Ta vendo aquele edifício, moço Ajudei a levantar Foi um tempo de aflição era quatro condução Duas pra ir, duas pra voltar Hoje depois dele pronto, olho pra cima e fico tonto Mas me chega um cidadão E me diz desconfiado: tu ta ai admirado ou ta querendo roubar? Meu domingo está perdido, vou pra casa entristecido, dá vontade beber E pra aumentar o meu tédio Eu nem posso olhar pro prédio que eu ajudei a fazer
Ta vendo aquele colégio moço Eu também trabalhei lá La eu quase me arrebento Fiz a massa, pus cimento, ajudei a rebocar Minha filha inocente, vem pra mim toda contente Pai, vou me matricular Mas me diz um cidadão: criança de pé no chão, aqui não pode estudar! Essa dor doeu mais forte, por que que eu deixei o Norte? eu me pus a me dizer Lá a seca castigava, mas o pouco que plantava tinha direito a comer
Tá vendo aquela igreja, moço Onde o Padre diz "Amém" Pus o sino e o badalo, enchi minha mão de calo La eu trabalhei também Lá sim valeu a pena Tem quermesse, tem novena E o Padre me deixa entrar Foi lá que Cristo me disse: "Meu rapaz deixe de tolice Não se deixe amedrontar Fui eu quem criou a terra, enchi o rio, fiz a serra Não deixei nada faltar Hoje o homem criou asas e na maioria das casas eu também não posso entrar!"
Compositor: Lucio Barbosa dos Santos (Lucio Barbosa) ECAD: Obra #813 Fonograma #28382