1978
# 9 faixas
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Assim como as flores, os poetas não escolhem lugar ou classe social para florescer. Nascido em família pobre, a 27 de janeiro de 1949, em Maceió (AL), Djavan poderia ter virado raiz, mas a música mudou seu destino e de uma flor-de-lis brotou uma carreira cuja floração já perdura por mais de 25 primaveras. Por sua originalidade e polinização de suas canções, a única coisa que se pode prever a cada novo trabalho de Djavan é sua versatilidade de tons.
Filho de mãe lavadeira, ainda garoto escutava-a cantarolar os sucessos de Ângela Maria e Nelson Gonçalves. Mas a música só veio a se revelar essencial para Djavan Caetano Viana na adolescência. O violão, aprendeu sozinho, olhando, ouvindo e acompanhando as cifras nas revistinhas do jornaleiro. Nesta época, ganhava a vida como meio-de-campo no CSA.
Aos 18 anos, formou o conjunto Luz, Som, Dimensão (LSD), que animava os bailes em clubes, praias e igrejas de Maceió. No ano seguinte, Djavan largou o futebol e passou a dedicar-se apenas à música. Foi dedilhando o violão que Djavan descobriu que podia compor. Os companheiros não o entendiam muito bem, achavam-no estranho, complexo. Mas Djavan teve logo uma certeza, que permanece verdadeira até hoje: gosta de cantar, mas precisa compor. Então, em 1973, decidiu tentar a sorte no Rio de Janeiro.
O começo, é claro, foi difícil, negro, nordestino, sem nenhum conhecimento na grande cidade, o que esperar? Das desilusões iniciais, aos poucos, desejo e sina se confundiram e foram lapidando seu sonho. Com a ajuda inestimável do radialista e conterrâneo Edson Mauro, que o apresentou a Adelzon Alves, que por sua vez o apresentou ao produtor da Som Livre João Mello, Djavan teve sua primeira oportunidade: gravar músicas de outros artistas para as novelas da TV Globo. São deste período “Alegre Menina” (Jorge Amado e Dorival Caymmi), da novela “Gabriela” e “Calmaria e Vendaval” (Toquinho e Vinícius de Moraes), incluída na trilha de “Fogo sobre Terra”. Para completar o salário, Djavan era rooner nas boates Number One (Ipanema) e 706 (Leblon). Assim, com o apoio de João Araújo (Presidente da Som Livre), Djavan pôdetrazer sua família (esposa e filha) para o Rio.
Mas ainda era preciso compor. A chance de mostrar seu talento como compositor aconteceu em 1975 com o Festival Abertura. Conquistando o segundo lugar, sua carreira tornou-se fato consumado, pelo menos a partir daí que o próprio Djavan considera seu início. “Fato Consumado” virou compacto e abriu as portas para uma nova fase em sua vida com a gravação de seu primeiro LP, em 1976. “A Voz, o violão e a arte de Djavan inscreveu “Flor de Lis” na posteridade.
No ano seguinte, Djavan assinou contrato com a EMI-Odeon, onde viria a gravar três álbuns: “Djavan” (1978), “Alumbramento” (1980) e “Seduzir” (1981). O primeiro nos deu “Serrado” e “Álibi” o segundo, “Meu bem querer” e “A Rosa”, com Chico Buarque; e o terceiro, “Seduzir” e “Faltando um pedaço”.
Artistas, público e crítica começam, então, a reconhecer o talento de Djavan como compositor. Nana Caymmi gravou “Dupla Traição”; Maria Bethânia, “Álibi” e Roberto Carlos, “A Ilha”. Gal Costa soma pontos com sua interpretação para “Açaí” e “Faltando um pedaço”; que tornaram-se as mais executadas em todo o país. Mas a maior homenagem veio de Caetano Veloso que, ao gravar “Sina”, retribuiu o verbo “caetanear” com “djavanear”. Suas músicas podiam ser ouvidas no rádio, em shows e em discos, e renderam-lhe o prêmio de melhor compositor por dois anos consecutivos (81 e 82) pela Associação Paulista dos Críticos de Arte.
