A seca que abate a gente tira a comida da mesa o sertanejo (nordestino) humilhado, não esconde sua tristeza: finca a enxada no chão e, naquele poeirão, sobe um mundo de incerteza.
O sertanejo resiste, forte como um pau-pereira clamoroso é ao que se assiste nesta nação brasileira, onde uns têm tudo farto, mulheres morrem de parto nos braços de uma parteira.
Na seca a politicagem dos coronéis faz parada homens aqui são tratados como se fossem boiada. Triste sertão de "caboclo", onde um voto vale pouco, onde a vida vale nada.
Passa a seca vem a chuva e nada de melhorar, porque o governo nega semente pra semear, e o latifundiário, pra aumentar o calvário nega terra pra plantar.
Desrespeita-se a velhice abandona-se a infância as escolas desmoronam por injúria ou traficância, do saber poucos se apossam e as criancinhas engrossam o Exército da ignorância.
Terra que produz de tudo - do feijão ao babaçu - teu povo é escravizado no açoite do couro cru; come restos de ração, bebe a lama do porão, não tem roupa - anda nu.
Semblantes desfigurados, corpos esqueléticos nus, enquanto nutrem a esperança num milagre de Jesus, disputam pelas estradas brutos já mortos, ossadas, com bandos de urubus.
Asfora falou um dia dos seios sem leite, murchos das veias brancas, sem sangue, que nem algodão - capuchos -, enquanto reina a alarvia da elite que um dia terá de perder os luxos.
Compositores: Wilson Oliveira Aragao (Wilson Aragao), Miguel Lucena Filho (Guel) ECAD: Obra #1316605