É moça de fino trato Já se vê pelo retrato Que em manhã de calmaria À beira do mar tirou E tem fita nos cabelos Nunca se viu um desmazelo Nunca se viu um desmazelo No seu manso dia-a-dia.
Mas tem um anjo que habita A rua por onde mora Com quem, aliás, ela sonha Com quem, aliás, ela dorme Com quem, aliás, ela falta Aos programas de domingo.
Você conhece Beltrano Também conhece Fulano E, aliás, com Sicrano Também dormiu de mau gosto Dormiu e fundo roncou De puro tédio e cansaço Mas que fama ela ganhou Pelo abraço que lhe deu Que tanta amofinação lhe valeu.
Mas o tal anjo que habita A sua mais funda memória É quem lhe dá o mormaço E o fio de sua história É quem lhe sustenta o sono mais fundo Que experimentou.
Sou o anjo que a dormi E colchas lhe preparei De linho e ponto de cruz Cheirando a patchuli Eu lhe falto alguns domingos E sou eu seus pesadelos E apesar dos pesadelos Ela se morre de mim.
E esses moços que espalham Que a dormiram, embalaram E povoaram seus sonhos Se iludiram, sonharam No que não se encararam Nem sabem que mentiram No que não se encararam Nem sabem que traíram.
Compositores: Herminio Bello de Carvalho, Euclides Vital Porto Lima (Vital Lima) ECAD: Obra #171580 Fonograma #884328