Edu Lobo
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Opereta do Moribundo

Edu Lobo


I Funeral de rico

Rico quando vai
Desta vida, sempre vai de mau humor
Ir deitado de casaca é um terror
Abafado e morto de calor
Aturar a marcha fúnebre

Só de imaginar
Que os amigos vão deitar nos seus sofás
Vão tomar os seus vermutes, os seus cristais
E as suas mulheres principais
Já na beira do seu túmulo

Gente, quanta gente
Que excelente funeral
Ficas bem de preto
E o cabelo ao natural
Dizem que o eminente
Triplicou seu capital
Vai sobrar para gente
Que nem viu ele vivo
Tem até donativo
Para as obras do hospital

II Enterro de pobre

Pobre quando vai
Sempre dizem que ele vai para uma melhor
Vai olhando aquela gente a seu redor
Todos com poeira e com suor
E ele achando a coisa ótima

Só de imaginar
Que os amigos vão pagar o seu caixão
O barbeiro, o aluguel do rabecão
O vinho do padre, o sacristão
E o sermão na igreja gótica

Gente, não tem gente
Tem parente pobre só
Esse teu modelo
Mais parece um dominó
Nem o indigente
Quis herdar seu paletó
Vai sobrar para a gente
Que nem viu ele vivo
Tem até um passivo
No caderno do Jacó

Compositores: Francisco Buarque de Hollanda (Chico Buarque), Eduardo de Goes Lobo (Edu Lobo)
ECAD: Obra #39610

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