Bom Gustavo tô bem feliz Vejo que evoluímos bastante desde o começo das nossas sessões Você vem conseguindo falar ainda que de traumas e ódios Mais está desabafando muito bem se expressando Me diga qual é a sua primeira memória de um diálogo com a sua própria família Na tentativa de ter essas respostas que você tanto busca?
Eu confesso que eu ainda não encontrei essas respostas que eu tanto busco, tá ligado? É tipo, eu lembro quando eu era pivete Eu atravessava com a minha mãe comigo no colo praticamente Eu tinha quatro anos de idade e a gente ia pro serviço dela Ela trampava de empregada doméstica num apartamento ali na Aclimação E a gente saia do fundo de Osasco do Munhoz Júnior, até a Aclimação Pegava dois ônibus, metrô, trem, até chegar lá E na volta eu fazia um monte de perguntas E eu lembro que um dia eu perguntei pra ela uma parada, eu perguntei assim "Mamãe por que que aonde a gente mora é de um jeito e aonde a senhora trabalha é de outro? " Por que aonde a gente mora a casa é de madeira? O banheiro é no quintal? Por que a gente não pode morar numa casa assim? "
Aí minha mãe respondeu "Porque a gente é pobre" Aí eu falei "e por que as casas no outro lugar é de um jeito? " E ela falou: "Porque eles são ricos" Aí eu falei: "Por que existe rico e pobre mãe? " Aí ela falou: "Porque o mundo é desigual" Aí eu falei: "E por que o mundo é desigual? " Aí ela falou "Isso você vai descobrir com o tempo"
Entendi Mas e o amor? Você fala pouco sobre o amor Me fala um pouco sobre esse seu campo da sua vida Suas últimas paixões, experiências, como que foi?