Chico Buarque
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Opereta do Moribundo

Chico Buarque


I Funeral de rico

Rico quando vai
Desta vida, sempre vai de mau humor
Ir deitado de casaca é um terror
Abafado e morto de calor
Aturar a marcha fúnebre

Só de imaginar
Que os amigos vão deitar nos seus sofás
Vão tomar os seus vermutes, os seus cristais
E as suas mulheres principais
Já na beira do seu túmulo

- Gente, quanta gente
Que excelente funeral
- Ficas bem de preto
E o cabelo ao natural
- Dizem que o eminente
Triplicou seu capital
- Vai sobrar para gente
Que nem viu ele vivo
- Tem até donativo
Para as obras do hospital

II Enterro de pobre

Pobre quando vai
Sempre dizem que ele vai para uma melhor
Vai olhando aquela gente a seu redor
Todos com poeira e com suor
E ele achando a coisa ótima

Só de imaginar
Que os amigos vão pagar o seu caixão
O barbeiro, o aluguel do rabecão
O vinho do padre, o sacristão
E o sermão na igreja gótica

- Gente, não tem gente
Tem parente pobre só
- Esse teu modelo
Mais parece um dominó
- Nem o indigente
Quis herdar seu paletó
- Vai sobrar para a gente
Que nem viu ele vivo
- Tem até um passivo
No caderno do Jacó



1986 © - Marola Edições Musicais Ltda.
Compositores: Eduardo de Goes Lobo (Edu Lobo) (ABRAMUS), Francisco Buarque de Hollanda (Chico Buarque) (UBC)Editores: Lobo Music Producoes Artisticas Ltda. (ABRAMUS), Marola Edicoes (UBC)ECAD verificado obra #39610 em 11/Abr/2024 com dados da UBEM

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