verdadeiro Brasileiro


É meu pai, eu nunca pensei que fosse acabar assim
Sendo vítima das minhas próprias maldades
Por isso meu pai, quero que me perdoe
Pois eu também quiz encontrar a paz
Eu também, quis mostrar o meu sorriso
Mais não tive a mesma sorte que os outros

Que pesadelo véi, quanta parada errada
Eu também já fui considerado maluco da quebrada
A todo momento eu estava trepado, só andava maquinado
Berma da Cyclone, corrente de ouro e boné importado
Moleque atitude, nunca neguei fogo
Uma trezentos e oitenta uma rajada e mais um morto
Primeiro homicídio eu não pensei, nem vi a hora
Foi reação de assalto, me lembro como agora
Eu mais dois chegados invadimos uma loteria
Só queríamos dinheiro em plena luz do dia
Com o ferro em mãos eu escalei
Ninguém se mova
Estava indo bem, queria sair de boa
Mas quando indo embora ouve um disparo contra a gente
Revidei com uma rajada matei um inocente
Já estava ali pra isso e não posso me condenar
Afinal saiu na chuva é pra se molhar
Saímos voado de camelo, coração a mil
O meu primeiro ganho véi, puta que pariu
Já tinha experimentado com os bodinho lá de baixo
Ganhava altos boné e bermuda dos otário
Os moleque botou fé meti bala e foi sem dó
Por sorte eu matei, podia ser pior
Eu já ganhei respeito mas não estava feliz
Estou levando a vida que a minha mãe nunca quis
Mas já estou aqui não vai adiantar parar
Também vai ser difícil, acho que não vai dar
Na casa de um chegado muitas armas e munição
Isso já me incentivava a ser mais um ladrão
Saia de rolé botava o canhão na cinta
Ganhava altas camelas quem reage leva ficha
Um dos aliados conseguiu até um carro
Vamo meter um ganho, agora um ganho alto
É!
Entrei grilado já prevendo o final
O banco estava lotado e um vacilo era fatal
Eu saquei, escalei, mas fui precipitado
Vários tiros disparados e o moleque cai do meu lado
Se debatendo desesperado, vendo o sangue escorrendo
Já estava prevendo pois o final é sempre o mesmo
Eu escapei e foi por sorte
É, e foi por sorte
Sobrevivi a minha morte

Como podes encontrar a paz?
Se tu és, mais um servo da guerra
Como irá mostrar o seu sorriso?
Se a luz que brilhava em ti, se transformou em trevas

Naquele dia eu aprendi um pouco da malandragem
Ser o tal comédia ou um malandro de verdade
Eu ia parar com essa vida, quase me dei mal
Estava parando aos poucos, mas não quero ser normal
Comecei o tráfico, era o meu aniversário
Ia rolar um som, mas não é necessário
Minha curtição era na bala, era no ferro, na minha venda
Quarenta, cinquenta, oitenta, noventa
Pra mim era pouco e nada me satisfazia
Dinheiro e mais dinheiro, vadias e mais vadias
Eu era feliz mas era triste, as vezes até me ligava
Eu tenho que parar, essa porra não me deu nada
Minha mãe já falecida, meu pai todo fudido
Meu irmão já não guentava, veio morar comigo
A casa sempre cheia, só os noiado, só a marola
Já tava até manjada, vou trocar minha "chola"
É, parei um tempo véi, eu suportei
Muita necessidade por isso eu já passei
Meu irmão fez treze anos
Vamo rolar um som
Curtimos uns rap a noite inteira até que foi bom
Arrumei um trampo, estava bem regenerado
Um tempo se passou já estava tudo bem mudado
Mas fui surpreendido na porta da minha casa
Mandado de prisão, rotina carcerária
Décima sexta marcou meu sentimento
Vou confessar até chorei no julgamento
Três anos naquela porra nunca mais me esquecerei
Só quem vive ali dentro véi, sabe o que eu passei
Sofrimento dia-a-dia carcereiros e detentos
Mundo do cão não tem caô, clima tenso e violento
Pena comprida aí
Tudo diferente
Só pensando em vingar, mudei completamente
Vingar meu próprio erro, acabar comigo mesmo
Dinheiro, drogas, armas, fama, os meus únicos desejos
Era os meus únicos desejos...

Como podes encontrar a paz?
Se tu és, mais um servo da guerra
Como irá mostrar o seu sorriso?
Se a luz que brilhava em ti, se transformou em trevas

Dois dias de liberdade segurei um ferro
Ganhava pai de família ainda achava certo
Voltei muito pior, eu nunca tive dó
No presídio apenas, me revoltei e só
Um chegado da antiga já foi enterrado
Outro já tem o seu velório reservado
Um paralisado, o outro encarcerado
Mais um na Uti próximo a ser finado
Mas, esqueci logo eles tiveram pouca sorte
Eu não sou otário e não temo a morte
Altos camaradas queria minha cabeça
Eu tava fugido dos "homi", a coisa tava preta
Atirei no bodão véi até que me dei bem
Ganhei muita moral e muita fama também
Já tinha dezenove, pensava igual aos quinze
Peito de aço, imortal, não subestime o mundo do crime
A minha morte pra muitos era motivo de festa
Ganhava os moleque da minha própria quebra
Sempre solitário, só eu e meu oitão
Pra ter como vingança véi jogaram meu irmão
Meu pai tava doente na cama do hospital
Cachaça demais, cirrose é fatal
Eu não tava nem aí ele nunca ligou pra mim
Fui criado nas ruas, foi até bom assim
Várias cicatrizes do meu corpo já demostra
A viagem sem volta, pergunta sem resposta
Eu não queria nem saber só queria me dar bem
Eu e minha vadia não quero saber de mais ninguém
Minha vida estava em risco já tinha alguém na cola
Meu ferro entupido pode vir a qualquer hora
Mas pela traição, não tem escapatória
Pode crer os camaradas me pegaram pelas costas
Ouvi o tiro, caí inconsciente
Em volta do meu corpo, eu via muita gente
Eu sentia, muita dor e agonia
Para alguns tristeza, pra outros alegria
E assim termina minha história sem sorriso
Abandonado, sofrendo, sozinho
Agonizando ensanguentado na calçada
A que se faz a que se paga

Compositor: Luiz Fernando Correia da Silva
ECAD: Obra #20541275 Fonograma #21945139

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