Quem sabe se eu tivesse menos melanina Ou se eu fosse o exemplar da espécie canina Atenderia de a a z todos requisitos Pra ter no registro nome de pais adotivos A sete anos vegeto no depósito dos rejeitados Desde de que me encontraram dentro de um saco plástico Mesmo se alimentar balística com fan mais Fui condenado aos traumas do abandono de incapaz
Não to incluso nos dados sobre adotado pretendido O x é na cor branca e no cabelo liso Casal de boys não quer tá no restaurante jantando Com policia colando achando que é sequestro relâmpago De ir no shopping explicar pru segurança seguindo O menino negro ta comigo num é bandido, é meu filho No máximo eu consigo ser apadrinhado Por um doador que da pra ong alguns centavos Pru bebê loiro é adoção, direito à infância Pru negrinho colaborador mensal à distância O meu perfil afro só é da hora pra elite Em companhia da madonna ou do brad pit
Só sirvo pra ser anexado no projeto Que angaria verba pública no congresso Ninguém se importa se eu me cubro com farinha de trigo Tentando me clarear pra atender racista rico Eu me sinto produto descartável Dispensado no depósito dos rejeitados Esperando alguém pra chamar de pai Esperando alguém pra chamar de mãe! Pela eureca meu martírio tinha que ser temporário Não a porra de um vitalício calvário Em média em um ano um vira lata Deixa o instituto de zoonose, e ganha uma casa
A sociedade se preocupa com bem estar de cachorro Mas que se foda se o preterido aqui ta vivo ou morto Que se foda se ele ta nutrido, sente frio Se ta fazendo curso preparatório pra fuzil Cansei de ver as pajero se afastando do jardim Levando aqueles que chegaram bem depois de mim Talvez minha mãe era outra adolescente grávida Engrossando a estatística vergonhosa da pátria
Outra de libido sexual despertada pela televisão Que poê criança no pancadão descendo até o chão Pra deixar de ser um produto na gôndola empoeirando Já quis pular do telhado espatifar meu crânio É foda só saber o que é higiene, carinho, sorriso Quando o promotor de justiça visita o abrigo Pro alvará de funcionamento não ser cassado Nessa data dão banho, perfumam até dão afago
Que que adianta parede com desenho do momento Pra que o número da instituição de recolhimento Pra quem se igual ao michael não se diz pigmentar Nunca vai ta no carro no adesivo familiar Eu me sinto produto descartável Dispensado no depósito dos rejeitados Esperando alguém pra chamar de pai Esperando alguém pra chamar de mãe! Eu não vou ser outro menor carente brasileiro Que foi livrado da contenção por um casal estrangeiro Que com a vida estabilizada adulto retorna Pra conhecer e ouvir respostas da família biológica
Sou candidato a tá na cracolândia com a pele marcada Pelo selo de qualidade da fundação casa Quem não recebe sobrenome no rg Ganha artigos 1. 2. 1 no dcv Antes queria a família do comercial de margarina Agora quero vítima pondo sangue pelas narinas De tanto ouvir... -que lindo, mas prefiro o outro É só ver playboy que eu quero cerrar pescoço Mano A criança no reformatório prostituída É consequência das noites regadas à bebida A mina que depois de goza cê mete o pé no rabo Pode carregar no ventre o próximo desamparado Cê deu sorte se teve um pai pra te buscar na escola Pra te por no ombro, te ensinar jogar bola Uma mãe corrigindo sua lição de casa Medindo sua febre, ajudando na tabuada
Só sabe quem nunca teve uma família Que ela vale muito mais que mil mansões com mobílias Daria contente o meu último suspiro Se um dia ouvisse a frase... - 'eu te amo filho! ' Eu me sinto produto descartável Dispensado no depósito dos rejeitados Esperando alguém pra chamar de pai Esperando alguém pra chamar de mãe!
Compositor: Carlos Eduardo Taddeo (Eduardo) ECAD: Obra #11979095 Fonograma #10408484