Em 82, Djavan vai para a CBS (atual Sony Music) já na categoria de artista consagrado. Mesmo no hemisfério norte a “Luz” de Djavan ganhava intensidade. Gravado nos Estados Unidos, o álbum teve participação especial de Stevie Wonder na faixa “Samurai”, de instrumentistas como Ernie Watts e produção de Ronnie Foster. Outros destaques deste disco são “Sina”, “Pétala” e “Açaí”. A importância que Djavan assume na música brasileira pode ser medida através de seus shows, que passaram de teatros para ginásios e estúdios e da venda de seus discos que saltaram de 40 mil para 350 mil cópias.
Entre “Luz” e “Lilás”, Djavan dedicou cinco meses à carreira de ator, vivendo um poeta-mendigo que se apaixona pela moça rica (Patrícia Pilar) em “Para viver um grande amor” (1983), filme de Miguel Faria Jr. O resultado foi bastante satisfatório, mas sua personalidade exigente não o permitiria dar continuidade a algo que ficasse abaixo de suas próprias expectativas. Djavan tem grande interesse no cinema, mas prefere contribuir com o que faz de melhor: compor e cantar.
“Lilás”, faixa-título de seu álbum de 84, foi executada mais de 1.300 vezes nas rádios brasileiras, no dia de seu lançamento. Outro sucesso deste disco “Esquinas” composta em Los Angeles durante a gravação do disco. A carreira de Djavan está consolidada também nos EUA, graças aos inúmeros shows e reverências de artistas do quilate de Quincy Jones (editor de algumas de suas músicas do lado de lá do Equador). Em 85 lançada uma compilação do repertório de “Luz” e “Lilás” naquele país.
Quando todos pensavam saber o que viria a seguir, o álbum “Meu Lado” foi gravado inteiramente no Brasil e refletiu muitas outras facetas de Djavan. Nele, marcam presença a balada, o xote, o samba e a valsa, postos lado-a-lado e mesclados pelo suingue do cantor e compositor. Em 1987, Djavan volta aos estúdios americanos em “Não é azul mas é mar”, lançado lá fora com o título “Bird of Paradise”. No Brasil, América, Europa ou Japão, todos reconhecem a singularidade da obra de Djavan.
Se de início achavam que deveria mudar seu nome e que suas músicas eram muito complicadas, o nome curto - como o da maioria de suas músicas, aliás - traduz um pouco sua arte: simples, sem, entretanto, ser banal.
O popular e o sofisticado se misturam perfeitamente ao longo da carreira de Djavan. “Oceano”, música que impulsiona o artista de volta as paradas de sucesso do país, foi incluída na trilha sonora da novela "Top Model" trazendo o refinado violão flamenco de Paco de Lucia. O hit está em mais um álbum intitulado apenas “Djavan”, de 1989. Como curiosidade, este disco apresenta duas raridades no repertório de Djavan: “Corisco” (parceria com Gilberto Gil) e “Você bem sabe” (com Nelson Motta). O ato de compor é mesmo solitário para Djavan. Um de seus primeiros parceiros foi Aldir Blanc, mais tarde vieram Chico Buarque, Caetano Veloso, Orlando Moraes, Arthur Maia e Dominguinhos. Para Djavan, uma parceria não pode ser uma jogada comercial, é essencial que haja amizade, afetividade.
Quem tentar rotular Djavan é bem capaz de enlouquecer. Seu gênio criativo trabalha sem se preocupar com classificações. “Coisa de acender”, de 1992, é predominantemente marcado por fusões de ritmos e harmonias inovadoras que ninguém conseguiu qualificar até hoje. A única coisa que não muda a cada novo trabalho é sua poesia. Um bom exemplo é a canção “Se...”.
Assim como o anterior, “Novena” (94) foi bem recebido pelo público e pela crítica e mostra que Djavan aproveitou bem o intervalo entre um lançamento e outro. Neste trabalho, seu violão funciona como fio condutor. Com número reduzido de instrumentos, Djavan é básico e fundamental, assim como uma novena para um vilarejo.
