No rancho fundo, bem pra lá do fim do mundo Onde a dor e a saudade contam coisas da cidade; No rancho fundo, de olhar triste, profundo Um moreno canta as mágoas tenho os olhos rasos dágua.
Pobre moreno, que de tarde, no sereno Espera a lua no terreiro tendo um cigarro por companheiro; Sem um aceno, ele pega da viola e a lua, por esmola Vem pro quintal desse moreno.
No rancho fundo, bem pra lá do fim do mundo Nunca mais houve alegria, nem de noite, nem de dia; Os arvoredos já não contam mais segredos E a última palmeira já morreu na cordilheira.
Os passarinhos internaram-se nos ninhos, De tão triste, esta tristeza enche de trevas a natureza. Tudo por que? Só por causa do moreno Que era grande, hoje é pequeno para uma casa de sapé.
Se Deus soubesse da tristeza lá na serra Mandaria lá pra cima todo amor que há na Terra Porque o moreno vive louco de saudade Só por causa do veneno das mulheres da cidade.
Ele que era o cantor da primavera Que até fez do rancho fundo o céu maior que tem no mundo. O sol queimando, se uma flor lá desabrocha, A montanha vai gelando, lembrando o aroma da cabrocha.
Compositores: Lamartine de Azeredo Babo (Lamartine Babo), Ary Evangelista Barroso (Ary Barroso) ECAD: Obra #27677611 Fonograma #914332