Belmonte e Amaraí

Ferreirinha

Belmonte e Amaraí


Eu tinha um companheiro
Por nome de Ferreirinha
Nós lidava com boiada
Desde nós dois rapaizinho

Fomos buscar um boi brabo
No campo do Espraiadinho
Era vinte e oito quilômetro
Da cidade de Pardinho

Nós chegamos no tal campo
Cada um seguiu pra um lado
Ferreirinha foi num potro
Redomão muito cismado

Já era de tardezinha
Eu já estava bem cansado
Não encontrava o Ferreirinha
E nem o tal boi arribado

Naquilo avistei o potro
Que vinha vindo assustado
Sem arreio e sem ninguém
Fui vê o que tinha se dado

Encontrei o Ferreirinha
Numa restinga deitado
Tinha caído do potro
E andou pro campo arrastado

Quando avistei Ferreirinha
Meu coração se desfez
Eu rolei do meu cavalo
Com tamanha rapidez

Chamava ele pro nome
Chamei duas ou três vez
E notei que estava morto
Pela sua palidez

Pra deixar meu companheiro
É coisa que eu não fazia
Deixar naquele deserto
Certo alguma onça comia

Estava ali só eu e ele
Deus em nossa companhia
Veio muitos pensamento
Mas só um que resolvia

Pra levar meu companheiro
Veja o quanto eu padeci
Amarrei ele pro peito
E numa árvore suspendi

Cheguei meu cavalo embaixo
E na garupa desci
E com o cabo do cabresto
Eu amarrei ele ne mim

Saí pra aquelas estradas
Tão triste e tão amolado
Era o frio de mês de junho
Seu corpo estava gelado

Já era uma meia-noite
Quando eu cheguei no povoado
Deixei na porta da igreja
E fui chamar o delegado

A morte deste rapaz
Mais do que eu ninguém sentiu
Deixei de lidar com gado
Minha inclinação sumiu

Quando lembro esta passagem
Franqueza me dá arrepio
Parece que a friagem
Das costas ainda não saiu

Compositor: Adauto Ezequiel (Carreirinho)
ECAD: Obra #30737 Fonograma #260658

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