O próximo disco é “Malásia”(96). Como o próprio nome sugere, Djavan abraça o mundo mais uma vez, passeando pelo bolero mexicano até o samba carioca, com escala na salsa cubana e incontornáveis baladas. Outra característica marcante que preserva desde o início de sua carreira é a opção por não privilegiar músicas de outros compositores. Este álbum, entretanto, registra três destes raros momentos: “Coração Leviano” de Paulinho da Viola; “Sorri” versão de Braguinha para “Smile”, de Chaplin; e “Correnteza”, de Tom Jobim e Luiz Bonfá. A primeira é uma homenagem certeira ao colega. A segunda fez parte da trilha da novela “Pacto de Sangue” - impossível de ser encontrada - e a terceira foi escalada para tema de Luana (Patrícia Pilar) em “Rei do Gado”. Não é que não goste das composições dos colegas. Se ele se identifica, grava sem problemas, como fez em “Gostoso Veneno”, em dueto com a amiga dos tempos de crooner Alcione, e em “Uma Brasileira”, com os Paralamas do Sucesso.
Em meados de 1997, Almir Chediak faz um inventário de sua obra. O songbook de Djavan é composto por dois livros com 98 músicas e três CDs com 47 canções interpretadas por mais de 60 artistas em gravações exclusivas.
Um disco “para cima”. Este era o objetivo de Djavan quando gravou “Bicho Solto - o XIII”. Se em “Malásia” o destaque ficava por conta dos metais e acento jazzístico, neste CD predomina uma levada funk, cheia de balanço, que botou todo mundo para dançar em seus shows com músicas como “Eu te devoro” e o rap “A Carta”, parceria com Gabriel, o Pensador.
Os 25 anos de carreira foram antecipados para 1999 com o lançamento do primeiro álbum do artista gravado fora de um estúdio. “Djavan ao vivo” é quase uma antologia de sua obra, com 24 faixas, sendo 22 sucessos inquestionáveis: “Flor de lis”, “Meu bem querer”, “Samurai”, “Faltando um pedaço”, “Seduzir”, e por aí vai. Porem, por acreditar que um disco deve trazer sempre algo novo, Djavan compôs as músicas “Acelerou” e “Um amor puro” especialmente para este CD. A primeira valeu-lhe o prêmio de melhor canção no primeiro Grammy Latino, em 2000. Mas, justiça seja feita, há muito a academia americana reconheceu - ainda que indiretamente - seu talento, premiando o grupo Manhattan Transfer, pelo álbum “Brazil” no qual cinco faixas são da lavra do alagoano.
Além de consoante com seu estado de espírito, o clima extrovertido deste dois últimos trabalhos é reflexo também da influência que músicos jovens trouxeram para estúdio e palco - a começar pela presença constante de seus filhos Flávia Virgínia (compondo e fazendo backing vocals) e Max Viana (guitarra). O caçula, João Thiago (baterista de Cássia Eller), deve juntar-se a eles já na gravação do próximo álbum de Djavan, que acontecerá no estúdio que montou em casa, com equipamentos analógicos e digitais de última geração. O artista revela que entre seus projetos futuros está a realização de um trabalho com seus três filhos (ainda vai demorar para que Sofia - com nascimento previsto para setembro / 2001 - possa integrar o grupo).
Como ídolo e figura pública, Djavan sabe bem a repercussão de seus atos e palavras e como tal não esconde sua postura política, atualmente apartidária mesmo que ainda seja simpatizante do PT. Ele confessa que, para ele, bom candidato é aquele cujo programa privilegie a educação, a saúde e a reforma agrária e que ele julgue ter condições de formar um congresso forte o suficiente para lhe garantir governabilidade. Como artista, faz o que lhe cabe e está a seu alcance dar alento a todas as camadas da população através de sua música, participar de shows e campanhas de fundo social.
Assim como a cada lançamento busca ter prazer e se divertir, Djavan acredita que teria sido um arquiteto no mínimo feliz. Talvez venha daí o segredo de seduzir pedras, catedrais ou corações. De qualquer maneira, para quem o escuta com atenção, Djavan já revelou seu sentido há muito tempo “Cantar é mover o dom do fundo de uma paixão...”
Fonte: Djavan.com.br