Coruja Bc1
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Interlúdio

Coruja Bc1


Bom Gustavo tô bem feliz
Vejo que evoluímos bastante desde o começo das nossas sessões
Você vem conseguindo falar ainda que de traumas e ódios
Mais está desabafando muito bem se expressando
Me diga qual é a sua primeira memória
de um diálogo com a sua própria família
Na tentativa de ter essas respostas que você tanto busca?

Eu confesso que eu ainda não encontrei
essas respostas que eu tanto busco, tá ligado?
É tipo, eu lembro quando eu era pivete
Eu atravessava com a minha mãe
comigo no colo praticamente
Eu tinha quatro anos de idade
e a gente ia pro serviço dela
Ela trampava de empregada doméstica
num apartamento ali na Aclimação
E a gente saia do fundo de Osasco
do Munhoz Júnior, até a Aclimação
Pegava dois ônibus, metrô, trem, até chegar lá
E na volta eu fazia um monte de perguntas
E eu lembro que um dia eu perguntei pra
ela uma parada, eu perguntei assim
"Mamãe por que que aonde a gente mora
é de um jeito e aonde a senhora trabalha
é de outro? "
Por que aonde a gente mora a casa é de madeira?
O banheiro é no quintal?
Por que a gente não pode morar numa casa assim? "

Aí minha mãe respondeu
"Porque a gente é pobre"
Aí eu falei "e por que as casas no outro lugar
é de um jeito? "
E ela falou: "Porque eles são ricos"
Aí eu falei: "Por que existe rico e pobre mãe? "
Aí ela falou: "Porque o mundo é desigual"
Aí eu falei: "E por que o mundo é desigual? "
Aí ela falou
"Isso você vai descobrir com o tempo"

Entendi
Mas e o amor?
Você fala pouco sobre o amor
Me fala um pouco sobre esse seu campo da sua vida
Suas últimas paixões, experiências, como que foi?

Foi mais ou menos assim

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